O nome é Rachel Sheherazade. O que faz é ser âncora do SBT. Infelizmente, tem espaço para manifestar suas opiniões tanto na midia televisiva, quanto na impressa, embora nessa última seja compreensível o dito espaço.
Afinal, ela teve a coragem de mostrar sua face e, representando milhares, talvez milhões de outras pessoas, ditas de bem, cidadãos pacatos e ordeiros, aprovou a ação daqueles que, já desesperançados e desiludidos com a capacidade dos aparatos de segurança do Estado proporcionarem a paz pública e a tranquilidade, resolveram adotar a famosa lei de Talião, do olho p, or olho, sancionando assim a volta ao estado de barbárie.
Mas é bom que se deixe bem claro que Rachel, independente da simpatia que sua opção possa nos causar, ou asco, não é uma voz isolada. E representa - e fala- o que uma grande maioria silenciosa pensa.
Isso é o que posso perceber de minha pouca e limitada experiência, em sala de aula, ao ouvir comentários de alunos, para quem o bandido bom é o bandido morto. Aqueles que, consideram a pena de morte como uma opção plausível e viável para estancar a violência urbana e dar uma basta nessa situação de impunidade que parece avançar em nosso país.
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Pois bem. Ao defender e apoiar medidas de violência como a que aprisionou, com a utilização de uma tranca de bicicleta, um jovem nu a um ponto de ônibus no Rio, a repórter aprovou também a ação da justiça pelas próprias mãos, alegando em sua defesa o cansaço da população que acredita na ordem e outros valores como a defesa intransigente da vida e do respeito aos direitos fundamentais de todo ser humano.
Claro, a contradição fica evidente, o que apenas deveria motivar uma reflexão mais profunda de todos nós. Afinal, vivemos mesmo um sistema de contradições, onde o ser humano é colocado a reboque e a serviço dos interesses de um conceito abstrato, uma relação de produção ou um modo de produção, que explora a grande maioria, em prol da produção de riqueza que destina-se cada vez mais a uma minoria .
Daí que vem toda a contradição de serem os que produzem a riqueza, justo aqueles que menos acesso e oportunidades têm de acesso a ela, e aos bens e serviços que a representam.
Daí a trágica constatação de nossa realidade repartida, diferenciada, a nossa sensação de existência de mundos distintos, um onde tudo é permitido, outro em que apenas o flagelo e castigo
são assegurados.
Um mundo em que divisões de classes constituem em realidades visíveis, e dão sinais cada vez mais intensos de estarem se aprofundando e de estarem cada vez mais, levados a extremos, despertando e fomentando preconceitos e discriminação.
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Não fosse o rapaz um pequeno marginal, negro, pobre, morador de rua, o que vergonhosamente torna até justificável o ato de o aprisionar. Ou de pouco depois outro rapaz, com as mesmas características - pobre, preto, jovem, pequeno marginal ser mantido prisioneiro, amarrado, sentado em um passeio público, à espera da chegada de dois rapazes em uma moto, um dos quais armado e disposto a executar o infeliz já aprisionado e sem poder reagir.
Como disse a senhora que chamou o apoio policial em favor do adolescente marginal, aquele rapaz estava ali, trancafiado, à espera de que chegassem os justiceiros que iriam cumprir sua pena.
E, curioso, por sua ação, chamando a polícia ou os bombeiros e salvando uma vida, a senhora foi atacada, ameaçada, etc.
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E ainda tem gente em nossa sociedade que não sabe explicar o que ocorre em Pedrinhas, o presídio no Maranhão em que os presos, agindo com a mesma motivação dos cidadãos de bem aqui das ruas do Rio, apelaram para julgamentos sumários, condenações, e execuções. Não raro com decapitações, para dar maior realismo à imagem de que cabeças irão rolar.
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E nós protegemos e nos preocupamos, acertadamente, com a saúde de pequenos animais como os usados em testes de laboratório.
E não somos capazes de lidarmos e protegermos a nossa própria espécie.
Ou tudo isso é apenas o reconhecimento de que nós somos mesmo e tão somente um bando de animais selvagens da pior espécie.
Ou que definitivamente, a raça humana é uma raça que não deu certo.
Um comentário:
Genial! Ponto de vista muito bem feito com relação a quem produz riqueza e quem, no final, lança mao dela. Pior que isso sao as senhoras de bom coracao que me reprimem ao matar uma barata na rua com os dizeres "Tadinha, e so um bixinho".
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