segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pondo pingos nos respingos

Enquanto prossegue o veranico, um dos mais prolongados que se tem notícia na capital mineira, segunda a imprensa, o tempo esquenta.
Esquenta no aglomerado da Serra, onde a Polícia Mineira e a população entraram em confronto e, na troca de agressões, contabiliza-se duas mortes, ônibus incendiados e brigas.
Esquenta no relacionamento entre os donos de empresas de transporte coletivo em nossa cidade e os motoristas e trocadores, que não aceitaram o aumento proposto pelos patrões, razão porque pode reiniciar o movimento de paralisações de ônibus urbanos.
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Também agita-se o Senado, em meio à crítica feita pela oposição, encabeçada por Aécio Neves, à aprovação de uma lei que transfere a decisão, por decreto, da determinação dos valores a prevalecerem para o salário mínimo, até o ano de 2014.
Com apoio da mídia mesquinha e subordinada ao ex-governador, cada vez menos informativa e cada vez mais transformada em caixa de ressonância da vontade e dos sonhos presidenciais do atual senador por Minas, Aécio bota a boca no trombone para criticar o autoritarismo de Dilma.
Para o eminente frequentador das praias do Rio, o autoritarismo estaria em tirar as prerrogativas do Congresso, em relação ao tema, uma vez que o mesmo seria "imposto" por decreto a cada novo exercício fiscal.
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Embora entenda bastante da questão do autoritarismo, já que governou Minas Gerais por dois mandatos, sustentado por leis delegadas arrancadas à Assembléia Legislativa do estado, o governador se equivoca, aqui.
Primeiro, porque a fixação do mínimo, consoante as novas regras já aprovadas na Câmara, mesmo que por decreto, apenas valorizaria o papel legislativo do Congresso, onde a lei foi votada e, tudo indica, será aprovada.
Ora, definida a lei, prerrogativa do Congresso, se o Executivo apenas vier a cumpri-la, nada há de autoritário. E, se o instrumento para isso, de que dispõe o Executivo é o decreto, nada haverá de anormal ou arbitrário nisso. Exceto para quem vê sombras como pessoas, e não como seu reflexo, por tanto tempo ludibriar a si mesmo e aos que o cercam, confundindo objetos e sombras, pessoas e seu reflexo.
Ou sua vontade com a vontade do povo.
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De mais a mais, a aprovação da lei daria maior estabilidade às regras de fixação do salário, e impediria que o Congresso, a cada ano assistisse a esse triste episódio de demagogia e/ou de eliminação de direitos aos trabalhadores, que temos acompanhado até aqui.
Aliás, não é à-toa que os jornais noticiam que o genial (ou genioso) político mineiro está tentando atrair as Centrais de trabalhadores e seu apoio para seu Partido.
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Além dessas notícias, e junto ao calor, também ferve a situação externa, agora na Líbia, onde o ditador, por não ser aliado dos Estados Unidos, sofre pressão de todos os lados.
Que caia por seu autoritarismo e pela vontade do povo, e que não haja a reação policial exacerbada que parece estar ocorrendo, é o que todos devemos desejar, até mesmo a midia, independente do envolvimento do país e de seus amigos ou da existência de interesse americano no desenlace.
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Parabéns à Folha, por seus 90 anos.
Por mais que possamos criticar o jornal e sua postura ou posição em determinados assuntos e temas, é inegável que os serviços por ela prestados são muito superiores a essas críticas.
Leitor e assinante da Folha desde o ano de 1977, algumas vezes posso dela divergir e até querer paralisar a assinatura contratada. Mas, mais que reconhecer sua importância, em especial para quem mora numa cidade como a capital mineira, onde os jornais são todos muito ruins, quando não cópias atrasadas de órgãos como a própria Folha, a verdade é que o dia em que, por qualquer motivo o entregador não traz o jornal, a gente sente uma falta danada.

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