De um lado, inflação. De outro lado, elevação do déficit das contas externas, expresso no resultado negativo das contas de transações correntes do país. Somado a isso, um crescimento pífio da economia e uma política econômica alvo de cada vez maiores críticas pelo apoio à setores selecionados da indústria brasileira, aqueles setores - e empresas, consideradas campeãs nacionais.
Por trás de todos os problemas, como bem demonstrado pelo professor Luiz Carlos Bresser Pereira, como bem demonstrado em sua coluna de ontem para a Folha de São Paulo, a questão do câmbio. Ou melhor: a supervalorização do câmbio, que o professor atribui a duas causas principais: a uma política deliberada para promover a elevação do valor do real, em parte decorrente da atração de somas cada vez mais vultosas de dólares, a chamada poupança externa, com o objetivo de se manter a inflação sob controle; por outro lado, o professor insiste na tese da hipótese da reprodução do fenômeno, em nosso pais, da doença holandesa.
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É bom recordar que por doença holandesa, entende-se a situação daquele país cujas exportações de produtos naturais ou bens primários é tão elevada e em níveis tão significativos, que possibilita a entrada de montantes vultosos de moeda estrangeira, em geral o dólar, o que acaba por promover a apreciação da moeda doméstica.
Com a moeda nacional valorizada e o dólar em baixa, a economia passaria a expandir suas importações, já que produtos externos, com preços em dólares estariam relativamente mais baratos que os nacionais.
O efeito desse comportamento seria um sucateamento da indústria doméstica que, com preços elevados em razão do valor da moeda, acabaria perdendo competitividade, vendas resultando no fenômeno da desindustrialização.
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O professor Bresser, que já há algum tempo vem criticando a manutenção da apreciação intencional do real, considera estar ocorrendo no nosso país o fenômeno da doença holandesa, mesmo com o declínio de nossas exportações de produtos primários, minério de ferro, por exemplo, para a China e outros grandes compradores.
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Entretanto o professor não considera que a depreciação do dólar teve início no período em que o PSDB ocupava o governo, no início do lançamento e consolidação do Plano Real, quando FHC era o mandatário maior do país e ele, Bresser, ocupava a função de ministro do governo.
Afinal, foi a âncora cambial, ou seja, a depreciação da moeda americana uma das principais medidas que permitiram, aproveitando a enorme liquidez internacional que havia no período, manter a inflação sob controle e, portanto, razão do êxito do plano de estabilização brasileiro.
E, é bom que se lembre, todo esse processo contando com o apoio da política monetária de juros elevados, exatamente para incentivar o influxo de capitais para financiamento de nossa economia.
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O plano Real teve sucesso na interrupção da escalada de preços, o dólar ficou depreciado muito tempo e o Brasil atraiu um montante de poupança externa significativo, situação que não se interrompeu nem quando Lula tornou-se presidente do país em 2003, já que a política de juros elevados, atração de dólares e apreciação do real continuou sendo adotada mesmo pelo petista.
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Importante é notar que, do ponto de vista da estabilidade, também contribuiu muito para o sucesso das políticas implementadas a abertura comercial patrocinada pelo governo, seja de forma intencional, para permitir o aumento da concorrência com produtos e produtores brasileiros, eliminando a força e o poder de mercado e a capacidade de impor preços desses empresários, seja como a contrapartida para atender aos às exigências de agências e órgãos internacionais ou dos investidores dos capitais que para cá se dirigiam.
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Pois bem, a lógica do Real desde sempre passou pela apreciação do real e elevação das importações, com ampliação do déficit em contas correntes, o que gerou a crise cambial do início de 99, que quase pôs todo o sacrifício feito pelo plano a perder.
Lembre-se que o pior não aconteceu, especialmente por força de o governo ter alterado seus instrumentos de política, passando a adotar o câmbio flutuante.
A mesma lógica continuou a prevalecer com Lula em seu primeiro mandato, e seu ministro da Fazenda, o médico Antônio Palocci, que viria a se consagrar como o maior defensor dos interesses do capital financeiro no governo petista. Razão que é sempre reverenciado pelos setores empresariais, até os dias de hoje.
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Mas, ao adotar essa lógica de juros altos, atração de poupança externa, sinal da confiança que os capitais internacionais manifestavam na estabilidade e crescimento da economia brasileira, os resultados obtidos de forma resumida podem ser apontados como:
- balança comercial fortemente superavitária por força da elevação dos preços de minério de ferro e pela expansão descomunal de nossas exportações de produtos primários, especialmente destinados à China, naquele instante apresentando taxas espetaculares de crescimento da produção.
Essa balança comercial positiva, resultado não da elevação das exportações físicas necessariamente, mas por força da elevação dos preços dos produtos exportados por nosso país, mais que compensava a elevação de nossas importações, tanto de bens de consumo, quanto e principalmente de peças, partes, componentes, matérias primas, bens e insumos intermediários, e máquinas e equipamentos.
Além disso, reduzia o impacto das contas de transferências onde despontavam os gastos com remessas de lucros e juros, e o impacto das contas de serviços, com gastos de viagens internacionais, entre outros.
Ou seja: o déficit de contas correntes não cresceu de forma explosiva, por força da elevação de nossas exportações de produtos primários, o que levou o professor Bresser e outros economistas a identificarem o problema da doença holandesa.
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Com juros elevados, para atrair capitais externos, ocorreu uma desvalorização do dólar que, permitindo baratear os custos dos produtos estrangeiros, levou a nossa indústria a importar seus insumos, mais baratos, que dar preferência a comprá-los nas suas cadeias de fornecedores tradicionais. O resultado foi o sucateamento de grande parte das cadeias de fornecedores, o que nos levou, nesse mesmo blog, a comentar que, no futuro, caso o dólar se valorizasse, teríamos dois problemas sérios a enfrentar: a elevação dos custos de produção, e a questão do endividamento externo.
Não foram poucas as vezes que o IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, chamou a atenção para o fato de nossa indústria estar sendo sucateada, enquanto se ampliava cada vez mais a dependência de fornecimento de insumos estrangeiros.
Configurava-se assim, o temor de nossa economia encontrar-se às voltas com o mesmo resultado da doença holandesa: a desindustrialização.
Com isso, a indústria deixou de apresentar o crescimento dela esperado e derrubando com ela as taxas de crescimento da economia como um todo.
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Com uma política de juros elevados as decisões empresariais que em termos microeconômicos recomendavam exatamente a troca do fornecedor nacional pelo externo, cujo produto era mais barato, ainda tiveram outra consequência, também lastreada na teoria e no comportamento racional apontado para os agentes econômicos, do ponto de vista microeconômico: tornou-se mais rentável aplicar o capital em aplicações financeiras, que em inversões produtivas.
De um lado, essa maior rentabilidade assegurada aos papéis do mercado financeiro, essa geração de riqueza fictícia implicava em maior endividamento do governo, ou seja, o aumento da dívida mobiliária interna, já que na base da política de juros elevados, estava a taxa básica da economia, aquela que remunera aos títulos de menor risco, os títulos públicos: a SELIC.
Ou seja, quanto mais ganhavam os aplicadores, mais aumentava a dívida pública interna, com o pagamento de juros crescendo a taxas maiores que a capacidade do governo de geração de superavits primários.
Por outro lado, a economia brasileira não investia e, como consequência suas taxas de crescimento patinavam em valores bem abaixo de outras economias parceiras e até economias vizinhas.
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Depois da crise de 2007/2008, da recessão experimentada por nossa economia em 2009 e das políticas de sustentação da demanda, de corte keynesiano (vulgar!) adotadas em 2010, responsáveis por nosso crescimento de mais de 7%, mudaram as condições que nos cercam.
Mais recentemente, entre essas mudanças percebe-se um movimento, que não afeta apenas a nosso país, de valorização do dólar.
Com isso, e por força de nossas novas cadeias de fornecedores cujos preços são expressos em dólares, eleva-se o custo de nossa produção e a inflação começa a mostrar sinais de crescimento. Nada que não esteja sob controle, mas o suficiente para a mídia aproveitar para criar o caos, junto aos analistas do mercado financeiro, sempre dispostos a tudo para que o governo eleve, cada vez mais os juros.
Esse efeito da valorização do dólar provoca, então, dois problemas de uma só vez: a elevação de custos e preços, ou inflação; a elevação do valor de nossas importações. Some-se a isso o fato de que, em função da recessão mundial, com destaque para os problemas vividos pela zona do euro, também a China e outros países clientes reduziram suas compras, o que afeta nossas exportações.
A consequência é o surgimento de déficits comerciais o que agrava a elevação dos déficits em conta corrente.
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Sem a indústria poder crescer, já que seus custos se elevam, a economia patina e, mesmo com o apoio do BNDES, os campeões nacionais não deslancham. E a economia emperra e cresce pouco.
E a expectativa de novos pibinhos permanece.
Por fim, a elevação de juros para contenção do fenômeno da alta de preços, cuja origem não está vinculada direta e imediatamente à elevação da demanda interna, acaba dificultando ainda mais a decisão empresarial de cunho macroeconômico de investir produtivamente (vender para quem, se a demanda está sendo contida? Investir por que, se o retorno previsto é baixo e inferior ao que os juros no mercado financeiro podem proporcionar?)
Mas é bom lembrar, esse juro alto alimenta a expansão da dívida do governo, em momento em que a população está nas ruas, cobrando melhorias em uma série de serviços públicos, o que implica em elevação de alguns gastos e redução do superávit primário.
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Em síntese: a economia não cresce, a inflação recrudesce ( na verdade, não é isso, mas eu me vi tentado a fazer a rima), a dívida interna se eleva e a situação fiscal do país se agrava, e a indústria patina, enquanto nossa dependência do exterior vai se configurando cada vez mais.
E tudo isso por força da questão bem lembrada pelo Professor Bresser: o câmbio e a política cambial que vem sendo adotada em nosso país.
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