segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A crise do Egito é a redenção ou a crise da democracia representativa?

Dar pitaco na situação vivida pelo Egito é situação a que não me atrevo. Pouco sei do país do norte da África, e poucas são as lembranças de Nasser, Sadat e do agora deposto Mubarak.
No entanto, a situação vivida pelo povo egípcio, e suficientemente já comentada em seus múltiplos aspectos pelos comentaristas políticos e econômicos da grande mídia, criou a oportunidade para uma reflexão a respeito do futuro da representação popular, nos moldes das existentes nas democracias existentes.
Afinal, o que se pode esperar da forma de representação popular hoje existente, baseada na eleição de membros de Parlamentos, sejam deputados ou senadores, por meio de sistemas de sufrágio mistos ou não, proporcionais ou por listas, etc. quando a expressão da vontade individual de cada cidadão pode ser feita de forma direta, através da  utilização das chamadas vias eletrônicas, as infovias, a internet e as redes sociais?
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Curioso verificar que discute-se, no caso do Brasil, a necessidade de se promover uma reforma política. Alguns políticos de expressão chegam a afirmar tratar-se, esta reforma, da primeira e mais importante de ser discutida e realizada pelo Congresso Nacional, sem contudo que a questão da própria representatividade seja posta em xeque.
Até se entende o porquê, uma vez que, de há muito, percebemos que a última coisa que os congressistas fazem é representar a vontade de seus eleitores, é defender os interesses daqueles a quem, um dia, prometeram defender, representar e prestar contas.
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Sabe-se que, o que é pior, essa não é característica exclusiva do sistema político brasileiro, e já de há muito tempo, o professor Galbraith recordava que talvez a estratégia de poder mais antiga fosse a de negar o poder. E, para ilustrar sua argumentação utilizava o político profissional, o político detentor de mandato popular como aquele que, embora sempre manifestando e expressando sua vontade pessoal, alegava estar votando ou se comportando sob o comando de seus eleitores, cujos interesses representava ou alegava representar.
Ironicamente o professor nos fazia lembrar que, em meio a uma massa heterogênea e extensa de eleitores e cidadãos, ninguém teria condições de sair pesquisando o nível de aderência entre a discussão e a votação das matérias pelo político, e a vontade de uma massa dispersa, disforme e de difícil identificação.
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Bem, o que a situação do Egito nos mostrou é que, com o uso da informática e das redes, a idéia grega da polis, com população igual ao fatorial de 7 para permitir a presença e a discussão, entre os cidadãos reunidos em praça pública, dos temas que afetavam a todos, fica agora cada vez mais plausível.
E a democracia representativa pode estar dando lugar a uma forma de representação direta, de cada um se manifestando, falando e votando por si.
O que permitiria a alguns políticos mais carismáticos se dirigirem diretamente às massas,  eliminando os níveis de intermediação hoje existentes e possibilitando a esse político privivilegiado um poder de manobra sem igual. Passível até mesmo de transformá-lo em um ditador ou tirano.
Ou não.
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E posso estar errado porque seria possível imaginar uma situação em que o povo poderia, sempre que não estivesse satisfeito, promover e iniciar novamente uma manifestação mudando o curso das coisas.
Mas, sabendo-se que o povo é, em parte, massa de manobra, não seria necessário que alguém ou algum órgão, ou até mesmo partido ou político, levantasse a questão de quem passaria a ser o detentor e, por óbvio, o beneficiário do poder e de seu exercício?
Será que ficaríamos na mão dos diretores de empresas como o Google, ou Facebook? Será que ficaríamos na mão dos programadores responsáveis pelo desenvolvimento dessas poderosas e formidáveis ferramentas?

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