Passado o primeiro impacto do trágico acidente envolvendo ao candidato a presidente da República Eduardo Campos, cujo corpo já se encontra descansando ao lado de seu avô no Recife, o PSB já adota as providências necessárias para que a candidata a vice, Marina Silva, seja oficializada como nova candidata do partido nas eleições de outubro.
Embora possa parecer cedo, tais medidas são necessárias por força da legislação eleitoral que estabelece o prazo de 10 dias para registro da nova chapa.
Para atender aos prazos legais, movimenta-se não apenas todo o partido e os que com ele estavam coligados, com milhares de reuniões, encontros, acertos sendo costurados porque, se não existem dúvidas de que o nome natural para substituir a Eduardo é o de Marina, sabe-se que uma série de entendimentos que o candidato vinha firmando em busca de apoios, precisam ser ratificados por Marina. Da mesma forma, sabe-se que alguns desses acordos são radicalmente contrários ao que Marina pensa e das opiniões que expressa.
O que me leva a fazer uma reflexão que, para alguns, poderia estar sendo feita muito cedo. Afinal, ainda ontem o corpo de Eduardo era velado e descia ao túmulo, e sua morte recente ainda traz comoção, a ponto de ainda, como é natural, conduzir o jovem político para um patamar em que apenas as virtudes são destacadas. Especialmente pelo momento.
Mas, quem será o primeiro na grande imprensa a recordar e falar abertamente de que, embora novo, Eduardo não representava nada de novo na política nacional, senão um projeto e uma aspiração pessoal, legítimos, de se tornar presidente do país. Nada que o descredencie, ao contrário.
Afinal, como na escolha de qualquer carreira e/ou caminho profissional há que se ter vocação. Mais que vocação vontade. E, para a maioria das pessoas, um verdadeiro desejo de contribuir para a melhoria de nossas condições de vida.
Eduardo era desses homens, que acreditava que seria capaz de dar sua contribuição. Tinha fé e buscava realizar o que sonhava para seu futuro. Justo reconhecer aí uma qualidade. Não necessariamente descolada de algum impulso de vaidade pessoal, que é característica dos homens e que não os impede de realizarem grandes obras. Ao contrário.
Mas para chegar aonde desejava, Eduardo não se viu constrangido de fazer acertos com gregos e troianos. Em incorporar à sua campanha partidos de várias e distintas concepções ideológicas e diferentes matizes e projetos, tudo tão somente para ampliar seu tempo de televisão e, em consequência sua visibilidade.
Tudo para poder se tornar um rosto conhecido nacionalmente, intimamente desejando talvez não obter um resultado expressivo na votação de agora, mas mirando estrategicamente o ano eleitoral de 2018, em que poderia sair como candidato de uma coligação muito mais fortalecida, tendo o PT como companheiro de chapa.
Porque como não passou despercebido por muitos, a ruptura de Eduardo com o PT e com Dilma, reconhecidamente tardia e oportunista, não foi ruptura com Lula e os projetos de poder do ex-presidente. Que admirava muito a Eduardo e ficou muito abalado com sua perda.
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Em sua coluna, dizia ironizando o excelente José Simão que a coligação de Eduardo e Marina, considerada quando de seu anúncio um golpe de mestre, estava aceitando qualquer que fosse o apoio, tendo como única condição de o apoio não vir de qualquer socialista...
O próprio apoio de Marina e sua Rede ao PSB era apenas um grande arranjo para poder dar tempo e condições para que a agremiação de Marina pudesse se organizar para voltar a pleitear o reconhecimento como partido político, negado na primeira tentativa pelo TSE.
Habilmente, Eduardo fazia concessões a Marina, não apenas para poder conter em seu discurso com uma agenda mais moderna, mas para poder aproveitar o prestígio que a ex-senadora e ministra de Lula, como ele, tinha a oferecer, fundado nos resultados das eleições de 2010.
Além disso, parece-me que pouco tinham em comum os dois grupos que juntavam forças, com Eduardo falando em dar força ao agronegócio e em estimular o desenvolvimento em regiões em que Marina é visa como inimiga. O que leva muitos a desconfiarem de sua capacidade de manter os acertos vários que Eduardo ia estabelecendo.
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Sem qualquer ruptura com o modelo de política praticado em nosso país, que tanto ele quanto Aécio criticam, e que o próprio PT parece desgostar, foram fazendo composições políticas apenas para aumentar o tempo de aparição no programa gratuito de propaganda eleitoral. A maioria das quais não é difícil se supor, em troca de cargos e influências que, se não caracterizam um loteamento do governo como o PT adotou de forma escancarada, seguindo os passos tímidos do PSDB que lhe antecedeu, não deve ser considerado muito inovador em política.
O que exige de nós a reflexão para o bem ou para o mal, de que urge ser feita uma reforma política em nosso país, que talvez só possa ser feita com uma Constituinte exclusiva!!!
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A situação de acertos, acordos e, usando a expressão correta e pesada, tramoias, chegou a ponto tal que o PSB de Eduardo, o NOVO (político, bem entendido!), conseguiu formalizar acordos regionais que deixariam qualquer alienígena que chegasse a nosso planeta estupefato.
O que nos brinda com a informação, por exemplo, de que o PSB indicou o vice-candidato ao governo paulista, na chapa com o atual governador do PSDB que, como não poderia deixar de ser apóia ao candidato de seu partido à presidência e, portanto, contrário às pretensões de Eduardo.
No Rio, se não fosse o acidente em Santos, o PSB estaria conversando e se acertando com o candidato do PT, que como se sabe é o partido da presidenta Dilma, concorrente de Eduardo.
Em BH, onde o prefeito Márcio Lacerda do PSB rompeu com Eduardo para manifestar claramente sua preferência por Aécio, a quem deve sua eleição e reeleição, o partido por precisou de usar de muita força para fazer valer aquilo que sua Executiva regional havia decidido: indicar candidato próprio. Chegando para tanto até à ameaça de intervenção da Nacional.
Ora se isso não é apenas e tão somente uma colcha de retalhos, sem qualquer configuração ideológica e igual a tantas das coligações que já foram feitas e criticadas até pelo próprio PSB, não entendo de nada mais em política.
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Quanto a Marina, a nova candidata, e supondo que vá manter realmente todos os acordos feitos por seu antecessor, vai ser divertido ver de que forma ela conseguirá sair dessa saia justa, se é que conseguirá.
Afinal, menos simpática e mais austera que Eduardo, ao menos nas fotos e nas aparições públicas, Marina traz a marca dos que acreditam realmente em seu discurso próprio e que, como tal, não precisam fazer agrados outros senão o próprio conteúdo do discurso.
Por isso, creio eu, sua fisionomia sempre mais fechada, o que não pode ser tomado como revelador de nada. Nem de um possível mau-humor natural, como é costume atribuírem à presidenta Dilma.
Mas via ser curioso ver Marina aceitando conversar sobre as mudanças de leis ambientais, para dar mais espaço ao plantio de lavouras que provocam e promovem agressões ao meio ambiente. Será interessante vê-la abordando temas como a necessidade de flexibilizar a lei que assegura sustentabilidade, para que o agronegócio possa progredir, trazendo com ele um melhor resultado para nossas exportações e nossa economia.
Ao lado disso, sabe-se da necessidade de se ampliar o agronegócio da mera plantação para incluir o beneficiamento, cada vez em maior intensidade, e cada vez mais com a introdução de maior conteúdo tecnológico, alguns dos quais exigem e demandam mais energia.
Nessa hora que postura será adotada pela candidata radicalmente contrária à construção de represas como a de Belo Monte, pelo potencial de estrago ao ambiente que elas acarretam.
Bem, além dessas, quem sabe Marina não foi apenas um modismo, adequado a 2010 e não sendo capaz de ser reproduzida nessa condição nesses tempos distintos de 2014.
Afinal, sua marca não ajudou a Eduardo a decolar nas intenções de votos das pesquisas. E, ao que parece, sua taxa de aceitação inicial, sofreu abalos significativos quando abriu mão de seus ideais mais íntimos, aceitando compor e ficar em segundo plano. Tal postura pode ter sido considerada uma traição a seus ideais por alguns dos seus correligionários.
Mas, Marina é inegável traz a pontuação de Eduardo e mais a da comoção, comum nessas circunstâncias.
Será elemento que irá sim ter muita força para provocar um segundo turno. Especialmente se a comoção conseguir levá-la a capturar o voto do grande contingente de indecisos das pesquisas. Isso, se os indecisos já não estivessem em tal estado, por serem eleitores dela.
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Fica então a pergunta: quem é melhor para ir ao segundo turno, partindo-se do pressuposto de que a candidata do PT, por estar tentando a reeleição, tem uma das vagas cativa? Afinal, ninguém em sã consciência, iria imaginar que Dilma ficaria fora do segundo turno.
Para o PT, a imprensa tem dito que Aécio é melhor, porque permite o eterno confronto plebiscitário entre inimigos de longa data.
Inimigos cordiais, diga-se, já que a matriz do pensamento de ambos é a mesma, como em parte sua origem. Na verdade o que os destaca cada vez mais é a teimosia. O apego maior ou menor às ideias, consideradas ultrapassadas que consideram ainda a existência de uma luta na sociedade entre direita e esquerda.
Em minha opinião, ambos já perderam essa visão. Ou ao menos aqueles de seus membros e partidários que já chegaram ao poder como mandatários de cada sigla.
Por mim, não apenas a polarização não é ultrapassada como vem ficando cada vez mais evidente. Apenas que a maioria não quer ver. Como já foi muito dito, os ricos ficam cada vez mais ricos. Os pobres, muito pobres, até melhoram. Mas o resto se engalfinha na divisão do prato de comida que restou do banquete dos muitos ricos.
E acreditam piamente que estão brigando e lutando pela comida que merecem....
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Para o povo, em minha opinião, preferia que desse Marina contra Dilma, em lugar de Aécio, apenas olhando a sua equipe de assessores e possíveis futuros ministros.
Do lado de Aécio, os interesses de sempre dos banqueiros internacionais, financistas internacionais, o grande capital e também dos banqueiros nacionais, gente do mercado, e grandes grupos empresariais, de qualquer bandeira e nacionalidade. Afinal, não há no PSDB essa preocupação nem o discurso contra o entreguismo ultrapassado.
Aécio vem acompanhado de Armínio Fraga, que já esteve à frente de grandes casas financeiras no exterior e à frente do Banco Central do Brasil, quando chegou aqui, pós crise do câmbio em 99, com o desejo íntimo, que não conseguiu por em prática, de dolarizar nossa economia.
Em 2002, não apenas foi o protagonista do terrorismo eleitoral, contra a possível vitória de Lula, como foi um dos mentores da situação que quebrou o país. Só não concretizada por força da ajuda astronômica e recorde de mais de 42 bilhões de dólares (algo inimaginável até a data para os padrões do Fundo).
Além disso, deixou a inflação de que era responsável, na casa dos 16% ao ano, coisa que a imprensa insiste em esquecer.
Essa turma não vê meu voto nem que fossem os únicos que sobrassem na face da terra.
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Já Eduardo antes, e Marina, têm ao menos a assessorá-los Eduardo Giannetti, economista crítico da intervenção e da participação exagerada do governo no ambiente econômico. Desse ponto de vista, doutrinariamente mais vinculado à ideia do Estado mínimo e das liberdades individuais no mercado. Um liberal.
Mas, um liberal convicto, e até mais ingênuo em suas crenças genuínas da capacidade dos mercados. Longe do staff mais pragmático de Aécio. Com quem no fundo até guarda semelhanças, de grau.
Muda o foco. Aqui os agentes individuais. Lá em Aécio os grandes negócios.
Entre Armínio e Eduardo, sou mais o último. Até por sua maior pureza e quando digo isso, favor não tomá-lo como um tolo. Longe disso, para esse excelente professor, misto de economista e filósofo.
Admiro Eduardo e reconheço a capacidade de Armínio, o que já dá a dimensão da diferença que enxergo em ambos.
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Não vou falar nada a respeito da equipe do PT, porque essa já se descaracterizou há tempos, embora tenha achado muito ponderada e corretas as opiniões de Mantega na entrevista que ele concedeu ao grupo Folha e que foi publicada na data de ontem, na Folha de São Paulo.
Pode-se sempre manter a inflação no centro da meta, como ele mesmo admite e foi feito na época de Armínio Fraga no BC. Basta elevar juros reais de forma ensandecida. Além de muito lucro para banqueiros, portadores dos títulos da dívida pública e de dar a eles e aos mercados munição para criticar o desequilíbrio fiscal, por força da grande despesa de pagamento de juros, a inflação cederia sim.
Claro.
Mas às custas da paz dos cemitérios, já que antes a economia pararia de ter seus circuitos vitais irrigados e, sem circulação de dinheiro, não haveria a de produção. Com isso, teríamos desemprego, recessão, inflação domada.
Vale o sacrifício, exceto para os banqueiros?
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