segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Que soberania, cara pálida?

Novas acusações apresentadas no Fantástico, mostram que um dos alvos da espionagem americana em nosso país foi a Petrobrás.
Lamentavelmente por força de problemas em meu notebook, perdi todo o texto que havia preparado para postar ainda na última sexta feira, e que acreditava ter sido salvo.
Tudo bem, e quem tem costume de lidar com essas tecnologias modernas, quaisquer que elas sejam, sabe bem que estamos sujeitos a esses contratempos. E, também não há grandes problemas em que o conteúdo tivesse sido perdido.
Exceto que havia, mesmo de forma não intencional, uma ligação em algumas das notas com a denúncia agora apresentada.
Isso porque eu abordava a questão da pretensa invasão da Síria, por forças americanas, sob o argumento de que a ditadura sob o comando de Bashar al-Assad, havia sido a responsável pelo lançamento de armas químicas contra o próprio povo sírio, a maioria composta por civis favoráveis às forças rebeldes que lutam na tentativa de derrubada do governo, inclusive crianças.
Comentei algumas de minhas perplexidades em relação a toda a situação. Perplexidades que não querem calar.
A primeira delas, a lembrança que me veio à memória, do ataque ao Iraque de Saddam Hussein, pelas mesmas forças americanas, em função da existência, várias vezes afirmada, de armas nucleares ou melhor de um arsenal nuclear sob controle do ditador iraquiano. Armas nunca encontradas, diga-se de passagem.
Armas que foram apenas o mote, a causa para que os Estados Unidos pudessem invadir aquele país, grande produtor de petróleo, assegurando e resguardando para si, as reservas gigantescas de óleo daquele país.
Aliado ao petróleo, em minha opinião, o ataque visava também, de certa forma, resguardar o poder do dólar como moeda reserva internacional, ameaçado pela decisão de Hussein de só vender seu produto contra o pagamento em euros.
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Naquela oportunidade, estavam dados já todos os elementos da mesma trama que envolvem hoje a situação síria. A presença de um ditador cuja amizade e manutenção no poder perdeu a importância estratégica para os Estados Unidos.
A presença de órgãos de espionagem assegurando a presença de armas nucleares, em um caso, químicas em outro. Claro, a presença desses órgãos bisbilhotando outros povos, sem que eles efetivamente tivesse algum conhecimento verdadeiro.
A questão do petróleo, no caso específico do Iraque, e os interesses do vice-presidente americano à época do ataque, e do próprio Bush, consultor que fora de grandes companhias petrolíferas, no início, fortalecidos tais interesses pelos advindos da posterior e necessária reconstrução do país destroçado, e das grandes empreiteiras e construtoras por trás do projeto.
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Que houve o lançamento de gás Sarin, parece inegável. E, desse tipo de arma, o americano conhece e entende bem, tanto talvez, quanto os vietnamitas que foram vítimas de suas experiências com esse tipo de gás, desde os idos da guerra do Vietnam.
Mas, entre conhecer do gás e seus efeitos, conseguir até identificar sua utilização real em terras sírias e, daí, ter a certeza e poder garantir que o uso foi determinado pelas forças de Assad, e não pelos rebeldes, é no mínimo, um salto acrobático de raciocínio.
Inútil dizer que a história está repleta de exemplos de conquistas obtidas, fundadas em situações em que os ataques partiram do comando do próprio lado agredido.
Mas, os Estados Unidos adotaram a postura mais cômoda e já definiram que o responsável pelo ataque foi o ditador sírio, razão suficiente para merecer o apoio da comunidade internacional para um possível ataque.
O que só não se concretizou por força da insistência do governo russo, em não aceitar qualquer ação militar, salvo se comprovada sem sombra de dúvidas a autoria do lançamento.
Nessa situação, parece que Putin adotou a posição mais coerente, capaz até de impedir que mais uma tolice seja desencadeada sob o beneplácito da ONU.
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Diga-se de passagem, no caso, ser também bastante curiosa a postura das Nações Unidas, extremamente ágil em se pronunciar em relação ao crime contra a humanidade, ou ao genocídio, que vem varrendo a Síria. Sinal dos tempos. Ou sinal das mudanças que todos vimos experimentando, em parte, graças ao fato de a nossa tecnologia moderna permitir, de fato, transformar o mundo cada vez mais em uma aldeia. Onde as informações fluem de forma a que todos participam dos eventos, e sentem seus efeitos, no mesmo instante em que as coisas estão se dando.
Pena que o mesmo não se deu, nem a ONU agiu de qualquer forma, tempestivamente, nos casos anteriores de Ruanda, Darfur, e outros, onde os agressores eram os países ocidentais.
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Agora, perplexo eu comentava o que Zé Simão já publicou na Folha, como anedota: os Estados Unidos vão lançar um ataque de guerra, para manter a paz. Ou permitir que a paz seja restabelecida. O que é no mínimo curioso.
Mais ainda na região e com o principal aliado e protegido  americano, Israel, tão próximo.
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Mas, sem aceitar os argumentos até aqui apresentados em prol de uma ação militar, e sem entender os interesses americanos na Síria, os reais interesses, a verdade é que uma outra perplexidade me aflige.
Trata-se da competência dos órgãos americanos de informação, e suas espionagens que já fizeram afirmações quanto à  existência de armas, de autoria de crimes, etc.  e erraram tantas vezes.
Que confiança órgãos com esse histórico podem despertar?
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E daí cheguei ao escândalo da espionagem perpetrada pela CIA, conforme denúncia de Snowden, em especial nos interesses de o governo americano, a título de detectar e poder prevenir-se contra a adoção de atos terroristas, em vigiar o Brasil.
Particularmente, afirmava no post não publicado e continuo achando curioso ainda agora, que toda essa espionagem em que nosso país parece assumir uma posição de grande destaque pelas informações das reportagens do The Guardian, venha a surgir após a descoberta de nossas jazidas de petróleo do pré-sal.
Ou seja: mais uma vez, aquele elemento comum aos casos anteriores, está presente: o petróleo.
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Agora o Fantástico abre o jogo. A Petrobrás, a empresa líder mundial na exploração de petróleo em águas profundas, foi sim, alvo da espionagem. Talvez com maior interesse do governo americano por essas informações, que em relação à maioria das demais áreas e ministérios do governo Dilma.
E sempre lembrando que Dilma foi presidente do Conselho da Petrobrás, o que, justificaria, também, manter o controle sobre toda a comunicação e emails que a presidenta do país é parte envolvida.
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Dilma está certa em cobrar do governo americano mais que um pedido de desculpas ou um arremedo de justificativas. E, já que cada vez mais a questão deixa de ser, como anunciada, vinculada a interesses de segurança e prevenção contra atos de terrorismo, tomando a feição de MERA  e SIMPLES guerra comercial, exigir que o governo americano abra todos os seus arquivos de informações. Mesmo sabendo que isso é outra utopia, e que mesmo que concorde em abrir seus arquivos, as informações importantes capturadas não serão apresentadas.
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Pena que tudo isso venha à luz, no exato momento em que comemoramos mais um aniversário de nossa independência como nação. Época de comemorações de nossa autonomia e soberania.
Que soberania, cara-pálida? poderia ser perguntado, quando há no mundo um país que não respeita nada que não seja seus próprios interesses e seu umbigo?

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