Não era surpresa para ninguém e todos os agentes do mercado já contavam com a interrupção da política de elevação da taxa de juros básica da economia, a taxa Selic, que vinha sendo praticada pelo COPOM desde abril do ano passado.
Primeiro porque a inflação vem apresentando sinais de arrefecimento, embora as previsões feitas pelas consultorias de mercado continuem sinalizando que o índice deve terminar o ano próximo de limite do intervalo de 6,5% admitido no sistema de metas.
Segundo porque há um reconhecimento de que existe uma certa defasagem temporal entre o instante da tomada da decisão pelo colegiado de diretores do Banco Central e o período necessário para que a decisão conclua todo o seu efeito, o que pode levar algum tempo.
Dessa forma, ainda se espera que a elevação da taxa Selic para o patamar de 11% possa levar mais algum tempo para manifestar todos seus resultados, o que torna uma nova elevação, nesse momento, pouco prudente.
Não apenas os índices de preços vêm dando sinais de estarem se desacelerando, como alguns outros indicadores vêm dando sinais de que a economia emite sinais de estar reagindo à política do governo, reduzindo seu ritmo de atividade.
Nesse sentido, uma nova elevação dos juros a ser decretada pelo COPOM poderia dar início a um processo que, além da queda de preços mais veloz, poderia dar origem à uma queda da produção, em momento em que algumas indústrias como a automobilística já apresentam redução de vendas e pátios cheios de estoques, além de interrupção da queda recorde da taxa de desemprego no país.
Em seu comunicado, além de informar ter sido a decisão adotada por unanimidade e sem viés, o Banco Central revela que irá prosseguir monitorando a atividade econômica, de forma a manter o controle dos preços, sem afetar negativamente o nível da atividade econômica.
***
Quanto às reações provocadas junto à indústria, embora órgãos representantes dos setores produtivos estejam comemorando a interrupção da política de elevação dos juros, alegando que o ônus do combate à inflação não deve ficar apenas sob sua responsabilidade, algumas declarações cobram do governo mais rigor no controle de sua política fiscal, lembrando que, apesar do extenso período de elevação da Selic, que subiu mais de 50% no período de pouco mais de um ano, a inflação ainda apresenta uma resistência à queda.
Reclamam ainda da manutenção de taxas de juros excessivamente elevadas e descoladas da realidade econômica do país, caracterizada por crescimento econômico em desaceleração e anêmico, o que os leva a responsabilizar o governo por deixar escapar mais uma oportunidade de estimular o crescimento econômico.
***
Por outro lado, notícias advindas do Planalto indicam que a presidenta Dilma procura aproveitar a política de juros adotada por seu Banco Central, de forma a poder reverter sua imagem junto ao mercado de ser leniente com a inflação.
Nesse sentido, embora seja contrária à manutenção de uma política de taxas de juros elevada, que dificulta o crescimento econômico, vai procurar vender a ideia de que seu governo não poupa esforços para manter a inflação controlada.
Tal ação de marketing é sem dúvida, interessante para calar a boca dos críticos que a acusavam de abandonar um dos principais pilares do tripé de política econômica que encontrou ao chegar ao poder, a que se soma a política de austeridade fiscal e geração de superávits primários, e a política de câmbio flexível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário