terça-feira, 24 de setembro de 2013

As dificuldades de se buscar fazer justiça. Quando as evidências enganam...

Ouço agora, em programa jornalístico da Record: o laudo da polícia criminalística de São Paulo confirma não ter sido encontrado vestígios de veneno no bolo ou no refrigerante ou suco do lanche feito pela família que foi encontrada morta.
Com tal resultado, fica cada vez mais forte a versão de que não houve os crimes que levaram a polícia a suspeitar e conseguir autorização para prender e prender, finalmente, o namorado da vítima.
Por questão de justiça, é preciso reconhecer que todas as informações e indícios apontavam o dedo acusador para o boliviano, pai de uma filha da mulher encontrada morta.
Acusações de agressão contra a namorada que inclusive já tinha registrado boletim de ocorrência contra o namorado; o fato de o boliviano ser considerado de temperamento agressivo e explosivo; de ter estado  na noite anterior, com a filha menor do casal, visitando a família vitimada; de ter participado do lanche, mas não ter provado (nem ele, nem a filha) daquilo que os demais comeram. O fato de ter voltado no dia seguinte à casa da namorada, o que não era seu costume, etc. etc.
É preciso mesmo admitir: tudo indicava ter havido uma chacina, e o suspeito, para tranquilidade da sociedade estava já preso.
Mas, não.
Como se sabe, a pressa é péssima conselheira. E nos leva a juízos equivocados.
E foi esse o caso, a julgar pela constatação de que não houve envenenamento.
Houve sim, um acidente, mais um com vazamento de gás, em um apartamento em que o vazamento referido já teria feito uma vítima, rapaz de 23 anos de idade, recém-casado, além da filha que o casal esperava e que foi abortada.
Parece-me que nem foi esse o único caso de problemas com o vazamento de gás, naquele local.
***
Confesso que também eu, ouvindo as notícias, cheguei a acreditar que, pelo menos nesse caso, a polícia agiu rapidamente e solucionou o crime.
Ledo engano.
Mais um engano e uma peça que nos prega a vida. E a pressa de querer fazer justiça a qualquer custo, que às vezes nos invade e nos impele a acusar sem suficientes elementos que capazes de darem  suporte a nossas convicções tão apressadas e, por isso, insustentáveis.
***
Na verdade o problema é que desejamos sangue. Vingança. Intimamente, queremos a aplicação da lei de Talião.
Parece-me ainda não sermos suficientemente evoluídos e humanos ou racionais, para formarmos nossas verdades em momentos de comoção. Mesmo que, como no caso da família de São Paulo, não tenhamos qualquer contato ou conhecimento com quaisquer dos envolvidos.
Mas, a mídia, o bombardeio de informações nos coloca como participantes desses eventos e pior, nos induz a formação de juízos que podem ser completamente equivocados.
E esse é um perigo a que estamos sujeitos e que poucas vezes nos preocupamos em discutir.
***
Tratando ainda de laudos, o do menino de 13 anos de idade, suspeito de ter matado os pais policiais, além da avó e uma tia-avó, afirmando ser o menor portador de uma doença mental que o fazia ter o mesmo comportamento de um Dom Quixote é mais uma peça do intrincado quebra-cabeças que cerca toda a situação.
Especificamente nesse caso, não que as notícias não estivessem certas ao apontar, desde as primeiras versões a suspeita da polícia quanto à autoria da chacina e o protagonismo do menor.
Mas, a reação de vizinhos, de colegas, de parentes, ao menos no início da fase de tomada de depoimentos, poderia fazer levantar suspeitas de outra autoria, com a história toda apresentada servindo tão somente para esconder vestígios ou encobrir a verdade por trás da chacina.
O laudo agora, embora mais uma peça que deverá continuar ensejando suspeitas e dúvidas, apresenta mais uma evidência que corrobora a versão primeira investigada.
Quanto à família do garoto e a reação que terá nesse momento, é de se esperar que não soubesse mesmo da situação do menor e de seu problema mental, embora os parentes pudessem saber de que o menino foi vítima de falta de oxigenação no cérebro  em procedimento a que se submeteu quando ainda muito novo.
Mas, nesse caso, talvez nem os pais soubessem da possibilidade de o menino ter delírios, já que como o laudo informa, a doença não provoca necessariamente transtornos que pudessem ser identificados com facilidade.
***
Ou seja: como são enganosos nossos julgamentos, capazes de nos fazerem facilmente acusar um inocente e, por força de uma série de circunstâncias, como a carinha boa e simpática de um menino, adotarmos postura de simpatia inesgotável por quem efetivamente cometeu atos condenáveis pela sociedade.

Nenhum comentário: