quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

De volta à velha máxima

De volta a velha máxima: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Primeira delas, então. Já eleita presidenta do Brasil, foi a própria Dilma a primeira pessoa a falar, abertamente, da possibilidade de se antecipar algum parcela do aumento do salário mínimo de 2012, para 2011.
Explico: no governo Lula, com a interveniência do Ministro Luiz Marinho, da Previdência, foi acertada entre o governo e as centrais sindicais, uma regra para o reajuste do salário mínimo. Com o objetivo principal de assegurar a manutenção da política que Lula vinha adotando de concessão de aumentos reais para o mínimo, foi estabelecido que, até 2023, o reajuste anual asseguraria a recomposição da perda inflacionária havida no ano anterior, acrescido de um ganho real equivalente sempre ao PIB de dois anos anteriores, à data base.
Em números: para 2011, o valor do aumento do mínimo seria próximo de 6,47% (inflação de 2010) mais o pífio valor alcançado pelo PIB em 2009, na verdade, uma retração. Com isso o salário mínimo passaria para algo em torno de 543 reais, que o governo arredondou para 545 reais.
Como a previsão do PIB para 2010 é muito elevada, podendo ficar próximo dos 8% e, se a inflação arrefecer seu ritmo de crescimento para um patamar de 5%, o aumento a ser concedido em 2012 será próximo de 13%.
Daí a sugestão da presidenta para que se desse algo a mais que o valor estipulado para 2011, com esse valor a maior sendo descontado do reajuste de 2012.
Essa era a negociação que interessava ao governo, em relação às Centrais.
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Mas, a própria regra combinada com Lula previa algum tipo de revisão neste 2011 e, aproveitando-se dessa oportunidade e da proposta do governo as Centrais, acertadamente em minha avaliação, resolveram pedir mais. Salário de 580 reais, nada sendo falado a respeito de qualquer desconto para o índice a ser aplicado em 2012.
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Foi onde a presidenta estrilou e jogou duro. Em evento acontecido no Rio Grande do Sul há alguns dias, Dilma afirmou que o que estava em negociação era a manutenção ou não da regra acordada com Lula e que fora disso não aceitaria nenhuma mudança.
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Agora, a mudança é só com relação ao prazo para validade da regra, que deixa de ser 2023, substituído por 2014. E o governo não admite nada mais que o valor de 545 reais, anunciado.
Pelo que se comenta na imprensa e na midia eletrônica, tudo por conta do desejo de Dilma não criar maiores problemas para a Previdência, cujo déficit aumentado, iria ter impactos na redução do superávit primário e no orçamento.
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Abertamente, os analistas comentam que Dilma está menos preocupada em ficar bem, no início de governo com as classes trabalhadoras, e mais preocupada em conter o gasto público e promover a economia fiscal, para agradar e satisfazer as cobranças dos mercados (financeiro).
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Aqui entra a segunda coisa, esgotada a primeira delas. Entre agradar o trabalhador e o capitalista financeiro, a opção parece clara, embora não surpreendente.
E, se fosse para cortar gastos públicos para agradar aos cânones da ortodoxia econômica, melhor seria cortar o pagamento de juros ou reduzí-los, com a diminuição da SELIC, o que liberaria recursos de folga até para elevar o salário, agora, para 580 ou 600.
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Mas, a opção cristalina, é de agradar a quem tem mais poder e força. Lógico.
O que me leva a questionar se, mesmo respeitando a regra do jogo de fixação do valor do novo mínimo, no próximo ano, os mercados não pediram para a regra ser desrespeitada, em prejuízo dos trabalhadores, e em função do percentual de aumento já estimado com bem elevado.
Caso isso viesse a ocorrer, há razão para acreditar que Dilma peitaria os interesses dos mercados, não o tendo feito agora?

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