quarta-feira, 31 de julho de 2013

O que motivam, de verdade, as manifestações recentes a que estamos assistindo?

Realmente curiosas as manifestações que têm tomado de assalto as cidades de São Paulo e Rio e ocupado as atenções da mídia nos últimos dias.
Curiosas pela motivação, antes de mais nada. Ao menos em minha opinião.
Em São Paulo, a manifestação em solidariedade e apoio à manifestação do Rio, contrária à permanência do governador daquele estado, Sérgio Cabral.
Significativo o fato de que o governador carioca foi reeleito, há menos de dois anos, com os votos de 2 de cada 3 cariocas, agora insatisfeitos.
O que mudou, nesse período de tempo, capaz de justificar tamanha mudança?
Digo, o que mudou, além da constatação de que, em tudo que vem acontecendo, nota-se a presença de uma imensa, enorme ignorância.
Afinal, entrevistada ontem e com imagens lançadas para todo o Brasil, pelo Jornal da Noite, na Band, uma manifestante alegou que estava na porta do prédio de residência de Cabral, para pressionar e exigir do governador que ele pedisse seu impeachment.
Note bem: não era para pressionar pelo pedido de renúncia. Era o pedido de impeachment.
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Na Folha, Jânio de Freitas ao se referir ao movimento em São Paulo, foi mais arguto, mais sagaz, mais irônico, acho eu, ao perceber que já seria uma conquista importante para o amadurecimento político caso, de fato, os manifestantes paulistas soubessem o nome ao menos do governador do Rio. Ou a maioria desses manifestantes.
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No Rio, os manifestantes prosseguiram tentando tirar pela força, o governador eleito pela esmagadora maioria de seus conterrâneos, pelo voto.
O que é estranho. Especialmente quando há atos de quebra-quebra envolvidos nas tais manifestações. Coisa que a imprensa vem classificando como atos de vandalismo, o que não deixam de ser. Atos de vândalos, o que tenho dúvidas...
Porque, não sendo ato de revolução popular contrária à ordem de coisas estabelecidas; não vendo condições minimamente objetivas para alimentar e dar suporte a uma revolução destinada a derrubar um regime ou, ainda mais forte, um modo de produção; em todas as letras, não sendo um movimento destinado à derrubada do governo capitalista do Brasil para a implantação de um regime comunista, que não contaria com o apoio imprescindível da maioria da população, então os atos vândalos, na verdade tratam-se de atos para criar e fazer germinar o caos. Quem sabe, para criar fatos políticos que permitam questionar a capacidade dos governos estabelecidos de assegurar a ordem pública.
Interessados em criar um ambiente de desordem propositadamente, ao final, restaria aos vândalos, comportados sem seus capuzes, puxarem o coro dos conservadores de todos os matizes, solicitando a intervençao dos militares...
Derrubariam, assim, pelo caos criado e pelo poder das armas, infelizmente com o apoio de partes da população, as conquistas democráticas, longa e duramente construídas.
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Porque convenhamos: pode-se acusar os governos peemedebistas, de Sarney e Itamar, o de Collor, o peessedebista de Fernando Henrique, ou os petistas de Lula e Dilma do que se desejar, a questão da corrupção à frente. Mas, não se poderá dizer que foram governos anti-democráticos. Pode-se acusá-los mesmo de serem governos medíocres, de práticas políticas menores e até deploráveis, mas nunca de não de acordo com o espírito democrático.
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Não conheço, nem tenho qualquer interesse em defender o governador Sérgio Cabral, ou o prefeito carioca Eduardo Paes. Nem tenho simpatias pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, de partido situado no oposto do espectro partidário em que se encontra o governador do Rio.
Mas, curiosamente, também em São Paulo, pelo que temos visto, os manifestantes começam a pedir a destituição de Alckmin, em movimentos que, sempre terminam em atos de vandalismo. Invasão e depredação, e não é de qualquer tipo de loja não, o que é outro fato curioso.
Arrombam, invadem e quebram bancos e concessionárias de automóveis. O que é bem simbólico, especialmente se quiserem fingir um interesse em promover uma revolução comunista, por exemplo, que bem sabemos ou desconfiamos que de comunista não teria nada. A não ser aproveitar o medo secular da população e conseguir o seu apoio para que os militares venham por fim à baderna, já que as autoridades constituídas não o conseguem.
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Diferente, pelo menos até aqui, pelo que tenho visto e percebido, são as manifestações em BH, que incluem uma pacífica invasão à Prefeitura, a ocupação da ante-sala do Prefeito, e um acampamento sui-generis no asfalto da Avenida mais central que corta a capital mineira, a Afonso Pena.
Ali, parece, o motivo é a questão de habitação popular, e ainda as ações não descambaram para a violência gratuita.
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Entretanto, embora ache tudo esquisito, devemos estar alertas. Antes que o ambiente, tal qual em 64 possa se  deteriorar e os fatos sairem  de controle,fazendo com que a ditadura volte a nos assombrar e cair em nosso colo, quem sabe para mais quantos antos anos de trevas e atraso.
Tomara que eu esteja errado, mas desconfio que há muitas viúvas da ditadura militar, à solta em torno dessas manifestações.

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