Embora já definidos os preços dos ingressos em reais, é inegável que para sua definição foi considerado o preço dos ingressos em dólar. Claro que, à época, o dólar ainda não estava no patamar que se encontra na atualidade, rompendo o patamar dos R$ 2,40.
O que significa que os interessados na compra dos ingressos, ao menos em relação à questão do câmbio, estão obtendo algum ganho.
E isso tem de ser comemorado, uma vez que o preço dos ingressos pode ser considerado bem salgado.
É certo que trata-se de um evento único, uma Copa do Mundo. Com a presença das melhores seleções de todo o planeta, etc. etc.
Ainda assim, o preço dos ingressos pode ser considerado bastante elevado, mesmo com a Fifa afirmando ter feito concessões especiais ao definir tais valores para nosso país.
E em minha opinião, em relação à essa questão do preço dos ingressos, nem é exatamente a Copa do Mundo que merece nossa atenção.
Pior, muito pior, é o preço dos ingressos que estão sendo praticados para jogos do nosso Campeonato Brasileiro, que estão gerando um verdadeiro processo de elitização de nosso futebol. Logo ele, o esporte mais popular de nosso país.
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Aliás, esse fenômeno de elitização já vem, na verdade, se desenrolando há muito tempo. Desde quando a especulação imobiliária nos grandes centros urbanos e suas proximidades levou, paulatinamente, ao desaparecimento dos campos de várzea, dos campos de terra batida, em que gerações e gerações de atletas foram forjadas.
O mesmo motivo do avanço do processo de urbanização e suas consequências, levou ao desaparecimento das peladas de rua, nos bairros mais tranquilos próximos ao centro, em que a meninada marcava os gols com tijolos e passava as tardes de fim de semana disputando peladas, interrompidas quando em vez pela passagem de um carro qualquer.
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E o processo de elitização teve sequência com a disparada dos preços dos ingressos, percebido especialmente em função da remodelação e reforma ou reconstrução de novos estádios, mais confortáveis visando a Copa do Mundo, todos transformados de estádios em arenas, e em conformidade com o famoso padrão FIFA.
Padrão tão elevado para níveis brasileiros, que foi elevado à condição de paradigma ou lema de vários outros tipos de serviços, como pode ser visto nas manifestações de rua ocorridas em junho, em meio à realização da Copa das Confederações, que reivindicavam um padrão Fifa também para a Saúde, a Educação, a Segurança.
Ora, nada contra o brasileiro ter direito e acesso a serviços de qualidade, até mesmo em se tratando de conforto nos estádios de futebol.
Mas, em função das tais arenas modernas houve uma disparada dos preços das partidas de futebol, que chamaram a atenção para a tal elitização.
Indistintamente, sem fazer qualquer diferença entre a partida e os times envolvidos, o preço dos ingressos têm sido objeto de comentários e críticas.
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Assim, em programa de televisão na noite de ontem, jornalistas comentavam do absurdo que é cobrar para um jogo entre Atlético e Portuguesa - no próximo domingo, dia 25 aqui em BH, o mesmo valor que se cobra por um Atlético e Botafogo, por exemplo, ou seja R$ 70,00.
Confesso que não tenho ideia dos preços corretos dos jogos, acreditando que os valores sejam aproximadamente esses citados, talvez mais próximos aos 60 reais, para o ingresso em pior local do campo.
E, considerando-se que, em média, o preço dos ingressos, assim como o preços dos cinemas girava em torno dos 10% do valor do salário mínimo, que encontra-se hoje fixado nos R$ 678 reais, chegamos à conclusão de que o valor de 60 ou 70 reais não é tão fora de propósito, como a gente pensa.
Então, porque essa impressão de que o preço está exorbitante e afastando os torcedores mais simples e de nível de renda mais baixo dos estádios e de sua grande paixão?
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Tenho várias hipóteses para tal sentimento. A primeira delas, ligada ao fato de que há nos dias de hoje um número muito maior de campeonatos e partidas, que acabam obrigando os times a jogarem às quartas e domingos, o que significa que os torcedores têm que desembolsar, por semana, um valor de R$ 120 a R$ 140 reais, o que é, sem nenhuma dúvida um sacrifício que não dá para suportar.
Afinal, mesmo com a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos campos, se somarmos o preço dos ingressos ao preço do transporte e de um ou outro lanche ou mero copo d'água, a conta fica proibitiva, o que se agrava se se trata de um pai de família desejoso de ir com seu filho ao campo.
Também contribui com o processo de esvaziamento dos campos a fixação de horários para os jogos, muito menos preocupados - os horários - com o público e até mesmo com o que é melhor para a prática do exercício físico e muito mais voltado para as preocupações da grade de programação da televisão. Para ser mais exato da tevê Globo, monopolista das transmissões, e que não demonstra qualquer respeito aos problemas dos torcedores que têm de se levantar cedo no dia seguinte, o que significa sacrifícios à própria saúde caso queiram comparecer ao campo para apoiar seu time do coração.
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O desrespeito torna-se tão sério que, por força de sua grade de horários, assistimos agora à marcação de partidas de futebol, no meio da semana, para o horário das 19:30 horas, exatamente no horário de rush ou seja quando o trânsito está mais caótico, com milhões de trabalhadores deixando seus trabalhos e literalmente desesperados para poderem acessar suas residências, para um justo e merecido descanso.
Ora, nesse momento de trânsito naturalmente caótico, por força do horário de interesse da Globo, ainda se obriga milhares de torcedores a enfrentarem esse caos, para irem ver seu time jogar. Milhares de torcedores que trabalham até as 18 horas, em geral, e que não têm qualquer alternativa, salvo a de enfrentarem o trânsito caótico.
A questão chega a um absurdo tal que, a título de exemplo, a inteligências da tal Globo e da CBF foram capazes de marcarem um jogo do Atlético contra o Bahia para o tal horário das 19: 30, em plena véspera de um feriado que, por força de decretação de ponto facultativo por parte do governador do Estado, anunciava-se como um feriadão prolongado, momento em que muitos aproveitam para ganhar as estradas, abandonando a correria dos centros urbanos.
Que o trânsito não fluía e que, por conta disso, a partida começou com grande parte dos lugares da arena completamente vazios é apenas mais um detalhe que mostra o desrespeito ao torcedor-consumidor do espetáculo futebolístico.
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Já é chegada a hora, inclusive, de o Ministério Público, ou os órgãos de defesa dos direitos do consumidor e do torcedor se manifestarem no sentido de impedirem que o desrespeito prossiga de forma impune.
Bem, no dia seguinte, em São Paulo, para a partida do São Paulo contra o Atlético Paranaense, o mesmo fenômeno de estádio completamente vazio e torcedores presos em pleno engarrafamento voltou a se repetir.
E os repórteres comentando do estádio vazio, imputando tal fato ao péssimo futebol e ao mau humor da torcida do clube paulistano.
A culpa da tevê ninguém comenta, por óbvio. E o futebol é quem perde com isso. O futebol e o público.
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A única desculpa não aceitável é aquela que responsabiliza o padrão mais sofisticado cobrado pela Fifa, pela fuga dos torcedores.
Porque operários ou não, pobres ou não, letrados ou não, a verdade é que todos merecem indistintamente um tratamento adequado, de conforto e respeito humano.
E todos merecem assistirem ao seu time de forma a poderem estar presentes, torcerem e terem um mínimo de conforto, como banheiros limpos, água nos bebedouros, bares higiênicos, salgados de melhor espécie e assentos numerados e direito de virem o jogo assentados, ou em pé, mas com a opção de como acompanharem o jogo sendo somente sua.
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