Como podia ser previsto, deu a lógica na votação de ontem na Câmara. O governo, com apoio de sua base, aprovou o valor de 545 reais para o salário mínimo a vigorar já nesse mês de fevereiro.
Surpreendente pode ser, sim, a vantagem governista, em assunto tão sujeito à demagogia e à utilização politiqueira.
A matéria "sobe" agora ao Senado, onde a maioria folgada do governo, assegura uma aprovação mais tranquila.
Quem sabe, até com o voto de políticos da oposição murística ou oposição do pé de ouvido, como a que faz o jovem senador dessas Minas.
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Do ponto de vista econômico, já comentamos, a aprovação e o valor se adequam à postura de subserviência do governo aos interesses do mercado. O valor não faz explodir a despesa da Previdência, no pagamento de pensões e aposentadorias atreladas ao mínimo e, dessa forma, contribui com a política de austeridade nos gastos públicos, tão exigida e cobrada pelas elites.
Somada ao corte anunciado de 50 bilhões de reais dos gastos orçamentários, ajudará a manter as expectativas menos voláteis, o que pode contribuir para a construção de um cenário menos catastrófico em relação à previsão da inflação.
Que isso, lá na frente, possa ajudar ao Banco Central a promover a redução da taxa de juros básica da economia, é não apenas razoável e bastante plausível, com justificativas até do ponto de vista teórica. Que por conta disso, o BC pratique efetivamente essa política monetária, é de se esperar para ver.
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Enquanto isso, extra-campo, ou seja, na esfera política, a vitória de Dilma repercute. Afinal, o primeiro grande embate já foi travado e vencido. Da forma que conduziu a disputa, a nova presidenta mostra, além disso, que sua disposição para o combate é bem mais vigorosa que a de Lula.
É exatamente isso que explica a vitória ontem. Sem muita conversa, os avisos às Centrais de que acordo é acordo e que esse que está em curso assegura os ganhos reais dos salários. E que dentro dele é que poderia ser discutida, pelo menos no início do processo, uma antecipação. Fora dele, nem mesmo os ganhos reais estariam certos.
Quanto aos partidos da base aliada, a questão dos cargos. Ou vota com o governo e mantém os cargos do governo, ou vota contra e é escanteado, perdendo a posição.
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Como bom cabrito não berra, ninguém quis testar se Dilma falava a sério como o tom de suas conversas dava a entender. E Dilma obteve sucesso, o que aliás é característica de todo governante em início de mandato.
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No embate político mais amplo, o aceno e a disposição de promover o enxugamento dos gastos públicos, seja pelo valor do mínimo, seja pela ordem de corte dos gastos, significa que a geração do superávit primário e suas consequências, a certeza de ter recursos para pagar aos do andar de cima, venceu e se impôs.
Em síntese: continua em andamento o processo de transferência de renda dos salários, que aumentam menos, para os receptores de rendimentos do capital. O que também não é nenhuma novidade em nosso país.
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