Às vezes alguns detalhes nos escapam e não damos atenção a eles. E, aproveitando-se de nossa distração ou desatenção para observar todos os detalhes que conformam uma situação, nossa capacidade de análise fica prejudicada, quando não distorcida.
Pior, às vezes ficamos sujeitos a sermos manipulados e nem nos damos conta disso.
Essa é a importância, especialíssima, da existência nos jornais impressos de analistas e colunistas, mesmo aqueles de que não gostamos e dos quais divergimos e que permitem, algumas vezes que nossa atenção sobre um determinado assunto, até então examinado de relance, seja despertada por questões que haviam nos escapado à primeira aproximação.
Por isso, procuro ler e recomendo a meus alunos a leitura desses colunistas, mesmo que às vezes com certo enfado e a sensação de perda de tempo.
Entretanto, esse não é o caso, em minha opinião de Jânio de Freitas, da Folha de São Paulo, que sempre joga luz sobre questões que me passaram despercebidas, e que sempre me leva à reflexão e ampliação da capacidade de interpretação dos fatos da realidade.
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Toda essa introdução, para poder, então, abordar a, para mim, excelente abordagem trazida por Jânio em sua coluna publicada no dia de ontem, da Folha, misturando de certa forma dois episódios a princípio completamente desconectados e, no entanto....
O primeiro deles, o absurdo ataque feito à aeronave da Malaysia, que culminou com a derrubada de um aparelho da aviação civil, e com a morte de 298 inocentes, pior ainda, grande parte dos quais integrando a nata dos cientistas que pesquisam a cura da AIDS, e que se dirigiam da Holanda para um Congresso sobre a doença.
Por mais que o ataque tenha sido fruto de um terrível engano, já que o míssil deveria ser dirigido a um aviação da força militar ucraniana, é inadmissível que a situação naquela região do globo tenha chegado a tal ponto, incapaz de ser resolvida por canais diplomáticos.
Daí que, como alega a Rússia, não fosse a retomada das operações militares do governo ucraniano na localidade, os grupos separatistas simpáticos à ruptura com a Ucrânia e à anexação ao território russo não estariam em combate, nem acontecimentos como o do bombardeio não teria ocorrido, com suas trágicas consequências.
Claro essa é a argumentação do governo de Putin e serve apenas para, de certa forma, sacudir de seus ombros a responsabilidade sobre o acidente.
Que como todos sabemos, atinge pela segunda vez e desgraçadamente à mesma Malaysia Airlines, sendo que o primeiro dos acidentes até hoje, nem mesmo teve suas causas devidamente explicadas. Lembrando apenas que, entre tais causas, não está excluída a possibilidade de um ataque, dessa feita terrorista.
Lugar complicado e rota bastante temerária para qualquer aeronave atravessar, nesses tempos.
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Mas, voltemos à questão de nossa postagem. Imediatamente após a queda da aeronave, o presidente Obama e toda a imprensa internacional procuraram, por óbvio, alguém a quem imputar o ataque, recaindo sobre os separatistas russos, até agora, a ação funesta.
E, como as armas usadas pelos grupos separatistas, além de sofisticadas exigem treinamento, então, imediatamente concluiu-se que a culpa ulterior pelo desastre é da Rússia.
E, usando todo seu poder e sua força, como nação mais poderosa do mundo, toda a imprensa internacional acabou "comprando" a versão divulgada à exaustão pelo presidente americano em todas as suas manifestações, da culpa russa no episódio.
Culpa que deve sim, existir. Mas, se essa é a questão a que toda a imprensa se dedicou, e inclusive todos os principais chefes de Estado, a ponto de estarem sendo discutidas nos foros internacionais a adoção de novas sanções à Rússia, a coluna de Jânio, sem negar a possível responsabilidade de Putin e seus aliados, procurou analisar uma outra questão tão importante quanto a do desastre.
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Trata-se do ataque das forças de Israel, sob comando de Netanyahu, à faixa de Gaza, ou mais precisamente, ao genocídio patrocinado pelas forças militares israelenses aos civis palestinos, que incluem principalmente crianças e mulheres, sob a desculpa de estar procurando desativar áreas apropriadas para o lançamento de foguetes ao solo israelense.
Guerra, ou insisto no termo genocídio, que já condenou mais de 500 palestinos à morte, contra pouco mais de 20 mortos do lado das tropas israelenses, o que mostra a desproporção e ferocidade das forças envolvidas no combate.
Ora, toda a imprensa do mundo está comovida e tem relatado a ferocidade e bestialidade do ataque e, aqui, não vou discutir as razões de Netanyahu, até para evitar de fazer qualquer tipo de comentário que possa ser interpretado como de cunho preconceituoso.
Porque, em minha opinião, um povo que foi tão perseguido e tão massacrado, e que ganhou um território para fixar um Estado, não poderia agir, nos dias de hoje, da mesma forma ou de forma semelhante àquela de que foi vítima. Principalmente, não deveria apor obstáculos a que, do mesmo jeito que teve reconhecido seu direito de ter um território, não deveria se negar a participar de reuniões e acordos diplomáticos que assegurasse o mesmo direito aos palestinos, seus vizinhos.
Pelo menos essa é minha opinião, de longe, e sem me deter mais na análise dos fatos reais por trás dos atuais ataques. Porque, sinceramente, acho muito pouco, por mais que seja sempre brutal, alegar que o estopim da crise atual tenha sido a morte de 3 adolescentes judeus.
Ora, se qualquer morte é abominável, mais ainda deveria ser usar essa morte dos israelenses para justificar a morte de um adolescente palestino por pura vingança, e pior ainda acabar matando mais de 500 palestinos em uma invasão sem qualquer razão aceitável.
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E, desnecessário chamar a atenção para o fato de que o número de mortos, civis, a grande maioria do lado palestino, praticamente dobra o número de vítimas do ataque ao avião da companhia malasiano.
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E é aqui que a coluna de Jânio de Freitas nos permite ampliar nossa interpretação dos fatos.
Afinal, se o presidente Obama correu para acusar e responsabilizar Putin pelo fornecimento de armas pesadas e treinamento militar aos rebeldes ucranianos, que levaram ao ataque ao avião e à morte de inocentes, o que poderia ser dito agora, sobre as armas SEMPRE fornecidas e ao treinamento idem, das tropas israelenses, pelo exército americano.
É verdade, e devo admitir que questionar o jogo de cena e todo o teatro à moda de um tribunal do juri que Obama montou com total desfaçatez apenas para encobrir a responsabilidade da nação que representa ou dos interesses a ela vinculados, não abranda a miséria humana a que estamos cada vez mais expostos.
Tanto as mortes sem nexo do avião vitimado, quanto as vítimas dos bombardeios e da invasão israelense, não serão esquecidas, nem as vidas ceifadas recuperadas, claro.
Mas que serve para observarmos como a histeria com que Obama e a midia internacional se propõem a responsabilizar a Rússia, serve apenas para desviar a atenção do genocídio que, sob seu patrocínio acontec em Gaza, isso é inquestionável.
E, assim sendo, o que podemos perceber e Jânio nos abre espaço para isso, é o esforço para demonizar a Rússia, livrando os Estados Unidos e seus protegidos em Israel, de qualquer questionamento, reeditando a luta do dragão da maldade contra o santo guerreiro, para usar o título de trabalho premiado de Gláuber Rocha.
Ou seja: bem vindo velho mundo à Guerra Fria. Tão importante antes, como agora, quando o mundo está em crise econômica e é sabida a importância dos gastos militares para salvar o capital e aumentar seus resultados.
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