terça-feira, 15 de julho de 2014

Pitacos de fim de Copa e a vitória da Alemanha sobre uma Argentina em frangalhos

Em jogo muito movimentado em seu início e em que a falta de pernas dos jogadores argentinos acabou se tornando importante fator para a queda de movimentação e até para a queda de ritmo no final, situação que só foi ficando mais e mais nítida quando a prorrogação teve início, a Alemanha sagrou-se campeã de uma das melhores Copas dos últimos anos.
Embora não retire da Alemanha os méritos pela conquista, é sempre importante recordar que os argentinos haviam jogado uma partida duríssima contra a Holanda, com direito a prorrogação de 30 minutos, um dia depois de a seleção alemã ter feito um treino tático de aquecimento contra a vergonhosa seleção de Felipão.
Portanto, em minha opinião, poderia ter sido outro o resultado do embate e da Copa, se os dois times estivessem em igualdade de condições e o próprio jogo teria sido muito mais agradável de se assistir, já que se a Alemanha equilibrou o jogo no segundo tempo, na primeira etapa da prorrogação a Argentina já mostrava claramente os efeitos do cansaço, dando chutões e arrastando-se, como se pedindo a Deus ou ao Papa Francisco para que o jogo fosse logo para as penalidades.
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Da disputa entre o Papa Emérito Bento XVI e o Papa Francisco, vindo lá do fim do mundo como ele mesmo se definiu, foram as preces do Papa alemão que Deus ouviu com mais nitidez e, no fim da segunda etapa da prorrogação, quando tudo já parecia definido e as penalidades eram favas contadas, jogada pela esquerda encontrou Goetze na área, completamente livre de marcação, para matar a bola no peito e sem deixá-la cair no gramado, fuzilar inapelavelmente o gol de Romero.
Alemanha 1 a zero.
Gol do futebol mais vistoso porque coletivo. Gol do futebol mais objetivo. Gol que resgata a técnica no futebol, e põe em destaque a organização, o planejamento, o profissionalismo.
Enfim, gol que nos serve para que possamos extrair várias lições.
Entre elas, a de que jogadores de futebol não precisam ser tratados como meninos de grupo escolar, entrando em campo como soldadinhos de chumbo, um com a mãozinha no ombro do coleguinha da frente, para não saírem da formação.
Outra lição: que jogador de futebol pode até saber cantar o hino nacional, já que cada vez mais, felizmente os jogadores tanto quanto o povo que representam está adquirindo mais cultura, e mesmo com percalços e deficiências estão ficando mais educados ou escolarizados, o que serve para moldar o homem e o cidadão, ser social capaz de participar dos assuntos que lhe dizem respeito e até de cantar o hino.
Mas cantar o hino se é uma conquista, não é uma solução. E quem não canta ou não sabe cantar o hino pode jogar futebol de qualidade, ao passo que quem o canta a plenos pulmões pode muitas vezes, estar tentando usar dessa sua capacidade para esconder, atrás de um nacionalismo pueril e um patriotismo besta e perigoso, sua inaptidão para a prática do esporte.
De mais a mais, é bom sempre lembrar e a Alemanha foi pródiga em ilustrar isso, que futebol é mais, bem mais que fazer o jogo para a torcida. Razão porquê concordo com o jornalista inglês, comentarista, que detonou com David Luiz, também para mim, um dos piores jogadores da Copa.
Por ser considerado, a partir de um dado momento da Copa, um jogador bonito (?), carismático, capaz de falar bem e até com algum grau de politização, David Luiz passou a se achar um pop star capaz de, sozinho, resolver todos os problemas do time ao qual ele pertencia. De mais um, importante, passou a se sentir o UM, capaz de em um passe de mágica resolver os problemas que o time brasileiro mostrava a cada novo jogo.
Envergando suas vestes de super-herói, David Luiz foi jogar para a galera e não cumpriu nem sua função de capitão, no jogo contra a Alemanha, nem a de jogador de defesa, sendo culpa dele, direta ou indiretamente, ao menos um terço ou a metade dos gols sofridos. Afinal, nosso super-herói de araque, não conseguiu nem mesmo cumprir seu papel primeiro o de ocupar seu lugar na defesa, fechando espaços e impedindo a progressão do time alemão. Que aproveitou para fazer linha de passe na área.
E para não dizer que foi apenas pane, é bom observar que o último gol da Holanda foi muito semelhante à vários dos gols do jogo anterior, para mostrar como estava fácil entrar pelo meio da área brasileira.
Para o cronista inglês, nunca um jogador de alto nível fez uma Copa do Mundo tão ridiculamente ruim como a de David Luiz, a ponto de afirmar que a torcida que vaiava Fred e sua inoperância ter tanta culpa quanto Felipão, já que também não via e não entendia o jogo, aplaudindo o nosso zagueiro.
Concordo em gênero, número e grau com ele.
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E, em meio a todo o desastre,  passei a me lembrar da primeira Copa que acompanhei, no ano de 1962, em que a perda de Pelé, com estiramento muscular na partida contra a Tchecoslováquia foi considerada por muitos como o prenúncio de uma catástrofe.
Não foi. Na partida seguinte, Amarildo, o substituto de Pelé, com dois gols nos classificou contra uma Espanha muito forte, que saiu na frente do placar e que foi prejudicada pela arbitragem.
Naquela época como agora, como lembrou Lottar Matthaus, os times perdiam jogadores importantes e isso não significava o fim do mundo. Para isso, haviam os substitutos. E de mais a mais, o time era um time, não a banda do eu sozinho.
Amarildo substituiu a Pelé, embora tivéssemos o tocador de sete instrumentos, nas pernas tortas do Mané. Esse sim, jogador de alegria nas pernas, já que cada uma saía correndo para um lado do campo.
E lembrei que até marcando gol de cabeça, o que não era nem um pouco usual, Garrincha corria pulando para o meio campo, abraçando a seus companheiros e comemorando. Comemorava como um jogador de futebol, com sua equipe, muito longe das comemorações coreografadas que a gente assiste hoje, e que dá tanto ibope nas midias. A ponto de ser possível o jogador passar mais tempo treinando uns passos de dança para comemorar um gol, que treinar com afinco, para fazer a jogada e dali, surgir inevitável o gol.
Naquela época, jogador não era pop star, e tratava de jogar bola tão somente. Nem queria ser galã, como Fred, nem menino propaganda como Neymar Jr, embora não esteja aqui criticando que ele queira faturar MAIS algum por sua atuação perante as câmeras. Afinal, ganha pouco o menino...
Naquele tempo, quem aparecia nas colunas sociais ou era jogador como um Heleno de Freitas, que não vi jogar, mas ouvi falar sobre sua brilhante capacidade de jogar, e sobre seu final melancólico, em um hospital psiquiátrico, ou então, um jogador como George Best, notável ponta direita inglês, que saia de Londres para ir cortar cabelo em Nova York e pôs fora toda sua fortuna, acabando alcoólatra.
Alguns outros jogadores, quando apareciam fora das colunas de esporte, frequentavam as colunas policiais, envolvidos em brigas, em arruaças, como Almir, o pernambucano, de temperamento forte.
Além de propaganda para pilhas de rádio, acho que as amarelinhas e de bolas de plástico com seu nome, protagonizadas por Pelé, outra propaganda que lembro e que deixou marcas, foi a de Gérson e o cigarro Vila Rica, infeliz união para mostrar que nós brasileiros gostamos de levar vantagem em tudo, Cxxxerto?
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O futebol mudou, claro e os jogadores são participantes de eventos muito mais midiáticos, agindo como pop stars. Mas, não são. Nunca vi, nem Garrincha, nem Pelé ou Didi, ou Newton Santos, preocupados com a tonalidade do cabelo que iriam usar na próxima partida, ou se iriam manter a cor ou descolorir ainda mais, ou então, se iriam usar cabelo moicano ou arrepiadinho com pontinhas viradas para cima, ou para a esquerda ou direita.
O futebol mudou, virou espetáculo e com isso, perdeu.
E Matthaus pôs o dedo na ferida, no caso do time brasileiro. São muito pouco jogadores ou profissionais. São muito prima donnas, embora não tenha usado exatamente essa expressão.
Inclui-se aí, a diferença de comportamento entre nossos atletas e os estrangeiros. Os nossos, qual bailarinos, voam no ar, leves como a pluma e reclamam, jogam a torcida contra o juiz, fazem cenas, choram. Os estrangeiros, levantam e continuam correndo em perseguição à bola, e tanto insistem que a recuperam e, às vezes, saem daí jogadas de ataque muito perigosas.
Diferenças de temperamento, sim. Mas que nos prejudicam como os resultados obtidos não nos deixam esquecer.
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Só para tratar de mais duas questões que achei interessante e pouco foram exploradas.
A primeira, a simpatia da Alemanha. Que como qualquer artista, viaja a nosso país fazendo exigências mil, de tantas toalhas em seu camarim, água de banho a tantos graus exatos, de frutas assim e assado, etc.
A é verdade, a seleção alemã, como todas as demais não fizeram quaisquer exigências.
Mas a seleção alemã, ao contrário de outras, não podia se contentar com pouca coisa. E precisou construir todo um complexo de centro de hospedagem e treinamento para sua estada durante a Copa.
O que será feito desse Centro, agora que a Copa acabou, não vi ninguém comentar. Pode ser que fique como doação ao povo que acolheu tão bem aos alemães.
Mas, outros times foram mais simpáticos, ao contratarem e usarem centros de hospedagem e treinamento já existentes, e com o mesmo nível de qualidade, ou não?
Isso não significa que os jogadores alemães não sejam simpáticos e não soubessem cativar o público brasileiro, mas que a seleção alemã, a meu modo de ver adotou uma postura algo antipática, no mesmo nível daquela postura dos grande artistas que exigem cousas e lousas em seu camarim, não sei não.....
A segunda, como é vergonhoso, embora natural já que as pessoas têm o direito de serem e torcerem como o desejam, que alguns de nós brasileiros estivéssemos torcendo como nunca para a Alemanha massacrar a Argentina. E como ainda um Felipe Andreoli, esse mais infeliz em minha opinião, um Marcelo Tas, um Datena, e outros repórteres da imprensa esportiva têm prazer em tripudiar de nossos vizinhos porque eles perderam de um a zero para a Alemanha e ficaram apenas com o segundo lugar. Enquanto galhardamente nós ostentávamos o título de maior vexame da história de todas as Copas.
É por uns infelizes assim, como o Andreoli, cujo programinha esportivo na Band não durou nem um semestre, já que ninguém é idiota tanto tempo, mesmo sendo telespectador de tevê aberta, que a rivalidade de brasileiros e argentinos supera em muito o espaço a que deveria estar relegado.
Mas felizmente, para lidar com pessoas como os jornalistas citados, existe um instrumento infernal e espetacular: o controle remoto.

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