Cada cabeça, uma sentença. Com uma pequena alteração, pode-se dizer também que cada cabeça, uma versão.
Refiro-me ao caso de Fernandinho, o jogador contratado por empréstimo pelo Galo, para vir ocupar o lugar de Bernard.
Sem ter tido seus direitos econômicos adquiridos pelo Atlético, de forma definitiva, Fernandinho estava cumprindo os últimos dias de seu empréstimo.
Examinando sua passagem pelo Galo podemos identificar duas fases, bem distintas. Na primeira, logo após sua chegada, impressionou à massa com uma disposição e vigor físico, aliados a um futebol de qualidade, ágil, veloz, driblador, a ponto de fazer a torcida não ter oportunidade para ficar se lamentando da perda de seu ídolo de alegria nas pernas.
Depois de ganhar a confiança da massa, e à medida que ia se aproximando a disputa do mundial de clubes em Marrocos, seu futebol foi se tornando mais econômico, com sua velocidade e participação em prol da equipe dando lugar a um individualismo muitas vezes prejudicial. Da mesma forma que ia revelando sua pouca disposição de jogar para a equipe, começou a demonstrar também uma certa inaptidão para vir ajudar a fechar o meio campo, tornando-se o responsável pelo primeiro combate e ajudando o lateral na marcação do ataque adversário.
Depois do jogo contra o Cruzeiro, pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro no ano passado, quando fez uma jogada espetacular, que culminou com o gol que permitiu o Atlético sair com a vitória de um a zero, não voltou mais a apresentar as características que o fizeram cair nas graças da torcida.
Passada a campanha vexatória do Marrocos, e as férias, não voltou mais a apresentar o futebol vistoso de antes. Na verdade, parou de jogar, o que pode ter sido também afetado pela contusão que sofreu e que o tirou do time por algum tempo.
Sua postura em campo deu origem a críticas cada vez mais contundentes, e o comentário de que não teria seu empréstimo prorrogado foi ganhando corpo.
Pesava para tanto, o valor de R$ 3 milhões que o Galo teria que dispor para obter a renovação.
Com a chegada de Levir Culpi, Fernandinho até voltou a apresentar uma disposição maior em campo, atuando com o mesmo espírito dos primeiros tempos, embora mantendo as suas características, como o individualismo, que vinham sendo alvo de críticas.
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Agora, iniciado o campeonato brasileiro, e completadas as seis primeiras partidas que ainda permitiriam que ele pudesse trocar de time aqui no país, o presidente do Galo anuncia que ele se recusou a viajar acompanhando a delegação e a envergar o manto alvinegro.
Dessa forma, Kalil anunciou ter suspendido seu contrato e rompido o vínculo do atleta com o Galo.
Por seu turno, Fernandinho alega que sua recusa em viajar foi fruto de um acordo com a direção do Atlético, para não vir a prejudicá-lo, no caso de o clube não querer permanecer contando com sua presença.
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Independente da versão correta, há que se entender que, desejando não retornar a seu compromisso com o time que mantém seus direitos econômicos, e na expectativa de poder ficar no Brasil, jogando por outra equipe, já que o Atlético não deu sinais de estar disposto a pagar por sua permanência,é compreensível que Fernandinho não se dispusesse a entrar em campo cumprindo a sétima partida, e impedindo qualquer possibilidade de continuar disputando o campeonato, depois da Copa do Mundo.
Desse ponto de vista, e levando em conta a situação do jogador, do ser humano, desejoso de poder continuar trabalhando em seu país é, no mínimo compreensível que ele negociasse com o clube, solicitando para não ter de entrar em campo.
E, se não fosse entrar em campo, manda a lógica que nem precisasse representar uma despesa para o clube, não tendo que viajar.
Mas, isso é a visão do ponto de vista do jogador, do homem.
Não é e nem seria de se esperar o contrário, a visão do torcedor apaixonado, para quem o jogador manifestou o desamor pelo Galo.
Passional como é, o torcedor não aceitaria nunca esse tipo de comportamento, o que significa que Fernandinho fechou definitivamente as portas do clube para si.
Que o maior mandatário do clube e que alguns comentaristas esportivos venham a adotar o mesmo comportamento, alimentando e reforçando a reação da torcida contra o jogador é que acho no mínimo uma insensatez.
Menos do presidente, que já deu demonstrações inequívocas de ser mais apaixonado e, como tal irracional em suas reações e suas atividades, que aquilo que o cargo pode lhe permitir adotar.
Mas alguns comentaristas têm adotado uma postura que só não é de causar estranheza por que todos concordam com o fato de que existem cronistas, comentaristas e repórteres esportivos que causam um desserviço à atividade a que se dedicam e, principalmente ao esporte.
Para não dizer que é muito fácil falar generalizando e que em todo lugar há profissionais muito ruins e outros muito bons. E até para ser justo, para não dizer que o comentarista ou comentaristas a que me refiro adotem esse comportamento de forma geral, e não manifestaram nesse caso uma antipatia que já nutriam por Fernandinho, estou me referindo especificamente ao responsável pelo programa de esportes que se intitula BH Sports, aquele mesmo que trata com casca e tudo aos seus convidados, caso suas opiniões não sejam as mesmas do apresentador.
Mas insisto, isso não significa que Afonso Alberto seja um comentarista mal intencionado. Apenas que, no caso Fernandinho, acredito que ele deveria adotar uma postura mais comedida.
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E, como postou Kalil, no Twitter, que Fernandinho siga sua carreira e tenha sucesso. Té logo e bença.
O assunto entretanto, dá margem para que se levante uma outra discussão, que apenas vou encaminhar nesse espaço, sem desenvover.
Falo da situação de jogadores que, não sendo considerados úteis para o time, por seu técnico ou pela comissão técnica ou diretoria, são disponibilizados por empréstimos para outras equipes.
Ora, se não são considerados aptos a envergarem a camisa do time, a ponto de serem colocados à disposição, qual a razão que leva os times a impedirem que esse jogador renegado entre em campo e venha a jogar contra seu time de origem?
Seria medo de que o jogador dispensado e dispensável pudesse provar em campo que tinha sim, qualidades para estar no outro lado do campo?
Parece-me que essa é uma situação que mereceria tratamento pelo pessoal dos programas especializados. Afinal, trata-se de uma limitação ao exercício da profissão pelo jogador que, na verdade, não deu origem a tal situação. E que pode estar sendo uma vítima, especialmente se for torcedor de coração do time de origem.
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