Risível, para dizer o mínimo, as críticas direcionadas ontem, pelo candidato Aécio ao discurso proferido na abertura da assembléia geral das Nações Unidas pela presidenta do Brasil, Dilma. Mas, fruto que é do desespero, bastante compreensível. E, não há como não admitir, de uma previsibilidade plena, bem a gosto do candidato.
Previsível, como que para compor a rima, e também bastante de acordo com a mensagem da propaganda a que parece que ele deu início, convocando o voto útil... nele!!!
O que parece confirmar apenas aquilo que, parece-me já ter sido ventilado por outros comentaristas políticos, ao fazer considerações a respeito de comentários, até mais virulentos, feitos pelo ex-presidente FHC: a ideia do voto útil em Marina e seu PSB, para tirar o PT do poder.
Porque em Aécio, seria perfeitamente aplicável a frase que Theotônio dos Santos cunhou para seu avô, Tancredo, nas eleições de 1982: para que votar útil em um inútil?
E olhe que era Tancredo! E que Tancredo então disputava o governo do Estado de Minas Gerais, naquelas que seriam as primeiras eleições diretas depois do golpe de 1964, cabeça a cabeça com Eliseu Resende.
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Mas os comentários de Aécio, que encontram eco inclusive junto a parte da imprensa, como nos disparados por Boris Casoy no Jornal da Noite, pela Band caracterizam-se por uma tremenda demonstração de ignorância ou de interpretação equivocada do que ouve e lê. Talvez mais a primeira hipótese, da ignorância, frente à primeira.
Senão vejamos: para que finalidade se presta a ida à Assembléia e o discurso inaugural, por convenção realizado pelo Brasil, nas Nações Unidas, senão para "vender" o país e suas ideias a respeito dos principais temas que dominam a agenda dos principais países do mundo?
Creio que sempre foi assim, e não seria diferente dessa vez. Portanto, Dilma não fez, como o desesperado e agora despreparado candidato, declarou, propaganda eleitoral na ONU.
O que ela fez, ao ler seu discurso, é ratificar as críticas que já vem fazendo desde anos anteriores, à política econômica e às propostas de soluções de crise sugeridas para adoção por países como a Grécia, e outros do continente europeu. Propostas que levaram a uma situação de desemprego elevado, de recessão, de corte de gastos públicos e geração de miséria.
Ora, desde há muito tempo, na própria Assembléia, Dilma é crítica de tais soluções adotadas pelos países mais ricos do Velho Continente, de cunho nitidamente conservador.
E, vem aplicando aqui em nosso país, receituário que não agrada a esses mesmos setores conservadores, e que, por esse motivo, é objeto de uma série de reportagens de críticas feitas pelas principais publicações financeiras e econômicas de todo mundo.
Estamos cansados de ver estampadas nas capas de The Economists e que tais, imagens do Cristo Redentor, como um foguete que altera sua rota e experimenta uma queda, em referência ao pequeno crescimento do PIB no governo Dilma.
Quantas vezes, reportagens dos Financial Times da vida não abordam como o Brasil perdeu o rumo e transformou-se no patinho feio dos Brics?
Ora, o que Dilma fez, longe de ser propaganda política para um eleitorado interno que poucas vezes dá notícias de tais eventos internacionais, foi reforçar as críticas de sempre à solução para a crise econômica mundial pregada pelos setores dominados pelo capital financeiro internacional mais selvagem.
O que ela fez foi mostrar que, ao contrário de lá, onde o desemprego atinge recordes, aqui no Brasil, milhares de brasileiros deixaram a fome para trás, como reconhecido por órgão da própria ONU, como a FAO.
O que ela fez foi mostrar que milhares de brasileiros, quase a população de uma Espanha, puderam ter acesso a melhores remunerações e, graças às políticas sociais inclusivas e universais, puderam passar a fazer parte de nosso mercado consumidor.
O que ela mostrou foi como o país deu atenção a questões tão importantes como a melhoria da situação da educação, permitindo que estudantes antes completamente distanciados dos cursos universitários, passassem a ter acesso às Universidades. E como as fronteiras do conhecimento se ampliaram para nossos estudantes, através do programa Ciência sem Fronteiras.
Ora, se para Aécio isso era propaganda eleitoral em foro inadequado, tal crítica transforma-se exatamente no oposto daquilo que ele pretendia. Ao fazer tal comentário, o candidato do desespero mostra que não dava atenção aos discursos anteriores da presidenta, da mesma forma como o povão não dá qualquer importância a tais discursos.
Mas, agora, o que o candidato fez foi despertar o interesse em alguns por irem ler e conhecer a íntegra do que falou nossa presidente. Aécio repercutiu o que Dilma disse. E o fez mal.
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Vejamos um segundo exemplo: a questão da segurança mundial.
Para Dilma, o uso da força não elimina as causas profundas dos conflitos, representados pela Questão Palestina, os ataques ao povo sírio, a desestruturação do Iraque, e outros embates e intervenções militares que criam vítimas e tornam mais agudos os dramas humanitários, sem conseguir a não ser acirrar os conflitos e criar uma situação de barbárie. E, aqui, ela fez uma crítica ou uma auto-crítica ao Conselho da ONU e a todos os países membros, incapazes de promoverem uma solução pacífica para os conflitos.
Ora, onde está que Dilma apoiou o Estado Islâmico e seus atos de barbárie, ou a decapitação de reféns como Aécio acusou e Boris Casoy, no desespero de ver seu candidato preferido despencando ladeira abaixo, repercutiu?
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Tem de ser muito ignorante ou ter muita má fé para falar o que o desesperado candidato mineiro vem falando.
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Os sustos do Galo
Mais uma vez, ontem, para não perder o costume, o Galo fez a Massa sofrer em partida que estava praticamente ganha, embora com o Santos não merecendo o placar adverso.
Porque se o Galo conseguiu dois gols no primeiro tempo de jogo e Carlos perdeu pelo menos dois gols praticamente à frente de Aranha, é obrigação nossa admitir que o Santos já havia tido duas oportunidades claras, muito mais claras de gol com Damião, uma das quais acertando a trave de Victor.
E os dois gols do Galo foram de jogada de rara felicidade, a primeira em um cruzamento de Tardelli que, sem pegar em ninguém, traiu Aranha entrando direto no gol. O segundo gol, contra de Cicinho, foi outra jogada que não tinha qualquer maior pretensão.
Já no segundo tempo, o Atlético marcou outro gol, em jogada rápida de cobrança de falta, de inteligência de Guilherme, Carlos continuou perdendo gols (outros dois) e o Santos mandou nova bola na trave, perdendo gols tanto quanto no primeiro tempo.
3 a 2, placar final mostra como o time, sem precisar, quase coloca em risco uma vitória que parecia folgada.
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Valeu por Tardelli e sua marca de 9 gols contra o time praiano, em 8 jogos. Por uma defesa mais uma vez milagrosa de Victor. Pela homenagem-desagravo a Aranha, prestada pela torcida do Galo.
Agora gostaria que alguém me explicasse, já que parece que não entendo mais nada de futebol, como é que o time dispensa um Fillipe Souto e fica com Leandro Donizete. E pior, ainda põe o volante para jogar...
Não dá para entender.
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Estudo mostra que redução da desigualdade de renda é balela
Como sempre nos manifestamos aqui nesse espaço, é ilusório acreditar e difundir a ideia de que o governo Dilma está fazendo uma distribuição de renda para valer e reduzindo a desigualdade em nosso país.
Estudo elaborado por professores da UNB e do IPEA, citado na excelente coluna de ontem de Clóvis Rossi, trabalhando dados da Receita Federal mostra que os mais ricos aumentaram sua participação na renda nacional, o mesmo acontecendo para os mais super-ricos.
Na contramão do que o governo gosta de anunciar, a distribuição de salários mais altos para os mais baixos é o máximo que o governo tem conseguido fazer.
Mas, vale a recomendação da leitura da coluna na Folha e uma leitura do tal trabalho de pesquisa.
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