quinta-feira, 24 de julho de 2014

Galo campeão da Recopa e o Galo na Veia - uma lição de como tratar mal quem sustenta os grandes clubes de todo mundo

Passado exatamente um ano da conquista da Taça Libertadores da América, na noite de 24 de julho de 2013, o Atlético voltou ao Mineirão para conquistar, na virada de 23 para 24 mais um título internacional no âmbito da América do Sul, a Recopa.
Porém ao contrário da partida realizada há um ano atrás, em que precisava em primeiro lugar reverter a vantagem conquistada pelo time paraguaio do Olímpia, em casa, ontem a vantagem era do time mineiro, que vencera o jogo de ida pelo placar - injusto pelo que criou de oportunidades, mínimo.
E, ao contrário também da partida em que conquistou o maior título de sua existência centenária, por ter vencido ao longo dos noventa minutos de jogo, pelo placar necessário, de 2 a zero, jogando bem, ontem o Atlético jogou muito abaixo da crítica para um time que é grande e deseja permanecer no topo do futebol continental.
Ontem, o Atlético jogou mal, muito mal, a ponto de perder a partida nos noventa minutos de jogo.
Felizmente, se há um ano, ter vencido pelo placar de dois a zero levou a partida para a prorrogação e, depois de mantido o empate em zero, para as penalidades máximas e as defesas de São Victor, ontem, ao contrário, a prorrogação acabou sendo vencida pelo Atlético, pelo mesmo placar de dois gols a zero.
Galo campeão da Recopa, o que é espetacular para o time do Atlético, que aumenta sua sala de troféus, com um troféu internacional de algum valor, e também para o futebol mineiro, que vê, no campeonato brasileiro, outro time das Gerais disparando lá na frente, tanto na série B, com o Coelhão, quanto na divisão principal, com (infelizmente!) nosso principal adversário.
***
Mas, o título não deve servir para cobrir o sol com a peneira, como diz o ditado popular. O Atlético ganhou, foi campeão, mas jogou mal demais, sendo difícil até saber se no primeiro tempo de jogo, onde o miolo de nossa defesa com Léo Silva e o retorno de Réver, bateu cabeça o tempo todo, e Emerson Conceição conseguiu errar todas as jogadas de que participou ou que tentou executar.
Aliás, foi de erro de Emerson na intermediária que nasceu o primeiro gol do Lanús, de empate, nem bem a torcida atleticana acabara de comemorar o gol de pênalte convertido por Tardelli, em lance em que Ronaldinho Gaúcho alçou a bola sobre a área e houve um toque de mão de um jogador da zaga argentina.
O meio campo do Atlético, se não prima pela qualidade de saída de bola, errando muitos passes, e mostrando uma fragilidade muito grande na hora de ir à frente ajudar o ataque, não conseguiu ontem nem acertar as jogadas em que é reconhecidamente competente: a destruição de jogadas do ataque adversário. Donizete, completamente perdido, inseguro, não conseguia acertar quase nada, sendo envolvido com facilidade pelas triangulações e troca de passes argentinas. Pierre, o pitbull, não marcava ninguém, apenas cercando, cercando, ameaçando dar o bote, sem nunca ter êxito.
Quando tentou atacar diretamente o adversário, cometeu as faltas de sempre, e recebeu um cartão amarelo, razão talvez para que passasse a jogar sem a sua habitual disposição.
Com Emerson Conceição falhando tanto, e a zaga se embolando, pesada e sem mobilidade, o quadro agravou pela ausência de cobertura dada pelos volantes, muito lentos e falhando além da conta.
Estava tão feia a coisa, que Salvador Silva, considerado um tanque, jogador pesadão e até, ao meu juízo, um pouco acima do peso, entrava como queria pelo miolo de área, o que obrigava a que a defesa do Galo fizesse falta atrás de falta, todas próximas à área, perigosas, do que resultou, no meio do primeiro tempo, o segundo gol do Lanús, o gol da virada sobre o Galo. Gol que levava o jogo para a prorrogação e penalidades.
Não falei de Marcos Rocha, ou Victor, porque se o goleirão não teve culpa nos gols que tomou, tendo no segundo deles, inclusive feito uma defesa parcial milagrosa, o lateral mostrou que é o maior lateral direito, hoje, de nosso futebol brasileiro. Preciso, seguro, desarmando as jogadas do ataque argentino, o que não é de seu feitio e não é sua característica principal. Mais uma vez nasciam de seus pés as mais lúcidas jogadas de ligação entre a defesa e o meio, e seus laterais, em dado momento do jogo, transformaram-se na mais mortal arma de o Atlético chegar ao ataque e levar perigo ao gol adversário.
Marcos Rocha destruiu, subiu ao ataque, marcou, lançou, foi perfeito na cobertura das falhas dos pesadões Réver, completamente fora de ritmo de jogo, e Léo Silva.
***
Ao voltar para casa, ouvindo o comentarista da Itatiaia, achei curioso o fato de não ter havido qualquer referência dele à atuação de Marcos Rocha, em minha opinião, o melhor jogador em campo, disparado. Entretanto, não sei a que jogo ele assistia, viu Léo Silva acertar tudo que tentou no segundo tempo do jogo, quando o Lanús partiu com tudo para cima, e mais uma vez, a zaga atleticana bateu cabeça e chegou sempre atrasada à bola.
Mas, a verdade é que a Itatiaia é a rádio do esporte de Minas, mas isso não significa que seus profissionais sejam os melhores, nem o comentarista de ontem, muito ruim em minha opinião, nem o locutor, especialmente se comparado ao Caixa ou mesmo ao Alberto Rodrigues.
***
Mas voltemos ao jogo. Para premiar Marcos Rocha, foi de seus pés que saiu o lançamento para o segundo gol do Galo, o gol de empate e que voltava a nos por com a mão na taça.
Gol do apagado Maicosuel. Que não jogava bem, fazendo companhia a Ronaldinho Gaúcho que também não acertava nenhuma jogada mais contundente, ou a Tardelli que, às vezes perdia bolas bisonhas no ataque.
Jô esforçava-se, pulava e escorava a bola para os companheiros, na famosa tática do chutão e do bumba-meu-boi adotada pelo Atlético, mas jogava muito longe da área, o que prejudicava seu futebol. Não foram raras as vezes que veio buscar a bola no meio campo, sem ter para quem lançar lá na frente, em seguida, lugar que deveria estar sendo ocupado por ele.
***
No segundo tempo, Maicosuel estava tão apagado que parecia ter ficado no vestiário. R10 jogando mal, mas tentando nitidamente cercar o adversário em seu campo. Tardelli e Jô, Pierre e Donizete, e o miolo da zaga permaneceram com as mesmas falhas do início do jogo, o que permitiu ao Lanús dominar e partir para cima do Galo, o que fez com que  atacasse com perigo e chutasse a gol muito mais que o Atlético
A impressão que tive é que Levir armou o time para que ficasse esperando o Lanús em seu campo, contando com o fato do time argentino ter que vencer a qualquer custo e dar espaço para as jogadas de contra-ataque.
Mas, para que tal tática desse certo, Pierre e Donizete teriam de dar o bote, destruir a jogada do time adversário e não ficar cercando, cercando, cercando, e ir recuando, recuando, como estavam fazendo. Com isso, o Lanús continuou toda hora fazendo trocas de passes ligeiras, à frente da zaga, que continuou dando espaços e sem marcar a ninguém. Não fosse novamente Marcos Rocha, tirando a bola de cabeça no meio da área, ou cortando umas duas ou três vezes para a linha de fundo, o time hermano teria conseguido seu objetivo.
A boa notícia é que depois de tanta insistência, Emerson Conceição começou a ganhar confiança, e passou a jogar bem, levando perigo em suas descidas ao ataque.
Aí veio a substituição de R10, feita por Levir, para a entrada de Luan.
Se a entrada do jogador aloprado do Galo foi correta, em minha opinião Levir errou, mais uma vez ao substituir Ronaldinho. Que mais uma vez deu a nítida sensação de que não gostou, dessa vez saindo de campo acenando à torcida que o reverenciava, como quem se despede de todos que tanto o aplaudiram todo esse tempo.
Fosse eu o técnico, teria tirado Maicosuel primeiro, apagadíssimo em campo, como já observado acima. Ou então, tirado a ambos, ao mesmo tempo, com a entrada também de Guilherme. Como foi feita a mudança, pareceu marcação de Levir com a estrela maior do elenco, o que pode ser compreensível, para um treinador que pode estar ainda precisando mostrar quem é a autoridade no grupo. Coisa que acho dispensável a essa altura.
Mais tarde Guilherme entrou no lugar de Maicosuel, mas tanto quanto Luan, que parece ter entrado incorporando o espírito de Fred, o poste, as substituições não deram certo. E fora um  lance espetacular de Ronaldinho logo no início, tocando a bola por cima do goleiro, para o corte da defesa, já com a bola entrando e uma jogada perigosa não aproveitada por Guilherme, foi o Lanús, por nossos erros que mandou no jogo.
E, caprichosamente, só conseguiu o gol da vitória e da prorrogação já no último minuto do tempo de acréscimo concedido pelo juiz uruguaio, péssimo, junto com seus auxiliares. Invertendo lances de lateral ou de falta no meio, não vendo faltas nítidas serem realizadas. Ruim é pouco para adjetivar um juiz que conseguiu desagradar a ambos os times, e pior, com ambos tendo razões em várias de suas reclamações.
***
Na prorrogação, só um lance inesperado, inusitado poderia mudar o panorama do jogo, já com os jogadores cansados. E confesso que temi que persistisse o empate, e que a decisão fosse para as penalidades, não por Victor, mas porque o Atlético, também sem Tardelli, substituído no final do segundo tempo estava sem seus cobradores oficiais.
Mas aí entra a estrela desse que, por sua garra e dedicação vai se tornando um ídolo do Galo: Luan. Autor do gol que dava a tranquilidade que faltava.
E, em seguida, o gol contra, em bobeira de Ayala, que de cabeça atrasou uma bola que cobriu o goleiro de seu time. Esse, pareceu-me, ficou tão irritado que não tentou esboçar qualquer reação para impedir a bola de ganhar as redes.
***
GALO CAMPEÃO DA RECOPA 2014. Mas que sufoco o Galo nos fez passar, talvez até para manter a mística de que tudo para o Atlético é mais sofrido.
***
A destoar da festa, o tratamento dispensado aos torcedores do Galo na Veia, aqueles que para renovar seu contrato com o clube tiveram de pagar R$ 2700, 00, isso mesmo dois mil e setecentos reais à vista, e que tiveram ontem, que ocupar o lugar que tradicionalmente é ocupado pela torcida do América, de menor visibilidade de todo o campo. Pior é que para atender a esses atleticanos, apenas um bar e um banheiro de cada gênero estava funcionando, em total e completo desrespeito.
Mas, até isso poderia ser esquecido, como foi, com a conquista, o que levou a essa parte da torcida a gritar o nome de Kalil ao final.
Pior foi ver, como sempre, como o presidente Kalil é um destemperado, que se acha dono do Galo, dizendo que deve satisfação ao torcedor que entra na fila e paga a compra de seu ingresso, numa total inversão dos valores.
Por isso, como o próprio falastrão disse, o número de torcedores do Galo na Veia reduziu, do ano passado para cá. Porque vários não renovaram sendo considerados espoliados por esse gênio da bestialidade que é o presidente atleticano.
E vem o presidente ao microfone da Itatiaia, falar que por isso vai acabar com essa forma de sócio-torcedor. Na contra-mão de todo time de tradição, de nome, na Europa e aqui no Brasil mesmo, como o Internacional e Grêmio aqui no Rio Grande, como o próprio Cruzeiro em Minas.
Esses clubes, sabem da importância e da arrecadação garantida e segura para os clubes, advinda do programa de sócio torcedor.
Infelizmente, o nosso presidente, bestialmente besta, não acha assim.
O que me leva a crer que se sai como o presidente do Galo com as conquistas mais expressivas e importantes de nossa história, isso é apenas sinal de que, felizmente, futebol, por mais organizado que esteja se tornando como esporte, continua sendo decidido - e conquistado em campo.
***
Parabéns Galão. Campeão.

Nenhum comentário: