quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Como os interesses afetam na análise de questões econômicas

Na Folha de ontem, o professor Alexandre Schwartsman passa toda a sua coluna destilando, mais uma vez e como lhe é peculiar, críticas ácidas aos membros da diretoria do Banco Central, de que ele já fez parte, anteriormente.
Na verdade, suas colunas e ideias parecem, muitas das vezes, apenas expressões de uma certa má vontade, talvez até despeito, por não ter mais assento, nem poder tomar as decisões da envergadura e porte com que a turma atual de diretores tem que lidar.
Na oportunidade, a crítica é ao conteúdo da ata da última reunião do COPOM, responsável por elevar a taxa de juros da Selic em 0,5%. Para o colunista, por meio de uma frase cuja elaboração é uma aula de como não ser transparente na comunicação de qualquer que seja o assunto tratado, o COPOM está apenas admitindo sua submissão ao Executivo.
Concordando com o articulista em que a frase é cheia de contorcionismo e ginásticas que visam, sob a forma indireta, passar informação de extrema relevância ao público e aos “tais mercados”, a verdade é que o BC de fato é órgão que deve submissão ao governo federal. Afinal nosso BC não é independente, felizmente. Mesmo que no exercício de suas atribuições, por motivos até mesmo técnicos, o BC e seu corpo funcional tenha que ter autonomia.
Não há como confundir autonomia operacional da instituição Banco Central e sua diretoria, indicada pelo chefe do Executivo, com a independência que o economista pretende fazer valer, para permitir ao Banco adotar medidas que possam ser contrárias aos interesses do governo eleito pelo povo.
E o que diz a frase que causa toda a coluna, o que apenas me faz questionar como a Folha gasta tanto espaço e papel com alguém como o Professor, por mais que seu currículo possa ser digno de respeito e elogios, como também sua trajetória profissional?
A questão é que, por meio de subterfúgios, o COPOM afirma que, já que o governo está se propondo, e adotando medidas que visam a reduzir os gastos públicos, visando efetivamente cumprir suas metas fiscais, de geração de superávits primários, pode ser que daqui em diante, não seja necessária a manutenção de uma política monetária restritiva.
Ou seja, pode ser que, face às declarações de intenção do governo, caso os gastos sejam de fato contidos, a política de juros não precise continuar na escalada que as atas anteriores faziam antever.
Ora, antes, quando prometia puxar as taxas de juros sempre que necessário, ou seja, sempre que a diretoria do Banco apostava que o governo não cumpriria suas metas fiscais e prometia reagir, o articulista acreditava que o palpite do Banco estava correto e que aquela instituição estava demonstrando independência frente ao governo, mesmo que submisso aos ordenamentos do mercado. Ou seja: enquanto submisso aos interesses financeiros do mercado tudo era aceitável. Tudo bem!
Mas quando, até por força de suas ações e políticas, o BC consegue extrair do governo uma postura mais, digamos, responsável em relação às contas públicas, o banco não pode dar um crédito ao governo, apenas porque o professor faz apostas em direção contrária.
OK, dirão alguns. O governo é mestre em prometer e não entregar. Mas, não é disso que se trata aqui. A meu ver, trata-se de uma sinalização necessária, tão necessária quanto as anteriormente feitas pela autoridade monetária, de que, caso o governo cumpra agora sua parte, a política monetária não precisará compensar a política fiscal expansionista.
Algum problema no raciocínio? Está dito que a taxa Selic não irá subir, caso a promessa não se cumpra? Não. Em nenhum momento a afirmação, por mais confusa que seja, permite se extrair tal conclusão.
E o professor apenas gasta toda a coluna, porque seus interesses são no sentido de juros sempre mais elevados. Não é a toa que, em colunas anteriores, ele já deu a entender, inclusive, que é inadequada a preocupação com o nível de emprego ou desemprego, como justificativa para não se tentar acabar com a inflação de um só golpe.

Bem, falta apenas, dizer que o professor que defende o desemprego, é vinculado além de sócio de empresa com atuação no mercado financeiro. Exatamente o tipo de instituição que mais se beneficia com a alta de juros, que ele teme não mais se verificar...

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