Primeiro foi Ivan Junqueira, poeta, membro da Academia Brasileira de Letras e como tal imortal, no início do mês de julho.
Depois, foi o baiano João Ubaldo, também imortal, também membro da Academia, escritor, romancista.
Nem bem tínhamos superado o susto, no dia seguinte à morte de João Ubaldo, chega a notícia da perda do mineiro Rubem Alves, também escritor e um dos principais educadores do país, filósofo da educação, para quem ensinar é um ato de alegria, e como tal deve ser exercido com paixão e arte. Segundo o wikipedia, um ofício que deve ser "como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir. Ensinar é fazer aquele momento único e especial. Ridendo dicere severum: rindo, dizer coisas sérias. Mostrando que esta, na verdade é a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento. Agindo como um mago e não como um mágico. Não como alguém que ilude e sim como quem acredita e faz crer, que deve fazer acontecer."
De Rubem Alves, e seu pensamento capaz de subverter os padrões tradicionais, transcrevo abaixo um texto seu que trata da inteligência. Texto que deveria ser mais divulgado e explorado, não fosse o conservadorismo que domina nossa sociedade e até mesmo, curiosa e contraditoriamente, nossas escolas. Eis o trecho:
"Veio-me a idéia de que a inteligência muito se parece com o pênis. Não se assuste: o mundo está cheio das analogias mais estranhas. Pois o que é o pênis? É um órgão que, no seu estado normal, é um apêndice ridículo, flácido, que realiza funções excretoras automáticas, que não demandam grandes reflexões. Mas, se provocado pelo desejo, ele passa por curiosas metamorfoses hidráulicas que lhe dão a capacidade de ter prazer, de dar prazer e de criar vida. Se não há desejo, é inútil que a cabeça lhe dê ordens."
Esse o pensamento provocador do mestre, a quem rendo minhas homenagens como cidadão brasileiro, e como professor que procuro ser.
Curiosa é a imagem por ele evocada do circo, do picadeiro e do palhaço, exatamente as imagens tão caras a esse outro imortal, membro da ABL desde 1989, que nos deixou ontem, o poeta, escritor, teatrólogo, e gênio da raça, Ariano Suassuna.
O que nos leva a concluir que Deus, que diziam ser brasileiro, está talvez tentando nos mostrar que, ou nós, povo brasileiro assumimos nossas responsabilidades e nossos destinos, construindo um país melhor, com mais educação e mais consciência, com mais dedicação e respeito, com mais seriedade, sem perder a capacidade mágica do riso jamais... ou Ele vai começar a retirar de nosso convívio, um a um daqueles seu mensageiros que Ele nos enviou, que ele nos emprestou para que aprendêssemos e cujos ensinamentos ainda não conseguimos sequer entender e muito menos colocar em prática.
Com isso, os imortais vão partindo para outras esferas e planos. E nós, aqui, ficando reduzidos cada vez mais a um ambiente sem graça, cada vez mais indigente de humanismo e de brilho intelectual.
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