quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A farsa de Aécio e a interpretação inocente do jornalista. Debate na Band contra candidatos com ficha questionável e o que está por trás de 39 ministérios

A frase é bastante surrada, mas é a mais adequada ao momento e, principalmente, ao comentário feito pelo jornalista Carlos Lindenberg, no Jornal da Itatiaia dessa fria quinta feira, 7 de agosto: "Me engana que eu gosto!"
Porque ou o jornalista é mal intencionado, ou muito inocente, provavelmente, nem uma coisa nem outra, antes uma mistura delas.
Isso porque, em seu comentário tratando da presença e do discurso proferido ontem, no Senado Federal, pelo candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, ficamos sabendo que o senador mineiro resolveu não solicitar licença de seu mandato, durante o período em que estará em campanha pelo país. Entretanto, demonstrando amplo respeito pela Casa, e para não parecer um oportunista, um aproveitador ou um senador relapso com suas obrigações, a primeira das quais, se fazer presente no Senado, o menino do Rio afirmou que irá abrir mão de sua remuneração pelo período que antecede as eleições.
Foi além, afirmando que embora estará em campanha pelo país, pretende manter seu mandato para poder, quando e se necessário, poder usar a tribuna para, como líder que é da oposição, apresentar as ideias, , propostas, e críticas que o partido julgar pertinentes.
Por óbvio não mencionou a importância da manutenção de seu gabinete, de sua equipe de assessores, e de todas as benesses que o cargo lhe assegura, para o desenrolar de sua campanha.
***
Bem, e com que comentário nos brinda o insigne jornalista mineiro? Que tudo não passou de criação de um mero factoide por parte do Senador por Minas. Que em linhas gerais, nada muda, ficando tudo na mesma, já que agindo como prometeu agir, Aécio poderá discursar da tribuna, quando julgar oportuno e estiver na Capital Federal, podendo sempre responder às acusações de não estar presente, alegando estar em campanha. Ao que poderá acrescentar o fato de que não está desperdiçando recursos do Legislativo.
Ok. O senador venceu! E convenceu ao jornalista. E, parafraseando o grande Machado, "ao vencedor, as batatas". Na frase depois modernizada pela Blitz e Evandro Mesquita, "batatas fritas!".
***
Porque que factoide sem qualquer importância maior é essa decisão de o senador poder continuar usando de suas prerrogativas e dos benefícios de seu cargo?
E quem garante que Aécio irá, de fato, devolver o valor de seus rendimentos, já que o próprio Senado já informou que, sem sua licença, continuará fazendo o depósito de seus 26 mil e poucos reais, religiosamente, como manda a lei?
E como acreditar que Aécio, em campanha e com as preocupações daí decorrentes, irá perder seu tempo para ir à Brasília, para poder então preencher um Darf, destinado a efetuar a devolução do valor indevido, ao Senado?
Quem irá fiscalizar se vai cumprir ou não sua promessa, destinada a ter o mesmo fim de tantas outras equivalentes, enquadrada como mais uma, de campanha?
Na verdade quem irá se lembrar dessa promessa dentro de algumas semanas? Seria o jornalista que defende nossos interesses, o bravo Lindenberg?
***
Claro que Lindenberg apenas serve para ilustrar, nesse espaço, qual é o tratamento dispensado aos políticos, por nossa imprensa, especialmente quando essa imprensa tem interesses e mantém laços com algum político ou candidato?
Porque, na verdade, não há nada de incorreto em um jornalista ter suas preferências e vir a público expô-las, acompanhada ou não de suas razões. Isso não apenas é salutar, mas democrático. E contribui para o jogo e o aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas.
Inconcebível é o jornalista não deixar claro sua posição, seu interesse, e passando por alguém imparcial, tecer comentários que podem induzir aos ouvintes eleitores.
Confesso que não assisto à maior parte dos comentários de Lindenberg, nem na rádio, nem na edição mineira do Jornal da Band. E não sei, portanto, se ele declarou voto em alguém.
Mas desconhecer que a manutenção do mandato nesse momento pode trazer vantagens que ultrapassam a questão da remuneração, é no mínimo uma falha inaceitável em profissional que ocupa tal posição.
***
Mas não é apenas essa a declaração de Aécio capaz de ganhar destaque nos noticiários de hoje.
O candidato, em evento com representantes de setores ligados ao agronegócio, também se comprometeu, ainda no primeiro dia de seu mandato,  em criar um superministério da Agricultura, incorporando vários interesses hoje disseminados em outras instâncias administrativas.
Justo a música que os ouvidos dos empresários presentes estavam ansiosos para ouvir.
O que também não é de se estranhar do candidato que, ainda nessa semana, em outro evento, prometera recriar o Ministério da Infraestrutura, fortalecido tal como na gestão por exemplo de Eduardo Teixeira, no governo de saudosa memória de Collor de Melo.
O que, dados o estilo, a forma midiática de se dirigir à população brasileira, às afinidades, etc. revela mais de Aécio e de suas referências que qualquer outro comentário que tivesse a finalidade de depreciá-lo.
Aécio e Collor são, na verdade, e até por suas origens, farinha do mesmo saco. Embora o desconhecimento dos eleitores por Collor fosse maior, bem maior nos idos de 89, que a ignorância em relação a Aécio.
Pelo menos em parte.
Collor foi prefeito de Maceió e governava o estado de Alagoas, de pouca projeção nas regiões que concentram o grosso do eleitorado.
Aécio foi governador e é senador por Minas, estado que concentra um dos dois maiores colégios eleitorais do país.
Mas, tanto quanto Collor, Aécio é um completo desconhecido do público, até mesmo dessas Minas Gerais, já que seu governo usou e abusou do direito de impedir que a imprensa pudesse manifestar-se livremente, e pudesse investigar a fundo as várias críticas feitas a seu famoso choque de gestão.
A bem da verdade, nem precisou muito adotar medidas mais ligadas à censura, junto a uma imprensa que, por medíocre, sempre preferiu blindá-lo.
***
Mas agora, uma campanha publicitária paga com recursos do sindicatos representativos de funcionários da Educação, da Fazenda pública, funcionários do corpo da fiscalização do Estado - como tal, privilegiados em termos de remuneração - tem ocupado nossos órgãos de imprensa, para mostrar o que foi o governo peessedebista, que deixou de repassar 8 bilhões de reais para a Educação. Que governou concedendo favores às classes empresariais, em detrimento da grande maioria da população.
Mas, tal campanha não tem acredito eu, condições de por a nu quem é o candidato Aécio. O que é uma pena.
***
Debate na Band inicia o período eleitoral para valer

Mudando de assunto, começa hoje, para valer, o horário eleitoral com o já tradicional debate promovido pela Band.
Hoje, e nos demais estados da federação, um debate entre os candidatos ao governo do Estado, em nosso caso, com uma polarização flagrante entre Pimenta da Veiga, o candidato dos tucanos e de Aécio, e Pimentel, o candidato do PT e da presidenta Dilma.
Pimenta da Veiga, ex-prefeito de nossa BH, que meteu os pés pelas mãos, ao tentar dar um vôo maior que sua capacidade, ou pelo menos em momento em que caldo de galinha e prudência mandavam que ele ficasse quietinho exercendo seu mandato na prefeitura.
Depois de longo período de ostracismo, Pimenta ressurgiu como ministro do governo de FHC.
Quanto a Pimentel, também ex-prefeito de nossa capital, é responsável por uma traição ao partido a que pertencia e aos seus princípios, por mais que queiram deixar esse fato no limbo, ao articular-se justamente com Aécio para eleger Márcio Lacerda para comandar os destinos da capital.
Como o avô de Aécio ensinava, a esperteza quando é muita engole o esperto, e se Aécio aprendeu a lição de Tancredo, Pimentel não parece não ter tomado conhecimento dela.
Alguns anos depois, rompeu com Lacerda, com Aécio, para completar a lambança de rupturas, iniciada com seus próprios correligionários.
Pimentel foi também ministro de Dilma, o ministro blindado por uma amizade antiga, já que a mesma acusação que valeu a demissão (graças aos céus!) a Palocci, foi feita também ao então ministro do Desenvolvimento e da Indústria. Mas, pela amizade antiga, o comportamento de Pimentel como consultor de empresas que atuavam na Prefeitura na sua gestão, não foi sequer motivo de muita investigação.
***
Polarizado o debate, existe pouca informação sobre Tarcísio Delgado, tradicional político candidato pelo PSB, partido de Márcio Lacerda e contra o qual o prefeito se insurgiu.
Quanto aos demais candidatos, só é possível lamentar o pouco espaço que obtêm na midia, que os impede de mostrar a feição do novo na política, como é o caso do candidato do PSOL, partido também que chegou rachado à indicação de seu candidato.

***

Aécio e seus 23 ministérios

Não poderia deixar de comentar aqui, declaração de Aécio de que irá reduzir o total de ministérios do governo, dos atuais 39 para 23.
Afinal, para o candidato, tantos ministérios é um acinte à inteligência do eleitor e da população brasileira.
Mas, qualquer pesquisa realizada nos sites de governo mostra claramente, que o número de ministérios de Dilma e do PT não passa de 24.
De onde, então, essa informação de que são 39? Um número mais de 50% maior?
O fato é que, exagerado ou não, os 15 ministros são de funcionários auxiliares de Dilma, que têm o status de ministros. Como é o caso do Ministro Chefe da Casa Civil, do secretário do governo ou do presidente do Banco Central, autarquia que existiria, assim como todas as demais funções, apenas que com status menor.
Portanto, não há como se falar em desperdício de recursos públicos com estruturas administrativas que continuariam existindo, mesmo se a denominação de seus titulares fosse rebaixada.
Mais sério que isso, e mais vergonhoso e preocupante, é saber porque tantos auxiliares com esse status.
No caso do Banco Central, a explicação é conhecida e ilustra bem o que deveria ser o foco de nossas preocupações.
Tudo não passou de uma forma encontrada por Lula para poder conceder ao justamente reconhecido Meirelles, um foro privilegiado, obrigando a que qualquer ato administrativo contra o presidente do Banco Central fosse autorizado e tivesse seu curso na mais alta Corte do país.
É isso. Simples assim. Ao menos nesse caso.

Nenhum comentário: