quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Justiça ou Vingança: o que deseja a sociedade?

Devo admitir que é limitado meu conhecimento quanto a leis e ao Direito, como já tive a oportunidade de manifestar nesse espaço, em pitacos anteriores.
Mas a verdade é que o voto do Ministro Barroso foi de uma felicidade ímpar, quando afirmou taxativamente que a permanência do Estado de Direito impõe o dever de que o direito de onze cidadãos não venha a ser sobrepujado pelo interesse, torcida, opinião ou desejo de milhões de outros cidadãos.
Referia-se o Ministro, à aceitação dos chamados embargos infringentes, que permitem que o réu que obteve 4 votos favoráveis a sua absolvição tenha o direito de ver sua causa examinada uma segunda vez, como que se o tribunal, a título de evitar qualquer injustiça, promovesse uma segunda oportunidade de exame da questão aos seus membros.
Cria-se assim, a oportunidade de que aquele juiz que tenha votado sem muita convicção, possa alterar sua posição, tomando a decisão mais adequada a sua consciência.
No caso em tela, o mensalão, a aceitação dos tais embargos infringentes iria alcançar a 11 dos réus, sendo alguns deles os de maior projeção política, como o ex-ministro José Dirceu, o deputado José Genoíno e João Paulo.
Caso mantida a decisão da maioria, em um reexame da acusação e julgamento em relação à denúncia de formação de quadrilha, vários desses políticos teriam suas penas validadas, o que significa que teriam que se submeter à privação de liberdade. Traduzindo em miúdos: vários deles iriam pagar na cadeia.
Dessa forma, a alma nacional estaria começando a ser lavada, e uma pá de cal estaria sendo lançada definitivamente sobre a famosa e indecorosa impunidade, uma das faces de expressão de todas as nossas mazelas.
Será?
Sem querer entrar nessa discussão, e sem entrar na questão de tais embargos terem o poder de arrastar, ao menos para os 11, e para o caso de apenas alguns crimes específicos dentre aqueles por que foram condenados, a verdade é que, consagrados e aceitos por nossa Justiça, seria estranho que tais embargos não fossem acatados, apenas para saciar a nossa pressa de ver o caso do mensalão liquidado e seus membros devida e severamente punidos.
Foi sob essa ótica que achei o voto do Ministro Barroso importante. Porque ele me fez lembrar de um filme famoso de Hollywood, estrelado por Henry Fonda: 12 homens e uma sentença.
Um filme que é uma aula de como uma dúvida razoável que possa ser arguida em favor da inocência de alguém, deve ser levada em consideração, mesmo que nossa impressão seja negativa a respeito de quem esteja sendo beneficiado por tal postura.
Ora, no filme, realizado em dia de decisão final de campeonato esportivo nacional, todos os jurados só desejavam deixar a sala onde estavam reclusos, e onde o sistema de ventilação estava funcionando precariamente ou não funcionava, para poderem voltar a suas casas, suas famílias e à tevê, onde o jogo estaria sendo transmitido.
O resultado foi que, uma pequena dúvida levantada pelo personagem de Fonda foi suficiente para que, noite adentro, um a um dos jurados fosse sendo convencido de que não havia suficiente prova, senão evidências para que o réu não fosse condenado.
Até a decisão final, o jogo já tinha acabado há algum tempo, e já não restava mais motivos para que a pressa não desse lugar a um julgamento mais isento.
***
Pois bem, o ministro disse com todas as letras que tanto quanto a sociedade não vê a hora de o julgamento chegar a seu termo. E ver as punições serem aplicadas. Mas isso não significa que sua consciência lhe permitisse sobrepor ao direito desses 11 embargantes a vontade da pressa e da punição que está sendo cobrada por toda a sociedade brasileira.
Que o embargo venha a representar um mero instrumento protelatório, isso faz parte do jogo. Mas, a decisão diz respeito a se fazer justiça. Não vingança. E é esse tipo de pensamento e comportamento que cria um judiciário confiável. E é exatamente isso que a sociedade brasileira está reivindicando: instituições confiáveis.

Parabéns, pois, ao ministro.

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