terça-feira, 26 de agosto de 2014

O que esperar do debate na Band, hoje

Está marcado para a noite desse dia 26 de agosto, às 22 horas, na Band, a realização do primeiro debate em cadeia de tevê dos candidatos à Presidência da República de nosso país.
Pouco antes, ainda durante o dia, mas com repercussão em todos os jornais do início da noite, o IBOPE revela o resultado de sua pesquisa, agora contando com a presença de Marina Silva, e já passado o impacto inicial e a comoção natural que a morte de Eduardo Campos trouxe em seu favor.
Como Fernando Mitre, diretor de jornalismo da rede de tevê paulista, lembrava ontem, é lógico que o resultado da pesquisa vá ter algum impacto no comportamento dos candidatos, reforçando estratégias formuladas, ou obrigando-os a promover mudanças de planos, utilizando do famoso plano B.
Pelo que se comenta, a pesquisa Ibope não irá apontar grandes novidades. À realização do segundo turno e Dilma ainda na dianteira, deverá ser adicionada apenas a presença de Marina no segundo lugar, ganhando alguma vantagem em relação ao terceiro colocado, Aécio.
Essa, a razão de órgãos da grande imprensa comentarem de forma ainda discreta um certo desespero que começa a tomar conta da campanha do PSDB. Situação que já gerou até mesmo a insinuação de que o governador Alckmin poderia estar pensando em reduzir seu apoio ao candidato oficial de seu partido.
A esse respeito, alguns órgãos de imprensa até voltaram a eleições passadas para reavivar o que é considerada uma mágoa do governador paulista em relação a Aécio, expressa na recomendação de voto na chapa Lulécio. Magoado ou não, Alckmin tem todos os motivos do mundo para desembarcar da chapa encabeçada para Aécio, na medida em que perceber que isso poderá render algum prejuízo para sua quase assegurada reeleição.
Quanto ao debate em si, a julgar pelas regras, mais flexíveis sem dúvida, quando comparadas aquelas de debates anteriores, mas ainda muito distantes de permitir uma verdadeira troca de ideias e argumentos entre os candidatos, não acredito que seu resultado seja fundamental para alterar o resultado da pesquisa que o Instituto Datafolha já inicia a partir de amanhã, junto ao eleitorado.
Primeiro porque, a julgar pelo debate para governadores aqui em Minas, cujo formato parece-me ser o mesmo, o tempo estritamente rigoroso para cada candidato fazer qualquer consideração e fornecer respostas, impede que haja não uma troca de acusações ou confronto, mas qualquer mínima discussão capaz de deixar mais claras as opiniões, motivações e métodos.
Pelo que ocorreu aqui, entre Pimentel e Pimenta da Veiga, cada um poderá fazer uma pergunta que, como sempre, o outro não irá responder, fugindo parcialmente do tema, especialmente se este lhe é espinhoso. É verdade que há a oportunidade da réplica e do candidato questionador sempre lançar no ar a acusação de que não foi isso que foi perguntado ou então o candidato está fugindo à resposta. Mas, independente disso, o candidato acusado irá ter o direito à tréplica e, usando da palavra ao final, sempre terá condição de reafirmar o que desejar, não necessariamente atendendo ao interesse do público, nem o do candidato que lhe dirigiu a questão.
Com o tempo de respostas necessariamente limitado, quando for o momento de um jornalista, por exemplo, realizar sua pergunta, indicando o candidato que deverá respondê-la e aquele que deverá comentar a resposta, o que temos visto é o candidato que vai comentar abrir mão de comentar e criticar seu oponente, optando por apresentar o que ele faria em relação ao problema, tentando dar destaque a sua plataforma de campanha.
Com isso, o que percebemos é a oportunidade para não um debate, mas a realização de uma grande entrevista coletiva, em que todos os candidatos estão presentes e podem, embora evitem, criticarem a resposta dos demais concorrentes. Crítica no sentido de mostrar porque, tecnicamente, a opção apresentada pelo concorrente não vai funcionar, ou quais os interesses principais são beneficiados e porque, com a solução apresentada.
Ora, o que temos visto é apenas algumas trocas de farpa entre os candidatos, com algumas acusações que são olimpicamente ignoradas por aquele que é alvo da acusação.
Entretanto, se o debate em si e em função do rigor que exige, até pela questão de dar tratamento igualitário a todos os candidatos, é engessado e até monótono, às vezes, tem uma importante consequência que é a de pautar o discurso e proporcionar a inclusão ou exclusão de novos temas nos programas partidários a serem gravados e apresentados a partir de sua realização.
Nesse ponto, acho que é suficientemente importante que os debates sejam realizados para que todos possamos perceber o que foram situações que cada candidato considerou importante, a ponto de reforçar ou alterar seu discurso seguinte.
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Em relação especificamente ao debate dessa noite, pode-se esperar, em relação à candidata Marina, a cobrança de seus apoios e da sua falta de coerência em se comprometer em assumir os acordos com que não concordava quando ainda não era cabeça de chapa.
Também é de se esperar que seja cobrado dela, a sua inexperiência no Executivo, o que a tem levado, inclusive a aventar a hipótese de que poderá recorrer a nomes de expressão que identifica em outros partidos, para comporem seu grupo de conselheiros ou até mesmo sua equipe de governo.
Especificamente, ela tem já manifestado que gostaria de, caso eleita, contar com o apoio e aconselhamento de FHC, tão criticado por ela, quando era presidente, e ela então ainda pertencia ao PT. Partido do qual ela se afastou por não concordar com políticas que hoje renega.
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Acusações a Aécio poderão incluir o pouco que fez, de fato, e não no marketing que choca pela falta de gestão, na saúde e educação do Estado. Como deixou as finanças públicas do Estado, que pegou em ordem, comprometidas.
Não acredito que irão se lembrar nem do aeroporto que o Zé Simão apelidou de aeroperto, pela proximidade com a chácara(?) do tio-avô. Muito embora esse seja um assunto que mostra bem a face do candidato que se faz passar por nosso representante na corrida eleitoral.
Se faz passar porque não é nem o único mineiro de nascença na corrida, nem só por ter nascido nessas terras, representa qualquer coisa das terras mineiras, necessariamente. Por opção, é muito mais carioca e tem mais simpatia com o estado vizinho, da mesma forma que Dilma é gaúcha, onde fez sua vida profissional, depois de presa e torturada.
Interessante é ouvir Aécio acusar os líderes petistas pela condenação no episódio do mensalão e ficar fugindo, tergiversando no caso de seu companheiro e amigo, Eduardo Azeredo, que usou de artimanhas as mais condenáveis, para escapar do julgamento no Supremo. Claro que Eduardo não foi condenado, nem se pode concluir que seria esse o resultado do julgamento, mas a protelação pela manobra o denuncia e o torna mais culpado aos olhos da opinião pública que se se arriscasse no tribunal. E tudo isso com a conivência de seu amigo candidato...
Mas o que quero é mencionar aqui o discurso iniciado ontem por Aécio, criticando a Marina, alegando que, se é para votar nos nomes de peso que o partido do PSDB é que apresenta, então melhor votar no original.
Ora, Marina foi esperta. Citou FHC não necessariamente por morrer de amores e consideração por sua pessoa e o que ela representa, mas tão somente por ter percebido que, mais uma vez, a campanha de seu partido o deixa de fora. Aécio não menciona o ex-presidente, da mesma forma que Serra e Alckmin evitaram de fazê-lo quando disputaram a presidência.
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Quanto a Dilma, as obras que não andam do PAC, os problemas ligados à saúde, independente das tentativas de solução, via Mais Médicos, a questão da inflação, que está no limite superior e o baixo crescimento, são as principais críticas, aliada à questão de como ela aos poucos foi tolerando, em seu governo, e aprendendo a conviver com acusações de corrupção.
Se no início do mandato, qualquer insinuação de corrupção a levava a agir imediatamente, afastando de seu grupo aquele sobre quem pesava a acusação, esse ardor moralizante veio perdendo fôlego e sua tolerância com as acusações foi o que resultou de seu governo, muito por culpa de se sentir imobilizada pelos acordos, mesmo os espúrios, que negociou para se eleger e ter maioria no Congresso.
Seguramente, não irão haver críticas ao Minha Casa Minha Vida, nem ao Pronatec, ou ao Fies ou ao Ciência sem Fronteira, que ela irá citar como suas maiores marcas. Em compensação estamos propensos a assistir a presidenta fazendo a defesa de Graça Foster, da mesma forma que Aécio em relação a Azeredo.
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Vamos ao debate. Em um dia que a televisão ao menos não prima por passar bons programas. E nem tem a apresentação de futebol de maior qualidade.

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