segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Candidatas propõem trégua: assim como a negociada entre palestinos e israelenses?

O baixo nível alcançado pelas campanhas dos candidatos à presidência da República nos últimos dias foi o destaque de grande parte das matérias e comentários dos analistas políticos no último fim de semana.
A tal ponto chegou a troca de acusações e ataques, principalmente aqueles trocados entre as candidatas favoritas, Dilma e Marina que ambas acenaram com a necessidade de se estabelecer uma espécie de trégua, diminuindo o tom de agressividade e resgatando um mínimo de respeito ao eleitor.
Porque embora grande parte do eleitorado possa não se mostrar incomodada com os ataques, preferindo adotar um comportamento passivo em relação a essas agressões, relevando-as ou ignorando-as simplesmente, e uma parte menos expressiva seja até capaz de se comportar torcendo e comemorando como se estivessem na plateia de uma luta de box ou MMA, a verdade é que perdem todos.
E, para usar uma expressão forjada pelo saber popular, de que a corda arrebenta sempre do lado mais fraco, é o eleitor o que mais tem a perder, privado de conhecer as propostas dos candidatos, de vê-los participar de um debate em alto nível sobre como pretendem concretizar seus planos, transformar sonhos em realidades, como pretendem enfrentar problemas de financiamento e até mesmo os relativos à implementação de suas propostas.
Afinal, como textos de ciência política da escola americana dos anos 80 registram e nos recordam, mesmo depois de aprovada a agenda de governo, a adoção, a operacionalização e os resultados de uma política pública qualquer são muito afetados pelo comportamento daqueles servidores públicos que terão a responsabilidade de executá-la, de fazê-la tomar corpo. Alguns desses funcionários, por motivos até ideológicos podem acabar sabotando as ações e prejudicando os programas.
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É nesse sentido da cobrança e das análises das propostas de cada candidato que o debate deveria se realizar, embora tenhamos de reconhecer a dificuldade, ao menos nos debates televisivos e com a exiguidade do tempo que lhes é peculiar. Nesse caso, os debates deveriam ter regras claras, de forma a exigir dos candidatos que se detivessem em fazer comentários apenas sobre a proposta apresentada por seu concorrente, destacando as dificuldades que aquela medida iria enfrentar, de toda espécie, até mesmo do ponto de vista da rejeição ideológica, e justificando sua opinião.
Para tanto, ao jornalista moderador ou âncora do debate deveria ser atribuído um papel de mais autoridade, podendo interromper a palavra e comentários do candidato, alertando-o para se ater aos termos ajustados da discussão e chegando até mesmo a cortar a palavra do candidato que não se mantivesse dentro do estabelecido.
Caso as regras do debate fossem respeitadas e cumpridas à risca, comentários a gestões passadas deveriam trazer apenas dados e resultados, não devendo conter manifestações de ataques ou acusações que ficariam subentendidas nos dados apresentados ou na comparação com alternativas que não foram consideradas e cujos resultados, em tese poderiam ser distintos.
Isso obrigaria o candidato a justificar suas escolhas ou a de sua agremiação ou companheiro, tendo que deixar mais claro para toda a assistência, que interesses foram levados em conta e quais tiveram mais peso e porque na decisão.
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Sei que é difícil conseguir reunir um grupo de candidatos a presidente para tomar parte de um debate dessa forma. Isso obrigaria a qualquer um deles a ter de tratar ou abordar temas técnicos com que podem não estar suficientemente enfronhados. E, de antemão, já estaria pronta sua desculpa, de que para isso iria trabalhar com uma equipe gabaritada de especialistas, autoridades no assunto, que delineariam sua proposta e a detalhariam, à perfeição.
Uma questão muito interessante, que poderia ser feita até mesmo pelos jornalistas convidados, seria em relação à equipe de assessores do candidato. Perguntas do tipo: Candidato/candidata, seus coordenadores de campanha ou os principais assessores de sua campanha têm manifestado em textos, publicações, e mais recentemente em eventos públicos que são de tal ou qual opinião a respeito de tal assunto. Ele já apresentou sua  ideia para o senhor/senhora e qual foi sua reação? Que argumentos ele apresentou que a convenceram a optar por tal sugestão?
Poderia ficar cansativo para o público que não entenderia muito do conteúdo, mas certamente, traria uma inestimável contribuição para elevar o nível, mostrando o modo de formação de pensamento e de decisão do candidato, os fatores que mais o impactam, os argumentos que mais o comovem.
E esse tipo de questionamento permitiria que qualquer outro candidato inquirido sobre o mesmo tema, pudesse discutir os prós e contras da ideia e não ficar meramente atacando políticas passadas, as pessoas responsáveis pela ação ou programa político, ou ficar apenas aproveitando o seu tempo para ficar falando de suas promessas sem a necessidade de explicitá-las.
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Em minha opinião, acabaria aquele jogo de espertezas que a ninguém deve ou pode agradar, de que qualquer pergunta feita a um candidato, recebe a resposta que ele está disposto a dar, muitas vezes completamente desvinculada do que foi questionado.
Situação que sempre leva ao comentário: ah! pode perguntar para o fulano o que for, ele responde o que quer mesmo!
Então, se essa é a verdade, para que debate? Se cada um vai falar o que quiser mesmo que não tenha sido perguntado, resta apenas partir para o ataque ou para a zombaria, na tentativa de desqualificar o adversário ou ridicularizá-lo. No caso de ataques, ainda pior, já que para evitar algum tipo de processo, são sempre feitos citando alguma reportagem, algum comentário ou algum fato já suficientemente debatido, discutido, requentado.
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Do jeito atual e em seu formato, os debates tornam-se um espaço privilegiado para que o candidato de mais rapidez de raciocínio ou mais esperto consiga ironizar os demais, articulando opiniões engraçadas, arrancando gargalhadas da plateia ou de nós, em casa. Ou então, fazendo o seu oponente, perder o seu equilíbrio emocional, ou ficar sem reação.
Tanto faz. O político agradável, espirituoso e engraçado pode ser mais simpático. Passar uma imagem mais carismática. Atrair a atenção e comentários que mais o favorecem nos meios e redes sociais, e até nas conversas de boteco.
Mas, não acrescenta muito sobre as reais intenções e interesses que estão por trás do candidato. Nem de como ele irá, de fato ou está se preparando para o exercício do mandato, caso se torne vitorioso.
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Alonguei-me no tema de uma proposta para um debate mais informativo, deixando de lado o que me levou a esse comentário: o nível de baixeza a que chegou nossa campanha política.
E, o que se verifica pelas análises e artigos que trataram do tema ontem, é que o grau de degradação já alcançou limites nunca antes alcançados na história do país.
Na opinião de Jânio de Freitas na Folha, culpa da ação destrutiva do exercício da democracia e das liberdades individuais e respeito aos direitos do cidadão, do eleitor, que foi um dos principais legados dos anos de regime autoritário.
Como ele recorda, antes disso, embora houvesse debates e até troca de farpas entre os concorrentes, era difícil, muito difícil que o candidato descesse do nível mais elevado em que se posicionava, para poder se apresentar como estando situado acima do bem e do mal, embora tal postura não o impedisse de dar apoio e incentivo àqueles de sua equipe responsáveis pelo serviço sujo.
Segundo o colunista, era até difícil ver o  candidato chegar a citar o nome de seu adversário direto,
Quanto a hoje, a história é muito diferente. E os ataques, desde a campanha de Collor em 89, vão se tornando um dos principais elementos da campanha. Ataques políticos ou até mesmo relativos à vida pessoal do candidato, como foi o caso naquela oportunidade.
De lá para cá, as coisas vieram se deteriorando. E ficaram célebres, as tiradas, as ironias, as acusações mesmo que de forma light, e as farpas trocadas entre os candidatos.
Como ficou famoso e até com grande volume de acessos no youtube, o debate ou parte dele, em que Plínio desmascara Marina, acusando-a diretamente de adotar uma postura de quem é vítima de ataques e rotulações, quando na verdade, toda sua reação a qualquer comentário feito a sua pessoa, era menos em sua defesa e mais na de, como vítima, transferir ao seu inquiridor, a pecha de agressivo.
Plínio falou aberta e diretamente que tal comportamento era mais forte para criar rótulos que o comportamento contrário. E que ela era manipuladora e ela sim, rotulava a tudo e a todos. Para concluir ainda a chamou de demagoga, não obtendo qualquer resposta de uma candidata que pareceu se comportar como alguém pego em flagrante.
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E, para não fugir à regra, foi exatamente de Marina que partiu a ideia da trégua, depois de ter feito a mais séria acusação da campanha até agora, quando disse não entender a lógica de um partido manter 12 anos um diretor em cargo de uma empresa como a Petrobras, para assaltar os cofres daquele rica empresa, em prol de seus interesses partidários.
Acusação pesada que coloca a presidenta e a seus ex-companheiros como cúmplices de um assalto, ou seja, de  um crime prescrito na legislação penal.
E antes de se tornar alvo de alguma pedrada, corre para pregar a paz, cuja figura messiânica ajuda a vender como mensagem.
Dá-lhe Plínio. Você sim, conhecia bem à Marina, desde os tempos em que foram colegas de PT.
Já quanto às acusações que Aécio vem fazendo e é o único que não tratou da trégua, pode-se dar-lhe o desconto do desespero, já que o candidato é cada vez mais carta fora do baralho.
Quanto à Dilma, mais contida e mais na base da Dilminha Paz e Amor, até tem causado estranheza a forma que tem reagido, embora não tenha deixado sem respostas as acusações que considera mais pesadas.
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Apenas que, debate mesmo e capaz de possibilitar ao eleitor conhecer a fundo seu candidato, como ele pensa e o que deseja fazer pelo país, e como, e com que instrumentos, até agora, nada.
Um zero de conteúdo.

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