quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Observações e pitacos sobre o debate de ontem na Band

Em primeiro lugar, a observação de que o debate foi, como anunciado, mais dinâmico, com regras mais adequadas para que os candidatos pudessem partir, de fato, para um debate franco.
De parabéns à Band, pois, pela fórmula, melhor, embora incapaz de assegurar a igualdade de condições e participações dos vários candidatos.
Luciana Genro, por exemplo, embora não estivesse reclamando das regras, na minha avaliação, expressou sua decepção por não ter sido alvo de perguntas feitas pelos demais candidatos.
Mas, fazer o que? Quanto mais o debate se polariza, mais chances proporciona para que os embates entre os candidatos, e dá agilidade e dinamismo ao programa. Mas, tudo isso, às custas do prejuízo de alguns candidatos, partidos e ideias, de menor expressão popular. Não de menor expressão como ideias, princípios, etc. Mas, menos apreciados pelo gosto popular.
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Se acertou nas novas regras, e na condução do debate, tranquila e firme de Ricardo Boechat, a Band errou feio na escolha dos jornalistas de seu quadro, responsáveis pelas questões, em dois segmentos do debate, aos candidatos.
E isso por não ter orientado aos entrevistadores no sentido de deixarem os candidatos serem os responsáveis pela interpretação das perguntas a eles proposta e da adjetivação - sempre subjetiva, do conteúdo central dos questionamentos.
Afinal, a própria forma de elaborar as perguntas, a interpretação e justificativas para que aquela pergunta fosse apresentada, e comentários em torno do tema central, sempre subjetivos, sempre interferem e acabam direcionando a resposta, quando não a condicionando ou dando sugestões para o tipo de resposta que deveria ser dada.
Esse tipo de comportamento foi notado em relação a todos os entrevistadores, mas o José Paulo de Andrade extrapolou todos os limites da boa entrevista, isenta, ao dirigir pergunta ao candidato Aécio Neves, a respeito da política e do decreto que criou o conselho de participação dos movimentos sociais.
Antecipadamente definindo tal conselho como usurpação das atribuições do Congresso, a pergunta feita a Aécio parecia querer ouvir apenas o candidato do PSDB concordar com as opiniões que o jornalista expressava.
Ora, se já tinha sua opinião formada, e se queria apenas mostrar ao público que o candidato da oposição comungava de sua opinião e, por óbvio, se opunha à medida da presidenta, qual a finalidade do debate?
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Não satisfeito com tal comportamento perceptivelmente direcionado para interferir e pautar o candidato, o jornalista ainda foi além criticando como golpismo, o uso por Dilma, de um instituto tão legítimo que presente e regulamentado pela Carta Maior do país.
Ora, como classificar de bolivarianismo, seja lá o que isso signifique e a interpretação que o tal jornalista lhe atribua, algo que assegurado na Constituição, só pode ser realizado por discussão e aprovação na Câmara, como a própria presidenta deixou claro. A ponto de ter se referido ao envio àquela Casa de projeto propondo, não impondo, a discussão da realização de um plebiscito.
Em minha opinião muito ruim nas respostas, sem qualquer jogo de cintura para participar de um programa do tipo, nessa questão Dilma até saiu-se bem, já que lembrou que então mais bolivariana seria a Califórnia, estado americano que vive fazendo consultas populares.
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Nessa questão, oportunista como sempre, Aécio não apenas seguiu o  caminho que lhe foi sugerido pelo jornalista na elaboração da questão, criticando a democracia direta que, em sua avaliação,  visa ou tenta acabar com a democracia representativa, como ainda foi esperto para incluir aí a discussão de outro assunto, não tratado: a da regulamentação da midia. Afirmando ser contra censura. Logo ele, que manteve manietados todos os meios de comunicação de massa em nosso Estado. Punindo, pedindo a cabeça, pressionando pela dispensa de todos os profissionais da midia que falassem ou apresentassem qualquer coisa contrária a seus interesses e/ou atos.
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Tão vergonhoso o papel do jornalista já citado, que ele chegou a fazer reverências ao pescador de almas, ao se referir ao Pastor Everaldo. Para quem viu, comportamento digno de pena.
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Mas, não ficaram muito longe disso, embora mais comedidos, Panúnzio e Bóris Casoy, o que também não é de chocar a quem os conhece e sua linha de pensamento.
Por conta de Bóris, pior foi a avaliação final, quase a ponto de comemorar o sucesso, perante as câmeras de Marina. Secundada por Aécio, claro.
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Dos candidados, Dilma mostrou o que é de fato. Não uma gerentona, como gosta de parecer. Apenas uma tecnoburocrata. Daquelas que já foram alvo e objeto de críticas de todos os técnicos, todos os funcionários que, escondendo-se sob argumentos de caráter técnico, cometiam as maiores barbaridades, propondo medidas sem qualquer apego à realidade social em que deveriam influir.
Dilma é tecnoburocrata e sem cintura, mesmo que bem intencionada. Mas não sabe aproveitar as deixas que lhe sobram ou que a soberba ou ignorância dos demais candidatos lhe permitiria explorar.
Foi mal no debate, em minha opinião, mais por sua postura pessoal e falta de carisma.
Mas, como o próprio Casoy também deixou claro, seria a vidraça e nesse sentido suportou bem aos ataques e pedradas que lhe foram atiradas.
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Aécio mostrou ter muito jogo de cintura. Malemolência, como diriam os antigos. Gingado. E esperteza.
E só.
Não soube aproveitar das deixas que lhe foram dadas por todos, jornalistas, outros candidatos que, como ele, tentavam agredir à presidenta.
Tentou acusar Dilma de governar com as vistas no passado, e acabou ele mesmo, falando de realizações passadas, do governo tucano ou de seu governo em Minas. Nada de propostas novas para o país, a economia, o desenvolvimento.
Não apenas como discurso, bem entendido, mas como uma agenda de governo.
Ao fim, para tentar ficar bem com o mercado e seus interesses, apresentou seu ministro, caso eleito. Se queria provocar surpresa, causar algum impacto, foi como estourar no meio de uma festa de São João, um palito de fósforo. Ou seja, nulo o resultado.
Afinal, todos já sabiam que o nome escolhido era o de Armínio Fraga, o homem que defende os interesses do mercado de onde se origina e fez carreira.
Como presidente do Banco Central, quebrou o país, que teve que ir ao Fundo Monetário; e entregou a maior inflação já registrada pós-Plano Real, praticando o que ficou conhecido como terrorismo eleitoral.
Que pena que Aécio, destinado a construir o futuro foi buscar e fazer elogios ao pior do passado.
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Marina aparentava ser Gandhi. Mas, longe de tratar das questões unificadoras de sua Índia, com que Gandhi lidava.
Apostando na união, na existência de espaço de consensos, de fim da polarização, fez um discurso muito mais simpático, mas completamente vazio.
Para começar, gostaria que ela mostrasse como seria possível acabar com as grandes fraturas da nossa sociedade, fazendo se sentarem à mesma mesa, por exemplo: assaltante e assaltado; marginal e o honesto que foi vítima de abuso; o preto, pobre e favelado, sempre suspeito e o policial que o surrou; o paciente não atendido e o médico - não o cubano do Mais Médicos, que não quis atendê-lo por falta de pagamento de honorários; o motorista estressado e os passageiros tratados como são chamados nas garagens, como bonecos; o rico que não paga impostos e o pobre que sobrevive porque os impostos que o governo arrecada, de forma ineficiente, lhes assegura o mínimo do mínimo de algum tipo de serviço público que deveria lhe aliviar a vida sofrida.
E, depois de reunir toda essa turma, como nessa ampla União que ela capitanearia, ela trataria de forma igual, ou ao menos proporcional, os interesses de cada classe, cada categoria, cada grupo social, completamente antagônicos.
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Marina foi muito melhor. Porque fez arte. Fez cena. Foi artista. Não se mostrou mais que uma prestidigitadora. Mandrake, mais que Gandhi.
Pior é que impressionou positivamente, por seu discurso tranquilo, sereno, de quem sabe que tudo que está falando é apenas discurso. E que por força de ser apenas discurso, não teria qualquer ansiedade de, em sendo eleita, ter que patrocinar tal grande coalizão.
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Quanto aos demais, mostraram sua insignificância ou a das agremiações que representam, exceção feita ao PSOL, embora Luciana esteja léguas de distância de um homem e candidato da estatura de um Plínio, de saudosa memória.
Em relação ao Pastor, mostrou todo seu preconceito e toda sua discriminação àqueles que, segundo suas doutrinas e dogmas, não segue os preceitos que prega.

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