Definitivamente foi dada a largada para as eleições de outubro de 2014. E, passada a Copa do Mundo que não seria realizada e que, realizada acabou se transformando na Copa das Copas, em função de seu êxito, agora o assunto que irá dominar todas as rodas é o pleito para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Ainda ontem, a rede Band deu início a um programa que está programado para ir ao ar todas as segundas-feiras, avaliando as campanhas, as pesquisas e comentando questões que estarão pautando nosso noticiário.
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Por outro lado, a Folha de São Paulo, em sua edição do último domingo, trouxe interessante matéria de jornalismo investigativo, tratando da construção de um aeroporto privado, executada pelo governo do Estado de Minas Gerais, e bancada pelos cofres públicos, em terras da fazenda de um tio avô de Aécio, no município de Cláudio.
Múcio Tolentino é o nome do tio-avô de Aécio e a cidade de Claúdio, terra de sua avó Risoleta Tolentino Neves é um dos recantos preferidos pelo menino do Rio para passar momentos de lazer.
Bem, o aeroporto foi construído na terra do tio-avô, ex-prefeito da cidade, e embora devesse ser uma área de uso público, fotos dão conta de que a pista de pouso é cercada e a chave da porteira fica de posse do proprietário da terra.
O que permite que praticamente os familiares do proprietário do terreno, e principalmente Aécio possa utilizar do aeroporto, quando bem lhe aprouver.
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Confesso que, ao ler no domingo a manchete, Governo do Estado constrói aeroporto em terras de tio de Aécio, fiquei chocado com tamanha invasão de propriedade. Com tamanho absurdo, expresso pela invasão arbitrária de terras apenas por serem de parentes do governador.
Ah! a reportagem mostra que a obra foi toda construída e concluída antes da saída de Aécio do cargo que ocupava, em 2010.
Depois fiquei mais tranquilo ao saber que a história estava mal contada, ou pelo menos merecia reparos: afinal, o aeroporto era de extrema necessidade para a região e fazia parte do programa de transportes do governo do Estado, especificamente no modo aéreo, sendo aprovada por todas as análises técnicas realizadas pelos funcionários do governo estadual.
Além disso, a notícia deixou de informar que, de acordo com declaração do candidato do PSDB, por ter o aeroporto tamanho interesse econômico e social, as terras haviam sido desapropriadas pelo Estado.
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Ótimo. Mas se a reportagem cometeu essa falha, cometeu outra mais grave, em minha opinião: não informou que a propriedade, mesmo depois de desapropriada continua registrada nos cartórios como de propriedade de Múcio, que entrou na justiça contra a medida do Estado.
Ou a reportagem talvez tivesse informado isso, mas tanto eu quanto o ex-governador mineiro tenhamos pulado esse trecho o que explica o meu desconhecimento e até o esquecimento do mineiro mais carioca que temos notícia.
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Mas, mais curioso que tudo foi observar ontem, no painel do leitor da Folha, as cartas ou emails indignados remetidos à Folha, acusando o jornal de ter mudado de lado, e ter passado a fazer parte da tropa de choque do PT e de seus interesses.
Uma das correspondências publicadas, e devem ter sido várias, trouxe inclusive a acusação/questionamento de que tipo de pressão ou vantagem a Folha obteve por publicar tanta inverdade sobre o candidato peessedebista.
O que me deixou mais curioso foi verificar que todas as correspondências que defendiam o impoluto senador mineiro vinham de eleitores que devem conhecê-lo de longo tempo, todos de cidades do interior paulista. Ao contrário, as cartas que elogiavam a Folha por ter um comportamento equilibrado e imparcial, destacando as coisas boas e as ruins de todos os candidatos ("pau que dá em Chico, tem que dar também em Francisco") eram todas de cidadãos mineiros, que a rigor nem deveriam estar tratando do assunto, já que desconhecem o candidato e sua trajetória como governante do estado.
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Um detalhe.
A exatos 30 anos, estava trabalhando na Secretaria de Transportes do Estado de Minas Gerais, onde a convite do Superintendente de Planejamento e Coordenação - SPC, Márcio Rocha, iria ocupar a função de diretor de planejamento.
Vã ilusão. Algum tempo depois vi ao vivo e a cores o que já deveria ter maliciado: na área de transportes quem é dono, quem manda e planeja é e só pode ser engenheiro, o que não era meu caso.
Mas, independente de posteriormente Ramon Vitor César, o atual presidente da BHTrans vir a ocupar a diretoria, a verdade é que por um tempo, participei da elaboração do plano de transportes do Estado, nas suas várias modalidades, rodoviário, aeroviário, fluvial, etc.
E, naquela oportunidade, aeroportos que se mostravam necessários e viáveis eram alguns poucos, para cobrir as cidades denominadas polo, das várias microrregiões de planejamento em que o Estado era dividido.
O grande problema é que, por serem obras caras, não havia recursos para a construção nem mesmo dos necessários.
Entretanto, como eu mesmo disse, já se passaram trinta anos daquele momento em que Tancredo Neves, avô do atual candidato a presidente, criou a Secretaria de Transportes, entregando ao deputado Álvaro Antônio Teixeira, do Barreiro, a sua direção e a tarefa de implantação.
Integravam a equipe da Secretaria todos os engenheiros que nunca se desvincularam da área de Transportes, como o secretário adjunto Geraldo Pessoa, o Ramon, já citado, o Francisco, então Superintendente de Transportes, para ficar apenas em alguns nomes.
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Claro que, depois de 30 anos e depois do Governador Itamar Franco ter ficado a pão e água no comando do Estado, punido por ser contrário às políticas adotadas por seu sucessor na presidência da República, FHC, especialmente no tocante à privatização de Furnas, mudou muito a realidade de nosso estado.
Primeiro, porque se a punição de Itamar obrigava o Estado a pagar toda a sua dívida com a União, não recebendo os repasses de recursos a que tinha por direito, o que levou Itamar a não conseguir cumprir as promessas de campanha em todo o seu mandato, ao menos serviu para sanear as finanças públicas estaduais.
O que serviu para passar a seu sucessor, não por acaso Aécio, um governo com finanças completamente saneadas e controladas na medida do possível.
Este o choque de gestão do primeiro mandato de Aécio. Herança de Itamar, e nem tanto por causa da vontade do político mineiro já falecido.
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Mas ao sair do governo, depois do exercício de 2 mandatos, a situação das contas públicas era tão caótica, que não cumpria a determinação constitucional em relação a gastos na Educação (piso de professores, etc.) nem mesmo na área da Saúde, malgrado a maquiagem que fazia para apresentar números que lhe fossem favoráveis.
Era esse tipo de gestão ou má gestão que deveria merecer a atenção da reportagem investigativa da Folha, embora parte do desperdício de recursos possa ter tido um início de explicação com o aeroporto de Cláudio.
E nem vamos mencionar aqui os rumores que, se não vinculam a pessoa de Aécio diretamente a outras histórias mal contadas, como Inhotim ou as sacolas do SERVAS (Serviço de Assistência Social comandado pela Andréia Neves, irmã do senador), pelo menos tangenciam questões de seu governo em Minas.
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Como se percebe, foi dada a largada para as eleições e o próprio Aécio já fez acusações pesadas à presidenta Dilma e seu estilo de gestão, que conduziu a Petrobras, maior empresa brasileira, às páginas policiais. Em situações que também merecem explicações ainda mais detalhadas e mais plausíveis.
Ou seja, deste mato não sai santos. E cada enxadada não trará anjos barrocos, salvo se aqueles de fundo falso, os anjos do pau oco.
Esperar e ver. Se tivermos estômago forte até lá.
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