quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Novos partidos, mais ingredientes para a salada de letrinhas

O TSE aprovou no dia de ontem, a criação de mais dois partidos políticos em nosso país, ambos aptos já a participar das eleições do ano que vem, inclusive com a indicação de candidato a presidência; além de horário gratuito nos rádios e tevês, e financiamento pelo Fundo partidário.
Foram aprovados o PROS - Partido Republicano da Ordem Social, seja lá o que isso possa vir a significar e o Solidariedade do deputado Paulinho da Força Sindical.
Como se sabe, mais uma legenda ainda pode ser criada até o dia 5 de outubro, a Rede Sustentabilidade de Marina Silva, cuja demora em registro nos TREs tem despertado suspeitas de que a demora esteja mais vinculada à força representada pela ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata a presidência, e ao estrago que ela poderia fazer ao projeto de reeleição da presidenta Dilma.
Afinal, Marina aparece em todas as pesquisas colocada em segundo lugar na preferência do eleitorado, com a previsão de um percentual de votos capaz de provocar irremediavelmente a necessidade de um segundo turno.
Claro que, embora essa possibilidade traga um potencial de estrago muito maior aos planos do PT, já que a eleição em segundo turno acabaria assumindo um caráter plebiscitário, agora entre duas candidaturas que, a princípio, poderiam parecer ter muitos pontos em comum, inclusive sua origem, é inegável que atrapalha também os planos de Aécio e seu PSDB e de Eduardo Campos.
Como se sabe, Marina é oriunda do PT e em seu discurso defende muitos pontos caros à uma esquerda que poderíamos chamar de esquerda light,  a começar da questão do meio-ambiente, da sustentabilidade. Temas que, mesmo não agradando nem um pouco aos interesses do grande capital, não impediriam o fato de que todas as correntes situadas mais direita do espectro político, da centro direita de Aécio à direita de um Bolsonaro ou Maluf, pudessem se unir em torno da sua candidatura, de forma a retirar o PT do poder, em que está instalado há 12 anos.
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Na verdade, o que Marina representa, é uma incógnita, embora seu discurso mais moderado tenha sido muito bem recepcionado e mostrou-se bem ao gosto de grande parcela do eleitorado mais conservador, mas não extremista, como por exemplo o de Minas. Aliás, até mesmo de um eleitorado como o de BH, capital das Minas, onde ela foi a mais votada candidata nas eleições passadas, expressão do cansaço do eleitor em relação a mais do mesmo.
Mas, é bom lembrar que se as posturas de Marina são bastante avançadas em relação à questão da terra, do meio-ambiente, das questões ecológicas, suas declarações em questões outras que estiveram presentes na agenda da disputa eleitoral, como o aborto para citar um único exemplo, é bastante influenciada por sua opção religiosa, evangélica que é, e portanto mais conservadora.
O mesmo discurso conservador pode ser observado em outras questões relativas a comportamento e questões de cunho mais pessoal.
Já em relação a outros grandes problemas nacionais, pouco se sabe e pouco se procura conhecer de sua posição pessoal ou do que é sua plataforma.
Certo mesmo é que sua presença na cédula como candidata a presidência atrapalha e muito os planos de Aécio, de Eduardo Campos, embora ambos possam ainda ter mais uma chance, em função de idade e etc., nas eleições de 2018.
Afirma-se inclusive, que a candidatura de Campos nesse momento teria apenas a finalidade de que o governador de Pernambuco pudesse se cacifar e ganhar mais visibilidade e força para daqui há quatro anos.
Já em relação a Aécio, a dúvida é outra, e tem a ver com a necessidade de que para chegar fortalecido a 2018 ele deveria estar ocupando algum cargo executivo, de maior visibilidade, além da eterna briga intestina do PSDB, que reforçaria muito uma candidatura paulista, caso ele fosse derrotado em 2014.
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Mas, não era isso que eu queria comentar nesse pitaco e sim a expressão crítica de todos os comentaristas e jornalistas e apresentadores de televisão, ao noticiarem a criação dos dois partidos.
Em alguns casos, inclusive, deixando claras suas críticas em relação à quantidade exagerada de partidos existentes em nosso sistema político eleitoral.
Bem, por curiosidade, fui pesquisar no santo Google, a quantidade de partidos existentes nos Estados Unidos, considerada a nação mais democrática do mundo, pero no mucho.
É que já tinha ouvido falar que lá são muitas as siglas e agremiações, muitos os partidos existentes, embora o que chega a nosso conhecimento é a informação da existência de dois partidos, Democratas e Republicanos.
Por ocasião das eleições realizadas naquele país, no máximo se comenta na existência de um ou outro candidato independente, como por exemplo, já se falou a tempos atrás, de Ralph Nader, o líder da luta a favor dos direitos do consumidor.
Pois bem, a verdade é que sites consultados indicaram que disputam as eleições naquele país, ao menos 6 partidos, embora as regras do jogo lá são de forma a que, de fato apenas dois deles tenham chances, os mais famosos.
Inclusive, como se sabe, com a vontade do povo manifestada nas urnas pouca influência tendo em algumas situações, já que o sistema eleitoral americano prevê a eleição indireta como a realmente decisiva. Essa regra que explica, por exemplo, a eleição de Bush filho, embora ele tivesse sido derrotado em número de votos populares por Al Gore.
É que lá o 'establishment' tem peso e se manifesta, o que torna o país mais democrático do mundo mais uma ficção de quem foi capaz de elevar o cinema e toda sua fantasia ao ponto que Hollywood conseguiu projetá-lo.
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No caso brasileiro, o problema não é a quantidade de siglas, que alcança as 32. Nem a necessidade de que a continuidade dos partidos passasse a depender do cumprimento das chamadas cláusulas de barreira, que obriga a ter um mínimo de percentual de votos e candidatos eleitos, em mais de um estado da federação.
Essas cláusulas já existem ou estão previstas, e deveriam, no caso ser apenas mais bem fiscalizadas.
Afinal, cada grupo de pessoas que se associam deveriam ter uma ideia comum, um pensamento comum, uma visão de mundo ao menos semelhante. E, não é difícil imaginar que essas visões de mundo são bastante díspares, justificando a criação de várias agremiações, mesmo que aos olhos da maioria, algumas delas com ideias também disparatadas.
O problema é que não a criação de novos partidos no nosso país não apresenta qualquer distinção em relação a questões de fundo ideológico, como seria de se esperar. Tão somente, serve para que grupos de oportunistas, com os mesmos pensamentos de milhares de pessoas inscritas e militantes de outras siglas, às quais se encontravam ligados até pouco antes da criação dos novos partidos, aproveitam a oportunidade para terem condições de acesso a tempo de propaganda, para depois transformarem esse direito em matéria de negociação, tudo visando tão somente o enriquecimento e a obtenção de vantagens pessoais.
O problema é que, não há nenhuma divergência de fundo, de conteúdo, nenhuma ideia ou proposta nova, distinta, mesmo que fosse estapafúrdia, apresentada pelas novas siglas. Situação que, no caso, apenas serve para enfraquecer nossa democracia e sua representatividade.
Ora, como todos os partidos acabam se tornando meramente uma salada de letras, às vezes desconexas até, estar em qualquer deles é normal e não causa nem surpresa nem espanto, o que contribui para que a infidelidade partidária não seja realmente uma traição a qualquer princípio programático ou de concepção de vida.
Não se trata de trair ideais (afinal, um conjunto vazio de ideias), mas de fazer arranjos que possam acomodar grupos políticos rivais. Em que a rivalidade é apenas em relação a qual dos grupos irá se aproveitar das vantagens do exercício do poder, em dado momento.
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Pior ainda, no caso da criação de novas siglas é que, percebendo esse problema da infidelidade partidária, que nega e suprime o interesse e desejo do eleitor (na hipótese também fantasiosa de que o eleitor vota por ideias e plataformas e convicções políticas) que elegeu um candidato de um partido que depois muda para outro com posições diametralmente opostas, nossa legislação tentou impedir esse troca-troca de siglas.
Ficou aberta entretanto a possibilidade de que a infidelidade, agora com outro nome e outra forma, pudesse continuar acontecendo, desde que os eleitos por um partido - para não serem punidos com a perda do mandato, migrassem para um partido novo.
Ou seja: mais uma vez o jeitinho brasileiro funcionando para consagrar o pior que tem no nosso caráter macunaímico.

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