terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A morte de Santiago e uma pergunta quanto aos propósitos das manifestações de rua

 A morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, por mais sentida que seja e mais estúpida, não pode deixar que nos esqueçamos de outras mortes que ocorreram por ocasião das manifestações iniciadas em junho do ano passado, além de outras situações de agressão gratuita, algumas das quais, inclusive, contra profissionais da própria imprensa.
Apenas por ocasião das manifestações do ano passado, aqui em Belo Horizonte, houve a morte de um rapaz que caiu do viaduto tomado pelos manifestantes e cercados pela polícia, que tentava impedir o avanço dos manifestantes em direção ao Mineirão. Tudo em respeito aos limites de segurança da Copa das Confederações, impostos pelos critérios da Fifa.
Tudo bem. Embora seja compreensível a comoção trazida pela morte de agora de um jornalista, homem de imprensa, um trabalhador sério que se encontrava no estrito cumprimento de seu dever profissional, pai de família, marido exemplar e excelente colega, por duas vezes premiado no exercício de sua atividade profissional, em uma demonstração e reconhecimento a seu talento, é preciso não perder de vista o fato de que, independente de qualquer que fosse a motivação para sua  presença no local dos conflitos, o rapaz que se viu prensado no viaduto de BH do qual acabou saltando, era também um ser humano, jovem, com planos e sonhos e também deixa uma família enlutada.
Claro, há uma questão de fundo, de princípios que é o fato de Santiago estar trabalhando em prol da liberdade de informação, da liberdade de imprensa, da liberdade até mesmo das manifestações acontecerem de forma livre e democrática.
Quanto ao outro jovem, ou jovens (mais de um caso de óbito foi noticiado, que eu me lembre), os motivos poderiam não ser tão nobres. E, poderia eles mesmos serem os responsáveis pela violência e agressões que culminaram atingindo-os.
Independente disso, o fato é que houve perdas vidas preciosas. Sempre preciosas, conforme a lógica do brilhante texto de John Donne, que abria a edição do texto de Por Quem os Sinos Dobram, que tive a oportunidade de ler e que dizia:
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
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Santiago, elogiado por tantos quanto com ele tiveram a oportunidade, o prazer e a honra de conviver, ficará na memória e deverá cumprir, mesmo depois de morto, mais um papel relevante, como ocorre com todos que são grandes.
Por que, para que sua perda não seja em vão, é mais que necessário que a sociedade discuta e estabeleça normas e punições para aqueles que, manifestando-se livremente por seus direitos,  ultrapassam o limite do direito dos outros cidadãos. E transformam-se de cidadãos em vândalos. Meros bandidos, dignos do peso e das consequências do rigor da legislação.
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E, infelizmente, é preciso lembrar nessa hora que se Santiago foi o que pagou com a morte pela irresponsabilidade de pessoas que nem têm a coragem, a hombridade de mostrarem o rosto, escondidos que estão atrás de máscaras, houve outros casos de agressões, como os tiros de borracha que cegaram outro repórter que cobria os conflitos de rua em junho passado. Outra jovem, também da imprensa que também foi alvo da atitude de despreparo demonstrada também por aqueles que deveriam ser os responsáveis pela segurança e tranquilidade urbana.

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Também não devemos nos esquecer, para além do fato de todos sermos a favor  da liberdade de manifestação e opinião, de que é preciso nos debruçarmos sobre os verdadeiros motivos subjacentes aos movimentos de rua que surgiram em nosso país. 
Até aqui, nesse instante, movimentos que não demonstram muita consistência, mesmo que em suas origens a motivação apresentada de protesto contra o aumento do preço das passagens do péssimo serviço de transporte público, ou de protesto contra a realização e gastos para efetuados para a Copa do Mundo - tudo sob o comando, a determinação, o padrão Fifa, numa demonstração de como, inclusive nossa soberania pode ser negociada por alguns trocados, fossem mais que justos. Louváveis.

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Mas é bom sempre lembrarmos que por trás da Copa e da ideia de sua realização, pesaram interesses nem um pouco populares, vinculados a uma série de obras e "realizações" que permitiriam a tomada de assalto dos cofres públicos, orquestrada e estimulada pelos donos do poder e do dinheiro.

Um comentário:

Paulo disse...

O grande motivo das manifestações não esta claro para os mais velhos, estes que estão la, tomando decisões. Esse movimento composto por jovens e que não tem uma direção clara mostra não o pedido, a solicitação clara e direta de algo mas sim o incomodo social, assim como uma criança que esta triste ou um cachorro doente, não e claro mas algo deve ser feito. Ótimo texto como sempre. Abs