terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pesquisa eleitoral e o fôlego de Marina; e a entrevista com Dilma no Jornal Nacional

Estão certos os assessores de campanha de Aécio, que tentam mostrar que o resultado da recente pesquisa eleitoral do Data Folha, que o coloca em terceiro lugar na intenção de votos, deve ser interpretada com muita cautela, já que afetada pesadamente pela comoção que a perda prematura de Eduardo provocou em todo o país.
De fato, é sempre importante destacar que a consulta foi realizada antes mesmo da realização do sepultamento de Eduardo Campos, com toda a carga que esse tipo de despedida costuma evocar. Especialmente considerando que  Eduardo foi governador de Pernambuco por duas vezes, posto do qual se afastou para concorrer à presidência, tendo sempre sido muito bem avaliado por seus conterrâneos, além de ser novo, simpático, não fosse também neto de Miguel Arraes, considerado por alguns quase como uma divindade.
Mas, passada a cerimônia do adeus, a vida volta à sua rotina normal, e aí sim é que a indicação oficial de Marina e de seu companheiro de chapa, as primeiras declarações da candidata, a postura frente a seus próprios compromissos e aqueles assumidos por seu antecessor-  alguns dos quais que a fizeram tapar o nariz incomodada -, aí sim é que podemos considerar que a corrida eleitoral terá voltado a suas trilhas e as pesquisas passarão a mostrar mais que um sentimento de vazio e orfandade.
Também nesse momento, já com a propaganda eleitoral gratuita iniciada, Marina passará a ser alvo dos ataques e críticas que a pouparam agora, por força de seu nome não ter sido oficialmente confirmado e por força ainda do respeito que o período de luto necessariamente impõe.
Mas, já a partir da próxima semana, o jogo volta a ser jogado e Marina será alvo das críticas que a pouparam nesse instante. Serão então expostas todas as contradições de quem, querendo se passar pelo novo, percorreu os mesmos caminhos de sempre na política nacional e cometeu as mesmas atitudes que tanto combateu.
Os acordos com os representantes do agronegócio, sua postura em relação ao projeto desenvolvimentista que o Brasil ainda reclama e que sua crença na sustentabilidade acaba freando, de certa forma, tudo isso será cobrado da candidata, que ostenta uma postura menos simpática que o risonho menino do Rio, Aécio.
Aliado a isso, há que se recordar que as posturas de Marina e suas opiniões, no campo do comportamento pessoal, são extremamente conservadoras, o que pode ajudá-la a conquistar os votos da legião de evangélicos como ela, com perda de apoios e votos junto àqueles que situam-se mais na vanguarda.
Curiosamente, é exatamente junto a essa facção vanguardista que o discurso de sustentabilidade de Marina ganha maior eco, tem maior força, em minha opinião.
De mais a mais, Marina terá um tempo ínfimo, o que já a desfavorece.
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Essa a razão da tranquilidade manifesta pelo PSDB. Que é suportada pelo fato de que nem Aécio, nem quaisquer dos outros candidatos tiveram suas intenções de votos de pesquisas anteriores afetada. Ou seja, a novidade Marina ressurge ancorada nos votos daqueles que encontravam-se indecisos, muitos dos quais por não se sentirem representados por políticos e partidos de perfil tradicional.
Bastará lembrar-lhes que longe de representar uma mudança real de nossa política, a aliança de que Marina participava era mais do mesmo. A evolução para o passado. E isso será suficiente para que parte dessa tempestade de intenções de votos seja transformada em mera garoa.
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De qualquer forma, não é apenas Aécio e seu PSDB que deverá por as barbas de molho, já que um segundo turno, cuja realização torna-se cada vez mais evidente, poderia canalizar toda a insatisfação dos vários setores da população, e com isso juntar os interesses de toda espécie contra o PT.
Motivo que leva certa parte dos comentaristas político-eleitorais a retomarem o bordão do "volta Lula".
Esse sim o pior erro que Lula e seu partido poderiam cometer a essa altura dos acontecimentos.
Afinal, eleita sob a inspiração de Lula em 2010, por representar aquela que teria capacidade de continuar seu trabalho, por mais que os métodos de Dilma divirjam dos de seu padrinho, outra não poderia ser a candidata nesse momento, até para não dar o mote para seus adversários que iriam abusar da afirmação de que Lula não tem, ou não teve nunca consciência do que é melhor para o país.
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Mudando de assunto, tive a oportunidade de assistir ontem, à entrevista de Dilma no Jornal Nacional.
Em que mesmo sendo duramente criticada por Bonner e Patrícia Poeta, ela foi suficientemente hábil para não discutir nem manifestar sua opinião, por exemplo, sobre o caso dos mensaleiros petistas.
Por outro lado, mais interessante ainda foi que, ao contrário de Aécio que tergiversou, e até talvez para servir de contraponto a seu concorrente, não trouxe à baila, na resposta do mensalão petista, o protagonizado pelo PSDB, nas terras e com participação de amigos particulares de Aécio.
Como se sabe, ao ser questionado pelo apoio de Eduardo Azeredo a sua campanha, o candidato do PSDB procurou trazer à linha de frente a questão dos petistas condenados pelo STF.
Ao contrário, Dilma tendo a mesma oportunidade não mencionou a questão do mensalão do PSDB, como na oportunidade que teve de falar de corrupção em seu governo, deixou bem marcada a posição de que a Polícia Federal, a ela subordinada, tem completa e total liberdade para investigar seja quem for contra quem exista algum indício ou suspeição de mal comportamento.
Insistindo na questão dos problemas de corrupção, os entrevistadores apenas alimentaram os argumentos de Dilma de que os casos têm vindo à luz do dia, por força de seu governo estar trabalhando para impedir tais fatos. O que obrigou, de forma oblíqua, ao próprio Bonner a reconhecer que a presidenta Dilma andou punindo e afastando alguns de seus auxiliares de seu governo.
Mais uma vez, e curiosamente, Dilma apenas falou que os casos que são apurados são punidos e outros acabam se comprovando como falsas suspeitas, razão porque ela não age, não pune, nem poderia vir a fazê-lo.
Mas o que mais me  intriga é que não tocou no caso do mensalão do DEM de Brasília e Arruda, nem fez qualquer menção aos escândalos da concorrência do Metrô de São Paulo, por exemplo, que o PSDB como se sabe, governando o Estado há muitos anos, recusa-se a investigar e punir.
Exemplo maior e mais gritante é o de Robson Marinho, do TCU paulista, e ex-secretário de Mário Covas, mergulhado até o pescoço em acusações que não foram alvo de qualquer investigação séria do governo paulista.
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Porque Dilma não partiu para o ataque, preferindo ficar na defensiva? Será por estar concedendo a entrevista na sala da Presidência da República no Planalto e não querer descer a acusações e futricas, baixando o nível de seu discurso e respeitando a liturgia de seu cargo e local de serviço?
Ou na verdade guardou munição grossa para a propaganda gratuita, de forma a tentar pegar seus adversários desprevenidos?
Ou as acusações que não foram feitas agora, serão feitas não pela presidenta, mas por algum partido que atue como linha auxiliar de seu governo?
A ver.
Mas ocupando muito tempo para dar respostas a acusações, Dilma foi esperta para fazer o tempo passar e a entrevista, pelo menos de acordo com a impressão passada pelos jornalistas, acabou sendo prejudicada, ficando pela metade.

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