terça-feira, 1 de julho de 2014

As vergonhas de uma BH que não sabe receber turistas

Primeiro foi a notícia de que um argentino teve o dedo da mão quebrado, por não ter largado a bandeira de seu país, justo quando iria ter início a Copa do Mundo e a seleção argentina ultimava os preparativos para sua chegada à Cidade do Galo, nessa aprazível capital mineira.

Em segundo lugar, houve a notícia da invasão da cidade pelos colombianos, para alegria dos comerciantes instalados, principalmente no Mercado Central, que elegeram nossos vizinhos como os que mais gastaram em produtos artesanais e até em nossa cachacinha.

Aí houve a notícia da prisão de 16 colombianos, que resolveram fazer arrastão pelas ruas de BH.

Enquanto tudo isso acontecia na capital das Alterosas, um grupo de chilenos, sem ingresso, forçava a entrada na arena Maracanã e, após cenas de depredação e violência, acabaram sendo presos, com 85 deles sendo deportados.

Até então, não ouvi ou li nada a respeito de maiores confusões entre turistas que nos visitam para acompanharem os jogos e nossos patrícios. Claro que provocações e alguma confusão deve ter havido, mas nenhuma capaz de ganhar as manchetes dos jornais, dada sua insignificância ou pequena dimensão.
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Foi então que, para mostrar o espírito cordato e amistoso do nosso povo mineiro, houve a vergonhosa briga das garrafadas na Savassi, local de concentração de todos quanto vêem visitar nossas Minas Gerais e torcer por seu time.
O que obrigou a PM a agir com alguma firmeza, efetuando a prisão de um belo-horizontino e precisando agir com presteza para socorrer a outro, também mineiro, agredido selvageria com que nós, mineiros, mostramos que sabemos e estamos habituados e preparados para receber aqueles que querem ver as obras de Aleijadinho, nossas cidades históricas, etc.
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Nesses momentos, ocorre-me a mim que sou mineiro, e nascido nessa BH, a questão do caráter ou temperamento do povo criado nas montanhas e que, por esse motivo, e pelo difícil acesso de estrangeiros a estes sítios, aprendeu a cultivar uma desconfiança que virou a marca do povo, talvez a característica definidora da alma dessas gentes.
Gente brava, leal, acima de tudo honesta, mas desconfiada como só...
E lembro-me da história que ouvi de antepassados, justificando a alcunha de nossos conterrâneos, principalmente daqueles que habitavam a cidade primaz de nossas Minas,  Mariana e seus gaveteiros.
Diz a lenda que ao estarem todos reunidos à mesa e ao ouvir o tropel dos animais de carga e transporte, os donos das casas grandes abriam os gavetões sob o tampo da mesa e escondiam ali a comida, para que não tivessem que dividir com os visitantes a refeição.
Vem daí, provavelmente, a fama de pão duro do mineiro, para o bem ou para o mal. E o reforço da ideia de que o mineiro desconfiado sempre acreditava que as visitas queriam apenas explorar da sua hospitalidade.
Mas, como disse, essa é a lenda...
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Agora, show de educação, de espírito de cordialidade foi a atitude dos presentes ao Mineirão, ao ouvirem o hino chileno ser cantado a capela, como ela a torcida daqui e de todo o país se orgulha de fazer.
Pois bem. Eu já tinha observado e até comentado como o povo chileno, reconhecidamente educado, civilizado e politizado, estava dando uma demonstração de civismo, ao cantar o seu hino até o final, da mesma forma que nós brasileiros estávamos fazendo, até em reação à forma desrespeitosa como a FIFA trata os hinos dos países, interrompendo-os sem qualquer motivo aceitável.
Mas tinha de ser em Minas e nessa terra que tanto se acha culta, dona das letras, terra dos poetas e músicos, etc. etc., que tinha que ocorrer a vergonha maior dessa Copa, mesmo ainda longe de a competição chegar a seu final e sabendo que a coisa ainda pode ficar pior já que ainda está previsto mais um jogo para nossa cidade.
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A vergonha que me dá ser mineiro nessa hora. A vergonha de ser nascido aqui, onde tantas pessoas ao invés de se comportarem de forma educada, civilizada, cordial, como em tantos outros estados e cidades que assistiram a partidas do Chile, acharam ser de bem ou de bom tom, vaiarem a segunda parte do hino chileno, é tão grande que só mesmo escrevendo e postando esse desabafo.
Mesmo que o meu comentário seja injusto, já que apenas 50 a 60 mil pessoas estúpidas estavam presentes nessa hora que nos cobre de vergonha e, mesmo dentro do estádio, alguns presentes devem ter tido comportamento diferente dessa turma que nos fez mais uma vez ocupar as manchetes de todo o mundo, pena que pelo lado negativo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro PC,

Em BH a falta de educação e de respeito para com o semelhante ou com as leis está se tornando comportamento padrão, principalmente deste juventude que não tem limites para nada. Infelizmente aquele povo bravo, educado, desconfiado e acolhedor que você citou, ficou em um passado que vai se tornando cada vez mais distante, a realidade de hoje é a da selvageria.
Grande Abraço,

Élcio