quarta-feira, 21 de maio de 2014

Copa, manifestações, nada de novo no horizonte e o ócio brasileiro

Valho-me do caderno Mercado da Folha de São Paulo de hoje, 21 de maio,  para descrever a sensação que me domina faltando praticamente 3 semanas para o início da Copa do Mundo e que lembra mais a retração que, informam os especialistas, antecede a um tsunami ou a maremotos.
A imagem não é boa, seguramente, e preocupante. Afinal, ninguém em sã consciência pode saber e afirmar qualquer coisa em relação às manifestações que se anunciam para o período da realização do evento.
Uma coisa, é certa: vai haver Copa, independente e apesar da roubalheira, da corrupção, da falta de planejamento, de mais uma vez ter sido necessário desviar recursos públicos de outras finalidades mais importantes em prol do povo, para que o país pudesse atender a  um mínimo das condições impostas pela FIFA para a realização do torneio.
Curioso, como não deveria ser de se estranhar, é o fato de que a imprensa não faz o seu papel investigativo, informativo, analítico, que implicaria, a meu juízo, em confrontar as promessas e planos que embalaram a candidatura vitoriosa do país à sediar o evento, e onde pontificava o compromisso de as obras necessárias serem feitas com recursos privados, com o pouco entusiasmo, para não dizer nenhum, dos empresários tupiniquins.
Ao contrário, enquanto livra a cara de seus amigos empresários, parceiros, companheiros e financiadores, a imprensa apenas sabe dar destaque aos vultosos gastos públicos despendidos na construção, sempre com problemas e atrasos, da infraestrutura mínima para a realização da competição.
Tudo bem. O papel que a imprensa e a midia de forma geral desempenha em nosso país por várias vezes já foi objeto de nossas queixas, já que descumpre o seu principal objetivo, como beneficiário de uma concessão de serviço público, para privilegiar apenas os interesses particulares, e algumas vezes, até escusos, de seus proprietários: os concessionários.
Abre mão de fazer o que é seu papel: servir ao público, o que implicaria dar informação de forma mais isenta e ampla, para atender a seus objetivos próprios. 
E ainda reclama de qualquer discussão ou proposta de criação de controles SOCIAIS sobre seu funcionamento e sobre o enriquecimento e favorecimento de seus donos. 
A isso, chama CENSURA.
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Mas, voltando ao tema de nosso pitaco, Alexandre Schwartsman, economista, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, e colunista da Folha às quartas feiras, tecendo comentários sobre como é fácil a redação de uma coluna quando a gestão econômica do governo é de qualidade que ele considera tão duvidosa, decide tratar das declarações contraditórias de destacados ministros do governo Dilma.
Assunto requentado, uma vez que as declarações foram feitas na semana passada, com o ministro Mantega, da Fazenda, negando que o governo estivesse administrando ou controlando preços de forma a segurar a inflação, estratégia admitida como política de governo pelo ministro Mercadante, da Casa Civil.
Sinal de que a economia está em compasso de espera, como de resto toda a sociedade, creio eu, e que está faltando assunto para a manutenção de uma coluna semanal. Ou seja, o articulista vende como paraíso o que tem constituído, na verdade, seu inferno: a falta de novidades a comentar.
E nem mesmo é original no enfoque, apenas repetindo que, por força de estarmos já em  período eleitoral, o governo prefere não adotar as medidas corretivas amargas recomendadas por sua cartilha, que sempre privilegia o aumento do desemprego, como alternativa à política econômica que por provocar maior e melhor distribuição de salários, acaba tendo impactos sobre os índices de preços. Especialmente se a essa política, que não denominamos de distribuição de renda, mas tão somente de salários, se juntam fatores como a seca que tem provocado além da ameaça de problemas de fornecimento de energia, a frustração de culturas de alimentos e até mesmo do simples e trivial fornecimento de água - no governo não petista de São Paulo.
Bem, quanto à questão da energia, sempre a questão do represamento das tarifas terão prioridade na explicação de qualquer crise, aos olhos de nosso analista de mercado, cujo olhar privilegia sempre os andares mais elevados de nossa pirâmide social. 
E, curiosamente, em sua coluna ele não aborda que Mantega também declarou que a inflação estaria apresentando um arrefecimento, e que não iria superar o limite da meta, como a realidade está mostrando.
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Vale observar que isso não significa que os preços não estejam mesmo sendo administrados e com prejuízos, entre outras, da Petrobrás, ou das distribuidoras de energia. Apenas que, no caso da energia, a ideia do governo, que agora se mostra equivocada foi a de atender aos empresários que reclamavam das tarifas elevadas cobradas pelo serviço, e que não corresponderam quando tiveram atendidas suas reivindicações. 
No mais, como afirmou Jânio de Freitas, em coluna na semana passada, que governo não agiu de forma semelhante, no passado?
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Outro articulista, Vinícius Torres Freire comenta em sua coluna que a economia está esfriando aos poucos, mas que não há crise, na visão de empresários com quem manteve contato. Entretanto, todos falam de um clima ruim, de um ambiente que não inspira confiança.
Literalmente, " é raro ouvir de alguém que a empresa ou o setor deles vai demitir em breve.... A dúvida é saber o quanto dura essa situação. O salário está alto, apareceu estoque de novo...
Os indicadores econômicos do ano confirmam o esfriamento do clima, em ritmo no entanto lento e gradual, na média dos setores: alguma estagnação do emprego..., setor de serviços esfriando..... Mas o desemprego é baixo e o consumo de varejo cresce a 4,5%. O ambiente, porém, não está bom."
É ou não é a antevéspera do tsunami?
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Por sorte nossa, na mesma página da coluna de Vinícius, reportagem com Domenico de Masi tenta levantar nossa auto-estima. Afinal, para o sociólogo, o brasileiro herdou do índio o senso de ócio. E isso é a melhor imagem, mesmo que não aceita de nossas melhores qualidades. O que leva a Folha a bradar em manchete, Viva o Ócio brasileiro. 
O ócio criativo, longe da ideia de produtivismo e eficiência que o sociólogo atribui aos americanos e aos economistas.
Longe do que é a cultura do "manager" espalhada pela visão de mundo dos americanos pelo mundo. E que o italiano renega, elogiando o brasileiro e seu espírito criativo.
Afinal, herdamos o senso de ócio. "Felizmente. (já  que) O trabalho manual deve ser visto como algo negativo. Pensar é melhor."
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OK, mas que está esquisito, isso está.

Um comentário:

PATY disse...
Este comentário foi removido pelo autor.