quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A gangorra da popularidade de Dilma e as razões para a melhoria da aprovação de seu governo

Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional Transporte - CNT indica ter melhorado tanto a avaliação popular em relação ao governo Dilma quanto a avaliação pessoal da presidenta.
Para os analistas, a melhora na performance deve-se a uma mudança de postura da presidenta, que resolveu expor-se mais, realizando maior número de viagens pelo país e mais discursos, por um lado, e ao programa Mais Médicos, aprovado por mais de 70% da população.
Curiosamente, os comentaristas não abordaram a questão que foi identificada como "fiasco" das manifestações do último 7 de setembro que, em minha opinião, têm parcela importante, senão na recuperação da popularidade, ao menos na oscilação que as pesquisas indicaram estar em curso.
Explico: em minha opinião, a elevada popularidade que a presidenta apresentava antes de junho foi a maior vítima das manifestações ocorridas naquela ocasião.
Pode-se dizer que a queda da popularidade foi o subproduto do movimento que levou a população, em especial em São Paulo, a sair às ruas, como reação à elevação do preço dos transportes públicos, em momento em que a inflação se elevava, principalmente aquela que mais afeta o bolso de todos nós, a inflação dos alimentos.
Numa ocasião como essa, o aumento dos preços dos transportes, aliado à péssima qualidade dos serviços prestados, foi o estopim que levou às ruas o movimento, mais tarde vitorioso, contra os aumentos de transportes urbanos.
Na carona desse movimento, até por tratar de questões relacionadas ao mesmo problema do custo dos transportes, o movimento ganhou força com a ação dos partidários do Movimento do Passe Livre, que também ganharam as ruas.
E tiveram o combustível extra promovido pela ação violenta da polícia, como reação a um movimento que assumia, então, um caráter pacífico, embora reivindicativo.
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Importante observar que o motivo da movimentação popular nem se referia diretamente a questões sob a direta responsabilidade da chefe do Executivo federal, nem apenas ao Partido dos Trabalhadores, o PT de Haddad, prefeito paulistano. Envolvia também, parcialmente, o governador paulista, do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB.
Mas, o momento que o país atravessava, de aumento da inflação; críticas indiscriminadas à inação ou ineficiência das medidas adotadas pelo governo federal, especialmente na área econômica, com o reflexo importante na expectativa de um crescimento do PIB completamente inesperado e ridiculamente pequeno; a proximidade do início da Copa das Confederações, evento que atrairia para o país as atenções de todo mundo e, principalmente, a questão de que esses jogos teriam lugar em estádios que custaram muito mais que as previsões de gastos iniciais para suas reformas, além de que algumas das arenas constituíam autênticos elefantes brancos, tudo alimentou a onda de insatisfação que tomou conta do país.
Em minha opinião, mais que qualquer outro motivo, nesse momento de turbulências a oposição soube habilmente capitalizar as  insatisfações dispersas entre os vários e distintos grupos sociais e utilizando o mote dos gastos excessivos com os estádios de futebol, e a corrupção inerente a tais obras, conseguiram difundir a ideia de um governo que, além de gastar muito e mal, priorizava questões menos relativas às verdadeiras carências e necessidades da população, como saúde, educação, segurança e transportes.
E de quebra, ainda fechava os olhos às falcatruas e malversação de fundos públicos, incentivando pela inação que se propagasse a ideia de um pais de roubalheira consentida e de impunidade.
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Aliado a tudo isso, o caso mensalão e o fato de ainda não haver qualquer punição concreta, ajudava a fortalecer a imagem de um governo que compactuava com a corrupção, ideia no mínimo discutível.
Bem, os jogos tiveram início e, apresentando a visibilidade natural os manifestantes ocuparam as ruas, embora o problema que tivesse dado origem a toda a movimentação popular começou a ser resolvida, com as autoridades, especialmente em São Paulo, admitindo recuar e fazer reduzir o preço das passagens de ônibus.
No que foram seguidas por prefeitos de outros municípios, todos aproveitando-se da redução de impostos que incidiam sobre a prestação do serviço de transporte.
Sem um motivo concreto que permitisse dar continuidade à invasão das ruas, a população incentivada pela oposição, e encantada com o potencial de arregimentação percebido como factível, pela utilização de redes sociais, alargaram as causas por que lutavam.
E, por transformarem as manifestações em uma soma de reivindicações, de várias origens e teor, começou aí, sempre em minha opinião, a perda de sua capacidade de aglutinação.
Ao final, lutava-se a favor de melhoria das estradas, queda do preço dos combustíveis, colocação de passarelas, melhoria das condições de saúde, melhorias das condições de educação, corte de gastos públicos, prisão de políticos corruptos, melhoria das condições de habitações, e até mesmo a volta de militares com sua eterna imagem de defensores da ordem e progresso e etc.
Ao movimento inicial juntaram-se os afiliados de partidos políticos de vários matizes, o Movimento dos Sem Teto, do Sem Terra, enfim, o movimento perdeu-se num sem número de causas que, muitas vezes entravam em contradições entre si. Ou seja, grupos que estavam ocupando as ruas unidos, e lutando por causas que eram radicalmente antagônicas.
Não demorou para que essa movimentação descambasse, em parte, para atos de violência e vandalismo, contra tudo e contra todos, inclusive com as brigas entre os próprios manifestantes.
O que podia ser considerado consequência da própria falta de coordenação e liderança do movimento (ponto que foi exaltado algumas vezes), e do constante entusiasmo que guiam os manifestantes, principalmente quando jovens.
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Acabada a Copa das Confederações e a visibilidade da movimentação, a popularidade de Dilma estava seguramente bastante arranhada, até por questões sobre as quais não podia agir, por força de estar fora de sua área de responsabilidade funcional.
Mas, arranhada também estava a imagem de políticos de todos os partidos, e da política de forma geral.
Dilma bem que tentou retomar a iniciativa, propondo várias soluções, dentre as quais a necessária realização de uma reforma política para valer no país.
De forma que considerei acertada, inclusive, a realização de uma Constituinte específica para a discussão da reforma política e depois de um plebiscito, etc.
A imprensa, a grande mídia, os conservadores e todos que estavam cansados com o PT e mais interessados em fazer campanha para seus partidos e candidatos, ironizaram as propostas, e tudo continuou como antes.
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A chegada do Papa Francisco, embora logo em seguida e acompanhada ainda de manifestações políticas - bem menores que aquelas ligadas à expressão da fé, serviram como água fria no movimento.
Daí para a frente, a própria passagem do tempo ajudou a recuperar a popularidade da presidenta.
A inflação voltou a dar demonstrações de estar sob controle, os preços dos alimentos caíram, os políticos continuaram mostrando que a mudança e correção de problemas vinculados à questão da moralidade da coisa pública não se vinculava a um partido apenas, nem a um político, como restou comprovado com a manutenção do mandato do prisioneiro Donadon.
Além disso, o PIB deu demonstrações de que não ficaria tão baixo quanto divulgado inicialmente. O país foi vítima de espionagem dos Estados Unidos, o que querendo ou não tem o poder de unir mesmo as correntes opostas, em prol da defesa de nossos interesses.
Dilma passou a ter maior visibilidade, mostrando estar empenhada em atender a voz rouca que subia das manifestações das ruas, e o STF voltou a julgar os acusados e agora condenados pelos crimes do mensalão, parece que encaminhando a solução para o final da impunidade.
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Para completar, o programa de atração de médicos estrangeiros, para dar atendimento a comunidades carentes de nosso país, prestando socorro a pessoas que raramente, se alguma vez tiveram acesso a algum médico na vida.
Que a gritaria contra a vinda dos médicos era questão mais ideológica que de outra natureza, restou comprovada com a recepção aos médicos cubanos quando de seu desembarque, já que tal reação não havia ocorrido com médicos portugueses, mexicanos, espanhóis ou de outras nacionalidades.
Nem a reação era contra o médico cubano, mas contra a amizade entre o governo brasileiro e o cubano, que logo se prontificou a nos auxiliar, enviando-nos vários de seus médicos.
Pode ter havido mudanças significativas recentes, mas até há pouco, a medicina de Cuba, pelo menos em algumas áreas e especialidades, era considerada referência.
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Em relação a essa recepção ao programa e à vinda dos profissionais, recomendo a leitura do excelente artigo do Dr. Drauzio, na Folha de sábado, mostrando da importância que é ter um médico que dê ao doente, no momento que ele se encontra mais fragilizado, o que ele mais precisa: atenção.
Com relação ao revalida, cobrança feita em relação aos médicos estrangeiros, mais que ser um exame cobrado mais por corporativismo da classe médica, acho que seria importante sim, ser adotado.
Especialmente se se tornasse um exame obrigatório para todos os médicos de nosso país, com destaque para os médicos recém-formados nas escolas de Medicina de nosso país, algumas sem quaisquer condições de formar açougueiros, ainda mais médicos.
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Acho pois que é isso que a população está vendo e vivendo agora. A presidenta tentando, mesmo que de forma equivocada às vezes, resolver seus problemas, os da população, claro.
E pior, a impressão que é a única ou uma das poucas que está imbuída desse propósito.
Daí, mesmo que não volte aos níveis de popularidade ostentados antes, a razão da recuperação de seus índices de aprovação.
Que deverão se manter oscilando ora para mais, ora para menos, pelo menos até a Copa no ano que vem. Quando novamente a questão da gastança de verbas públicas, dos elefantes brancos, da escassez de recursos em áreas prioritárias, a proximidade das eleições, e dos efeitos deletérios dos preparativos para a Copa junto a grande parcela de pessoas e comunidades - os prejudicados pela Copa do Mundo, ganharão, aí sim, uma força que considero descomunal.
É esperar 2014 chegar, para ver.

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