Um recesso rápido, para ter tempo de colocar as coisas no lugar, nesse início de semestre letivo e.... estamos de volta. Com a promessa de maior constância, agora que estamos com mais tempo disponível durante o dia.
Entretanto, ainda estamos vivendo um período de adaptação à nova vida, de aposentado do Banco Central, onde vivemos experiências e emoções significativas e que ficarão marcadas para todo o sempre.
Mas, voltando aos pitacos, algumas observações rápidas. Primeiro sobre o caso que vem chamando a atenção de todo o país, e até do exterior, da tragédia que envolveu a família de policiais militares em São Paulo.
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E começo dizendo que, embora sempre tenha sido contrário à facilitação do acesso à posse de armas pela população, por acreditar que a liberação dessa posse seria uma das principais causas de vários acidentes e situações que poderiam terminar de forma desastrosa, não acho nada anormal que, no caso de uma família de policiais, mais que acesso facilitado, os filhos fossem treinados no manuseio dessas armas .
Afinal, ciente de ataques vários feitos por organizações criminosas de toda espécie e origem aos policiais militares, seria uma medida de segurança dos próprios filhos e familiares, ensiná-los a se defenderem, no caso da eventualidade de um ataque.
Como se sabe, a existência da arma causa, muitas vezes, acidentes com consequências funestas, em função do desconhecimento e da falta de experiência em sua manipulação. Logo, ensinar aos filhos, que por dever de ofício do pai ou pais teriam acesso e contato constante com as armas, a melhor maneira de lidar com elas, seria plenamente justificável e até prudente.
Por outro lado, a possibilidade de toda a família e de sua residência ser vítima de uma ataque de criminosos, em minha opinião também seria motivo suficiente para ensinar os filhos, a partir de certa idade e da verificação de os filhos demonstrarem certo grau de discernimento e maturidade, a se defenderem, treinando-os para atirarem.
Creio que isso se encaixaria plenamente à noção de se permitir aos filhos a sua legítima defesa. E até a defesa de entes queridos.
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O mesmo raciocínio serve para justificar a preocupação desses pais em ensinar aos filhos como, no caso de uma necessidade ou urgência - caso de um ataque, por exemplo, ter condições de tentar alcançar um socorro médico, ou se deslocar até o hospital ou pronto-socorro mais próximo.
Afinal, quem nunca ouviu o comentário de que, um atendimento no momento oportuno poderia ter evitado um óbito?
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Mas, tudo isso que abordo acima, achando muito natural esses dois elementos presentes na chacina dos policiais militares de São Paulo, não me impede de uma constatação curiosa e de levantar uma questão, não sobre o crime em si, mas sobre as circunstância todas que o envolvem.
Trata-se de entender como uma família, descrita como tão unida e feliz pelos vizinhos, apresentando uma aparência de tanta normalidade independente do drama familiar expresso pela doença congênita do menino, onde o filho era tão apegado ao pai, seu herói, à avó, que ajudava a criá-lo desde novo, repito, como entender que esse adolescente acessasse sites da internet, sem que seus pais se preocupassem em verificar o conteúdo desses sites acessados.
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Ou seja: minha maior preocupação aqui, já que não sou nem da polícia civil encarregada da investigação, nem da perícia técnica, nem tenho a vocação mórbida para ficar escarafunchando detalhes ligados a situações de gosto tão duvidoso é, para além do caso em si, o que podemos extrair do caso.
E o que salta a meus olhos é algo trivial: não conhecemos ninguém, de fato. Nem a nós mesmos. E nem àqueles com que convivemos, sejam parceiros, cônjuges, e até filhos ou amigos.
E esse desconhecimento ainda é ampliado pelo fato de que, por vários motivos, também não nos preocupamos em procurar aprofundar o nosso conhecimento sobre o que as pessoas que nos cercam fazem, o que as interessa, o que pensam, como encaram o mundo, quais seus sonhos, suas decepções...
No caso de pais, até entendo a necessidade de se dar maior liberdade para os filhos, para que eles possam aprender a viver por sua própria conta, uma vez que não somos eternos e os cuidados acabam tendo de ser encerrados em um momento. Especialmente, o momento que são os filhos que devem assumir as rédeas de sua própria vida, com todas as consequências daí advindas.
Mas, temos evitado de fazer isso. Em nome dessa liberdade que não se deseja invadir, vários pais se descuidam dos filhos e, sentindo-se sem função, passam a se dedicar, cada vez mais a si mesmos. Processo que, em minha opinião, Rosely Sayão, na Folha tem abordado com frequência.
Contudo, nosso tema aqui é outro: pais que não têm ideia de o que os filhos fazem, quando sentados à frente da telinha do computador. Com quem trocam mensagens, com quem se comunicam, o que falam, o que expressam, o que sentem.
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É no mínimo curioso que o jovem Marcelo - e não estou aqui querendo acusá-lo, num caso ainda com tantos detalhes desconhecidos e obscuros - tivesse trocado a sua foto no perfil do Facebook, por outra de um assassino profissional, mesmo que de ficção, ou virtual.
É também curioso que tivesse pesquisado situações tão bizarras como a de chacinas familiares, como agora descoberto e constatado em seu computador. Ou que tivesse feito pesquisas, no mínimo estranhas sobre como ou que substâncias usar para proceder à atos de dopagem.
Nem vou me referir a conversas com amigos, ou convites para fugirem de casa depois de matarem os pais, porque essas conversas eu as considero como meras "viagens", coisas completamente inconcebíveis, à primeira vista, mas que em alguns momentos os jovens protagonizam, até como forma de chamarem a atenção.
Mas, vá la. Caso tais conversas fossem avante, chegando ao conhecimento de pais ou professores, o que acho que também não aconteceria, normalmente, e caso se juntasse as peças do quebra-cabeças que estava ainda sendo armado, juntando essa informação à outras das consultas via internet, provavelmente o que se suspeita que aconteceu poderia ter sido evitado.
Ou não: já que, na verdade, estamos todos atônitos e tentando buscar explicações para o que não tem mais solução.
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