quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A renúncia de Eduardo Azeredo: golpe ou decepção?

Conheci Eduardo Azeredo quando foi indicado pelo governador Tancredo Neves para ocupar a presidência da Cia. de Processamento de Dados de Minas Gerais - Prodemge, em 1983.
Oriundo da IBM, era considerado um jovem de perfil técnico, talhado para a posição que iria ocupar. De quebra, dava a oportunidade a Tancredo de prestar uma homenagem a seu amigo do antigo PSD mineiro, o deputado Renato Azeredo.
Em minha condição de assessor da presidência daquela empresa, guardo de nosso contato a impressão de Eduardo como um homem sério, bem intencionado, algo ingênuo e inadaptado ao cargo e ao papel político que deveria passar a representar dali em diante.
Requisitado pelo Secretário Ronaldo Costa Couto, e cedido para ir desempenhar funções na Superintendência de Estatística e Informações da Secretaria de Planejamento, nossos caminhos só voltariam a se encontrar de forma esporádica, Eduardo já na condição de vice-prefeito ou na condição de Prefeito de nossa capital.
Em todos esses contatos, minha impressão inicial a seu respeito e em relação a suas intenções não sofreu qualquer abalo. Eduardo continuava sendo um cidadão simples, não me transmitindo em nenhum momento a sensação de que o poder tivesse subido a sua cabeça ou promovido alterações em seu comportamento ou em sua personalidade.
Daquela época, lembro-me de um encontro com meu colega de Seplan, o professor da UFMG Leon Menache, na varanda do restaurante do Minas I. Leon atuava então na campanha eleitoral de Eduardo, talvez para prefeito, e lembro-me de ter se referido sempre de forma elogiosa a Eduardo, embora o considerasse um candidato muito difícil de ser "carregado", exatamente por sua postura muito pouco avessa ao perfil de um político tradicional, demagogo.
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Não tornei a estar com ele depois de ter se tornado governador por Minas, e apenas nos encontramos em alguns eventos de colação de grau de forma ligeira, depois de ele ter sido eleito senador.
Lembro-me de ter críticas a sua gestão como governador de nosso Estado, em especial por ter se cercado de políticos ou assessores como Cláudio Mourão ou Walfrido Mares Guia, que integravam seu círculo mais íntimo de colaboradores, ambos não merecedores de minha confiança, em razão da posição que ocupavam.
Não por acaso, ambos indiciados no escândalo do chamado mensalão mineiro, e ambos livres de prestarem contas à sociedade, por contarem com o benefício da prescrição em função da idade.
Mas, nunca me esqueci de Leon comentando de como Eduardo era ético, especialmente em relação à questões de arrecadação de fundos de campanha.
Sinal de que, como me ensinaram os antigos, as amizades podem levar alguém a mudar seu comportamento.
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Entretanto, não creio que Azeredo, prestes a ser julgado pelo Supremo pelo apelidado mensalinho, tenha apresentado sua carta de renúncia ao mandato que exercia de Deputado junto à Câmara Federal, apenas com a intenção de protelar qualquer julgamento, valendo-se da possibilidade de desaforamento de sua causa, já que agora já não protegido pelo foro especial.
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Creio mais que Eduardo tomou a decisão em respeito e solidariedade a seus colegas de partido, especialmente a Aécio Neves, neto de quem abriu as portas para sua entrada na carreira política que o levou até o governo de Minas, visando não se transformar em um estorvo à sua campanha rumo ao Planalto.
Creio que Azeredo  pode ter tomado a decisão de apresentar sua renúncia não apenas para manter seu comportamento de bom soldado, como sempre foi, mas até por ter se sentido decepcionado, abandonado que foi por seus amigos e colegas de partido, que o deixaram cada vez mais isolados e cujas vozes não se fizeram ecoar, em sua defesa. Ou ao menos não na intensidade que ele julgava merecer, por ter sido tão leal e companheiro.

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