sexta-feira, 11 de julho de 2014

Pitacos vários sobre a volta à normalidade em nosso país

Duas notícias que a Folha traz hoje, em destaque, merecem algum comentário.
A primeira, a respeito de Joaquim Barbosa, e o mais recente atrito que tem o presidente do Supremo como protagonista. Mais um atrito, apenas mais um.
Trata-se do fato de Barbosa estar adiando sua aposentadoria, para poder presidir a sessão em que se discutirá o destino de todos aqueles que o assessoraram durante seu mandato como presidente da Corte.
Como se sabe, no serviço público, qualquer que seja o poder ou instância, existem os cargos de assessoria de seus dirigentes, ditos de confiança.
Legalmente, trata-se de cargos de recrutamento amplo, ou seja, que podem ser ocupados por qualquer pessoa idônea, de ficha limpa e que não tenha parentesco direto com o ocupante do cargo em função de medidas destinadas a evitar o nepotismo. Basta que a pessoa seja de confiança de quem o indicou e nomeou.
Ora, como cargo de confiança, tão logo haja o rodízio no cargo, com a entrada de outro para exercer o mandato, todos os assessores devem - e alguns costumam, apresentar seu pedido de exoneração da função, pela qual recebem uma polpuda gratificação especial.
Quando os ocupantes do cargo de confiança ou comissionado são funcionários de carreira no órgão, retornam a suas funções e cargos de origem, e a vida segue. Aqueles que não tinham lotação no órgão, antes da nomeação para o cargo de confiança, voltam a suas atividades anteriores, em geral, na iniciativa privada.
E o fazem com vantagens significativas, por todo o conhecimento dos intestinos do poder público, que passam a deter. O que os permite passar a viver na cômoda e nobre(?) função de consultores, que é o nome mais comumente empregado para a função de lobista em nosso país.
A saída dos nomeados se dá, para que o novo mandatário possa indicar, então, aqueles que são de sua confiança, o que, em algumas ocasiões excepcionais, acabam reconduzindo alguns assessores ao cargo/função.
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Pois bem, o que o impoluto presidente do Supremo deseja é romper essa tradição, mantendo em seus postos todos os que o serviram na função. O que poderia significar uma tentativa de restringir ou limitar as ações de seu substituto, mantendo sua influência nas decisões de seu sucessor.
Ou então, apenas lembraria a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, que depois de contar e cantar as vantagens da terra descoberta a El Rei de Portugal, aproveitou o texto para emendar um pedido de emprego para alguém de sua relação pessoal.
O que mostra mais uma vez, aos incautos, o material de que é feito nosso paladino da Justiça e da moralidade, ou seja, o mesmo barro de que todos nós, da raça humana, somos feitos.
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A segunda das notícias diz respeito à crítica de Aécio, o candidato do PSDB, ao uso político da Copa, feito pelo governo. Pelo que noticiam os jornais, o menino do Rio teria afirmado que o governo pagará o preço e vai se frustrar de tentar se apropriar politicamente da organização do Mundial.
Curioso é que, antes da Copa, eram os partidos de oposição que, sem torcer abertamente, faziam comentários que nas entrelinhas traziam acusações ao governo por todos os erros, atrasos, falhas, problemas que a realização dos jogos iria promover, especialmente aqueles ligados às questões de segurança.
Com a chegada da Copa e seu desenrolar, o que se viu foi que nenhuma das previsões catastrofistas se realizaram, dando razão ao governo que prometia que essa seria a Copa das Copas.
Que, como é óbvio, o governo iria atrelar sua imagem à campanha que vinha sendo feita pela nossa seleção, e às vitórias que vinham sendo obtidas, era de se esperar. A ponto de um oposicionista da importância do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter surgido dando entrevistas a respeito do desempenho do time brasileiro, tentando mostrar que a seleção é de todos nós, o povo brasileiro, que para ela todos nós torcíamos e torcemos e que as vitórias do time, não poderiam e não seriam apropriadas por qualquer governante de ocasião.
Essa declaração, dada poucos dias antes do vexame da seleção frente à equipe da Alemanha, acabou dando origem a dois comportamentos depois do vexame.
Do ponto de vista do governo, Dilma e seus assessores trataram de tentar desvencilhar sua imagem da vergonha protagonizada pelo time em campo, voltando seus comentários para a questão da organização, desnecessário dizer, pra lá de exitosa.
Tudo bem que não por culpa do governo, mas ainda assim, exitosa.
Já o candidato das elites tenta mudar o discurso de seu partido, passando agora a criticar a tentativa de apropriação política da Copa do Mundo.
Curioso, insisto, é que é o candidato da oposição que é o primeiro a vir a público para vincular a derrota a uma questão política, voltando a vincular a imagem do governo ao resultado obtido pelo time em campo.
Declaração que valeu do ministro Gilberto Carvalho o adjetivo de "desprezível", com o qual sou obrigado a concordar.

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A limitação de nossa midia


Excelente o artigo ontem publicado na Folha, caderno principal, à página 3, do professor Jean Marcel Carvalho França, intitulado O nacionalismo pueril.
Ali, citando um pequeno livro de Karl Popper, que trata da midia televisiva, redigido em 1954 - "Televisão: Um Perigo para a Democracia", o autor mostra que os males de nossa mídia, especialmente ao tratar de certas questões e temas com um nacionalismo que beira as raias do ridículo e do perigo em que esse ridículo pode se transformar, o professor mostra que não é por ideologia que isso tem lugar.
Ao contrário, o problema é que o nível cultural de parte considerável de quem age assim e atua na midia é tão extremamente baixo, que  permite que a singeleza de espírito desse pessoal crie situações por mais bem intencionados que possam ser, capazes de terem efeitos perigosos para o próprio convívio social.
Com muito mais conhecimento e propriedade, trata do mesmo assunto que eu tentava enfocar na postagem de ontem, sobre a irresponsabilidade de certo comportamento e comentários da nossa imprensa.
Como o professor se refere, "gente mal preparada que, com as melhores intenções, julgam se dirigir a outros igualmente limitados".

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Robben

Comentário de Robben, repercutido pelos meios de comunicação de massa, dá conta que o brilhante jogador holandês considera que a Argentina não será páreo para a Alemanha.
Opinião que temos que acatar e respeitar, já que cada um pode pensar e expressar seus pensamentos de forma livre.
Mas que podem revelar um certo despeito, o que pega mal para o jogador, que deveria evitar o comentário, ao menos em minha opinião, para evitar má interpretação como a que eu fiz.
Considerando que a Argentina empatou com a Holanda, jogando melhor e merecendo mais a vitória, isso não significa que a Holanda também não teria qualquer chance contra a Alemanha?
E se assim fosse, não significa que já favorita, todo o torneio teria sido um desperdício, inclusive a luta da Holanda por chegar à final, já que a Alemanha poderia ser declarada vitoriosa desde o início?
Eu evitaria a declaração, mesmo acreditando que a Alemanha tem tudo para vencer.

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Gilberto Carvalho

Li hoje, que a presidenta Dilma não conseguiu, ainda, engolir as vaias e ataques descabidos de que foi vítima no Itaquerão, na abertura da Copa, nem os comentários - corretos - de seu ministro Gilberto Carvalho, para quem a insatisfação com a presidenta não é apenas da elite, mas alcançam a toda uma gama de pessoas de outras classes sociais.
Ora, isso significa apenas que a presidenta não enxerga a realidade e não tem a humildade de aceitar que não é a personificação dos ideais de poder e liderança que julga encarnar.
Uma pena.

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