quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Novo debate, agora na Rede Vida

Pena que não vi ser feita muita divulgação e, por esse motivo, além de estar em sala de aula no momento, não pude acompanhar a íntegra do debate entre os presidenciáveis na Rede Vida, sob patrocínio da CNBB.
Estavam presentes, além todos os principais candidatos e, do pouco que vi, a troca de farpas atingiu proporções importantes.
Justo no dia em que as favoritas haviam emitido sinais de que promoveriam uma trégua entre si e que Dilma comemorava o relatório da FAO, organismo da ONU responsável pela área de alimentação, que citou o Brasil como exemplo de país que praticou políticas capazes de reduzir em muito o nível de desnutrição e da fome de sua população, enquanto Aécio mostrava possuir ainda algum gás para ser queimado, conforme indicava a última pesquisa do IBOPE.
Por essa pesquisa, com mais de 3 mil eleitores, Aécio foi o único dos candidatos de maior projeção que oscilou para cima, aumentando de 15 para 19% na preferência do eleitorado.
Os 4 pontos conquistados foram decorrência de perda de 3 pontos da presidenta e 1 ponto de Marina.
Aécio comemorava e terminou sua participação abordando exatamente o que classificou como o início de sua reação.
Marina, de quem assisti apenas sua participação final, ao menos nesse bloco final, não adotou a postura que lhe é peculiar e que vem caracterizando sua participação na campanha, de vítima. Que, diga-se de passagem, é perfeitamente adequada a sua postura, construída para passar seja a imagem de mártir, ou sua condição de evangélica, ou seu messianismo.
Em sua declaração final, voltou à tecla da necessidade de união, convidando todos os telespectadores a participarem da reconstrução de nossa sociedade, fugindo à polarização desgastada e pouco construtiva que marca o confronto entre o PT e o PSDB.
Dilma comemorou o feito do país e prometeu mais, caso eleita para um segundo mandato.
Os demais candidatos procuraram mostrar que, mesmo pertencendo a partidos considerados nanicos, têm condições de sonharem mais alto, bastando para isso que o eleitor deixe de votar em quem acredita que irá vencer, mas em quem considera melhor de fato.
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Quanto às farpas e acusações, foram o destaque do final do penúltimo bloco, quando o pastor Everaldo foi o sorteado para fazer uma pergunta a Aécio. Na resposta à questão que eu não vi qual era, Aécio partiu para um violento ataque ao que dizia ser o assalto do PT, especialmente aos cofres das empresas públicas, dando a entender, inclusive que o diretor da Petrobras foi colocado naquela função para saquear os recursos da empresa, comportamento que era sim, de conhecimento da presidenta Dilma. Foi mais longe, afirmando que ao se sentar à mesa com Paulo Roberto Costa, Dilma não podia deixar de saber dos mal-feitos do diretor responsável pela gestão do propinoduto.
Foi tão agressiva e de baixo nível a acusação, entrelinhas, de que Dilma era cúmplice do esquema do ex-diretor, que imediatamente Dilma pediu ao mediador a concessão de um minuto para o direito de defesa.
Ao ser comunicada de que os advogados da Rede estavam examinando se tal direito era devido ou não, chegou a ironizar que tal decisão deveria sair antes do término do programa.
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Chegou então, a vez de Aécio fazer sua pergunta e a sorteada foi Luciana Genro, do PSOL. E com ar vitorioso e arrogante, o candidato do PSDB se preparou para questionar sobre a proposta de educação do PSOL para o país. Pronto para poder, na sua réplica, caso necessário, vir dizer aquilo que é divulgado em sua propaganda política, de que Minas é o Estado reconhecido como de melhor educação fundamental do país.
E provavelmente seu discurso estava pronto caso Luciana viesse a público para descrever a condição dos professores da rede pública mineira, situados entre os mais mal remunerados do país. Professores que não recebem sequer o piso nacional, o que levou o próprio Supremo a intervir a favor da categoria de servidores.
Mas, não!
Luciana disse que, antes de expor sua proposta, não poderia deixar de lembrar que toda a corrupção, toda a bandalheira e roubalheira que Aécio havia acabado de citar em sua participação anterior tinha como origem os governos do PSDB. Relembrou então da compra de votos para aprovação da reeleição de FHC. Lembrou do mensalão mineiro, do correligionário de Aécio, Eduardo Azeredo. E foi listando a série de desmandos e destruição do patrimônio público das empresas que fizeram parte do programa de privatização do qual tanto se orgulha o candidato do PSDB, destruição de patrimônio público que desaguou no livro que trata da verdadeira privataria tucana.
Aécio não se conteve e, surpreso, acusou Luciana de estar servindo de linha auxiliar do PT, ou estar então de volta ao antigo ninho.
Em sua tréplica, Luciana disse que linha auxiliar era uma ova. E que Aécio devia se lembrar que, se havia corrupção, era bom ele se lembrar de quanto dela se beneficiou, inclusive ao construir o aeroporto, com dinheiro público, em terras de propriedade de sua família. E pior: deixando a chave da portaria com o tio.
O tempo acabou, mas sentindo-se agredido, Aécio pediu também o direito de resposta.
Nessa hora, além de informar que Dilma havia tido seu pedido aprovado, também o candidato Aécio foi autorizado a usar do direito de resposta, coisa que não fez.
Aécio usou do tempo para continuar no seu discurso de ser o que mais reunia condições para governar o país. Não iria, segundo ele, levar em conta coisas de menor importância ou vinda de quem não tinha essa relevância. E, considerando estar em ambiente que lhe era totalmente favorável, a julgar pela presteza de julgamento de seu pedido de defesa, ainda saiu com discurso de ser afilhado de bispo Lucas Moreira Neves, etc. etc.
Palavras que devem ter soado como música para todos os religiosos que assistiam ao debate.
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Mas não surpreende que Aécio, em seu desespero de derrotado, tenha partido para o ataque de artilharia pesada a Dilma, seguindo aliás, recomendação que lhe foi feita por Fernando Henrique.
Já quanto a Dilma, o próprio procurador geral da República indicado por ela, já havia proibido a utilização em campanha pela televisão de propaganda que podia trazer confusão e induzir a erro o eleitor, relacionando a questão da possibilidade de o banco central cair na mão dos interesses que ele deveria regular, caso conquistada sua autonomia, com ideia de que um governo do PSB iria conduzir as famílias, por esse motivo, ao empobrecimento. O que é preciso reconhecer, é forçar demais o argumento.
Mas a própria assessoria de campanha de Dilma já dava sinais de que não deveria insistir naquele argumento, que já tinha chegado a seu limite de aceitação junto ao público.
É isso. E na reta final da campanha, em que os ânimos vão se acirrando, o nível das acusações e debates deve trazer ainda mais baixarias que aquelas já trazidas à luz do sol.
O que é uma pena e que apenas contribui para empobrecer-nos a todos nós.

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