Ao ver o debate e, posteriormente, conversar com outras pessoas que também o assistiram, não pude deixar de constatar que o debate assemelha-se muito a uma partida de futebol. Quem já é torcedor de algum time, ou já tem sua preferência, independente do que venha a acontecer, não muda sua opinião. Antes a reforça.
Mesmo aqueles que, como no futebol, deixam o estádio frustrados, pelo que seu time apresentou em campo, são incapazes de reconhecer a superioridade do adversário, ou quando a admitem, passam a comemorar, seja a obtenção de uma vitória por um placar mínimo, ou então um empate, ou ainda uma derrota por uma diferença pequena, não vexatória.
No futebol, a desculpa sempre virá para um erro do juiz, para um ou dois lances que foram decididos mais pelo azar ou sorte que pela competência dos times e pelo que cada qual realizou em campo, durante os 90 minutos de partida.
No debate, mesmo com uma participação ruim, apagada, comemora-se a resposta bem dada pelo candidato, em um único tópico, mesmo que única em todo o programa. Ou então a estocada que o candidato deu em outro adversário, que o deixou desconcertado, mesmo que momentaneamente.
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Dessa forma, fico com a impressão que o debate não serve para quem quer que seja formar opinião, mas para que o telespectador-eleitor possa verificar o comportamento de seu escolhido. E o debate acabe se transformando tão somente em mais um momento em que o eleitor possa torcer para seu candidato. Para que possa reafirmar aquilo que já sabia há muito tempo: que o seu candidato é o mais bem preparado. O melhor.
Caso você se atreva a ir discutir com esse torcedor os lances e argumentos, ou ausência deles, apresentados no confronto das ideias, o resultado será a percepção de que cada pessoa, tendo já adotado uma posição pré-definida anteriormente, irá justificar e até ignorar os momentos de infelicidade ou em que seu candidato titubeou, ou foi criticado, lembrando-se apenas daqueles momentos em que aquele que merecerá seu voto falou o que ele queria ouvir, porque o que acreditava.
Mesmo que as falas objeto de crítica fossem exatamente relativas àqueles assuntos que correspondem ao pensamento mais íntimo do eleitor, por ser o que ele já acreditava e o que representa sua cosmovisão, sua visão de mundo, ele não aceita a crítica ao comportamento do postulante ao cargo, por não aceitar a própria crítica ao conteúdo da proposta ou posição ou interesse de seu candidato.
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Sendo assim, acredito que a melhor postura de qualquer candidato seria participar do debate ignorando solenemente seus oponentes, na medida em que isso fosse possível, ou seja, falando menos para fustigar seus adversários e para criticá-los, falando menos para expô-los e desnudar a falta de seus argumentos e fazendo um discurso mais dirigido a seu público. A seus eleitores, usando aquele tempo e espaço para reforçar as ideias que foram, em parte, a razão de terem conquistado seus eleitores.
Com essa postura, qualquer candidato não se sentiria nem estilingue nem vidraça e poderia fazer uma participação sem ansiedade, sem mostrar tensão, sem tropeçar nas palavras nem nas ideias.
E, já que falando para ouvidos que sabe, lhe são fiéis, poderia adotar uma postura mais serena, mais tranquila, mais olímpica, transmitindo a segurança que muitas vezes vende mais a imagem e potencial do candidato aos indecisos.
A postura que normalmente é buscada pelos oponentes para ser transmitida aos que acompanham o debate, que é caracterizada pela necessidade de superar ao outro, soa, aos olhos dos eleitores já fechados com esse outro, como arrogância. Embora, isso também não custe o voto no candidato assim considerado. Afinal, quem o acha assim e já não ia votar mesmo nele, já era um eleitor perdido. Quem já o via como melhor escolha, também não vai mudar seu voto por ver seu eleito capaz e com autoridade para se impor, perante os demais.
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Verificando o debate da Band, percebi que enquanto Marina, que em minha opinião foi a que se saiu melhor, mesmo que com um discurso muito bonito, apesar de sem consistência, falava para seu público, Dilma falava para tentar se impor, e Aécio falava para mostrar as falhas dos argumentos dos dilmistas e/ou eleitores de Marina.
Dilma titubeou, falou com insegurança, o que era evidenciado por toda a carga de tensão que estava estampada em seu semblante. Em nenhum momento sorriu, ou deixou-se relaxar. Pareceu acuada. Parecia estar obrigada, por ser vidraça a se defender e jogou como time pequeno, ela que por ser a presidenta, deveria jogar no campo do adversário, marcando pressão na saída de bola e sufocando o time contrário, para utilizar a analogia com o futebol.
Agindo dessa forma, foi arrogante toda a vez em que, ao falar da saúde e do programa Mais Médicos, que acho uma ação digna de elogios adotada pelo governo, acabou dando oportunidade para que sempre houvesse alguém retrucando: mas então a candidata considera que a saúde em nosso país não tem problemas, está em perfeitas condições???
Claro que não. E Dilma poderia, se não estivesse sempre na defensiva, tecer os mesmos comentários que fez e os mesmos auto-elogios, adotando um comportamento menos sujeito a abrir espaços para os adversários, caso falasse ou admitisse algo assim: olha, fizemos o Mais Médicos, estamos atendendo 50 e tantos milhões de pessoas que não tinham atendimento. Mas sabemos que isso é apenas o começo. Ainda há muito o que fazer. Apenas demos os primeiros passos, talvez os mais importantes, sempre, em qualquer caminhada. Mas por isso quero o segundo mandato, para poder tentar fazer ainda mais, porque o povo brasileiro não merece só a presença do médico, merece um atendimento de primeiro mundo. Sem filas, sem ficar esperando em macas nos corredores, etc.
Ora, ao admitir que já fez mais que seus antecessores e que ainda assim há muito mais o que fazer, sua imagem de pretensiosa ficaria apagada e ela ainda justificaria porque precisa de conquistar o novo mandato, já que imbuída das melhores das intenções.
Aécio, querendo mostrar que é mais esperto dos três, também teria muito a ganhar, talvez se admitisse que os demais ocupantes do poder fizeram algo, mas não o bastante, ao invés de ficar apenas tentando as pegadinhas para que seus adversários escorregassem.
Já Marina falou para sua platéia e fez um discurso light, que pegou bem por sua menor agressividade, o que permitiu até que ela pudesse se constituir na mais agressiva dos candidatos, nos ataques aos demais. O que mostra o acerto de sua estratégia e sua postura.
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E as pesquisas
É verdade que a tranquilidade de Marina deveu-se muito ao resultado divulgado pouco antes, da pesquisa de intenção de votos do Ibope, que lhe dava o segundo lugar folgado na corrida pelos votos, e a colocava como virtual candidata eleita, na disputa hipotética de um segundo turno.
Daí, talvez, compreensível o desespero de Aécio e de seu PSDB, e a tentativa dele, de desqualificar Marina e suas intenções.
Aécio, é forçoso reconhecer, estava certo ao afirmar que Marina não tem qualquer coerência e faz a mesma política que ele ou Dilma. E que não poderá, caso eleita, fugir de acordos e pactos de governabilidade que a tornariam refém dos partidos no Congresso, situação tão criticada por ela.
Dilma com a ameaça real de sofrer um revés vislumbrada pela vez primeira, parece ter ficado sem chão, já que preparada para atacar o peessedebista. Não foi capaz de mostrar que, sem quadros partidários, Marina estaria ainda mais prisioneira dos partidos que ela tanto critica.
Daí a razão de a candidata do PSB vir com esse discurso de que vai buscar, mesmo nos partidos com os quais disputa, as cabeças que desejam ajudar na construção de um país novo.
A pergunta que não quer calar é se ela acredita mesmo que tais pessoas viriam integrar à sua proposta e a seu governo, sem que trouxessem como apêndice seus partidos e toda a gama de interesses que os cercam?
Mas, o Ibope mostrou e a pesquisa da CNT ratificou que Marina está pouco atrás de Dilma, que caiu para 34% ou um terço do total dos pesquisados, enquanto a substituta de Eduardo Campos, com seu discurso do bem, pulou para próximo dos 30% . Ao contrário, Aécio despenca para menos que um quinto das preferências.
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Não creio que a pesquisa Datafolha, realizada nesse fim de semana, será muito diferente, em função de qualquer influência do debate, pelos motivos que mencionei acima. Apenas deverá confirmar o resultado das outras pesquisas, o que vai continuar a acontecer até que algum fato novo venha a por a nu a fragilidade de Marina e seu discurso sobre o novo, já de idade tão avançada e conteúdo antigo. Ou estoure algum novo escândalo, seja no governo, ou nas campanhas dos demais partidos.
Impressiona-me, contudo, o fato de que, pela pesquisa da Sensus/CNT, perto de um quinto dos entrevistados não sabem ou não desejaram responder, o que dá ainda uma margem muito grande de pessoas que, ou não irão mesmo desejar participar da salada eleitoral, ou poderão dar outros rumos ao resultado oficial saído das urnas.
A verificar como essa massa ainda amorfa irá se comportar.
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