quarta-feira, 7 de maio de 2014

Homenagem à mãe FABIANE, na semana do dia das mães

Que tipo de homenagens deve merecer de nossa parte, a jovem Fabiane Maria de Jesus, mulher de 33 anos, mãe de dois filhos estúpida e selvagemente morta por linchamento nessa proximidade do dia das Mães de 2014? Vítima do que poderia ser denominado de uma tragédia de erros que apenas ilustram o grau de barbárie a que a sociedade está sendo conduzida, especialmente como consequência de manifestações como a de Rachel Sheherazade no Jornal do SBT, de certa forma aprovando que a população tome a justiça em suas próprias mãos e passe a punir e aplicar castigos após ritos sumários de julgamento?
Antes de mais nada, faz-se necessário deixar claro que a referência à jornalista não significa, em nenhum momento, qualquer participação dela no ato violento e irracional que culminou com a trágica perda, nem mesmo como inspiração.
Afinal, é justo que reconheçamos que ela mesma deve estar condenando, como agora todos estamos, esse tipo de comportamento, em que a população resolve tomar a justiça nas próprias mãos, aplicando a lei de Talião, do olho por olho, dente por dente e, inflamada, apenas dando vazão aos mais primitivos instintos animais que carregamos conosco.
Mas, é importante citar a repórter do SBT até para mostrar como todos nós devemos ter um cuidado muito maior com o conteúdo das opiniões que emitimos, e uma responsabilidade muito maior em relação à forma, local e alcance de nossas opiniões, mesmo que elas sejam expressão de nossos pensamentos mais íntimos.
Afinal, transformar-se em porta-voz de uma parcela da população que acredita que "bandido bom é o bandido morto", que "vagabundo tem mesmo é que morrer", que critica a todos que exigem a aplicação de direitos e de respeitos humanos aos criminosos "passando a mão na cabeça de marginais", como foi o caso da repórter do SBT, mas também é o comportamento que pode ser perigosamente identificado com aquele de Datena no seu programa policial, ou outros apresentadores de programas semelhantes, merece de todos nós, no mínimo, uma repulsa veemente.
E não porque levou à morte, nesse caso, de uma inocente. Ou porque, invariavelmente, essa postura que exige a implantação da pena de morte para os crimes mais violentos, ou a redução da maioridade penal, etc. serve apenas para permitir que a sociedade venha a dar vazão a um dos piores sentimentos que somos capazes de cultivar, e que além disso, é um dos piores conselheiros para nossas horas de aflição, que é a VINGANÇA.
Pois bem. Em outras oportunidades, aqui nesse espaço, postamos críticas à adoção da pena de morte, citando casos de condenação, por engano, de inocentes, como um caso recente de um americano, inocentado depois de passar praticamente toda sua vida no corredor da morte.
Também temos combatido a redução da maioridade penal, de forma ampla e geral, já que nesse caso, em nossa opinião o comportamento correto deveria ser, para qualquer idade, a comprovação de que o autor do ato violento era capaz de avaliar, em toda sua extensão, as consequências de seu ato.
Por isso somos radicalmente contrário aos justiceiros e às milícias, que acreditamos serem e agirem de forma tão criminosa como as quadrilhas que pretendem combater.
E há exemplos sem número, aqui em nosso país, das consequências nefastas que grupos dispostos a substituírem o Estado na aplicação de punições podem gerar, desde o massacre da Candelária, até o do Carandiru, ou os massacres que a cada fim de semana se reproduzem nas periferias das grandes metrópoles.
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Agora foi Fabiane. Capturada, julgada, condenada por uma turba que apenas a confundiu com uma mulher cuja fisionomia apresentada em um retrato falado nem mesmo deveria  ter sido publicado na rede social em que foi postado, já que tratava-se de um retrato falado, sujeito a equívocos ; de uma mulher apenas suspeita, sem qualquer evidência de ser a autora verdadeira;  de crimes ligados a sequestro de crianças para a prática de magia negra, no Rio de Janeiro, bastante distante do litoral paulista em que aconteceu a selvageria.
Condenada, Fabiane foi executada ali mesmo na rua. Quando voltava da igreja, portando uma bíblia. O que apenas serviu para alimentar e reforçar a suspeita de que ela agia por motivos religiosos, de cunho macabro.
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Que Fabiane descanse em paz. Que suas filhas, nesse dia das Mães possam ter o conforto que a ela não foi dado em sua execução.
E que a sociedade possa tirar lições do episódio.
Talvez essa seja a homenagem que podemos prestar à jovem: não deixar que sua execução violenta seja em vão.




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