quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Convergência de pesquisas e viradas de última hora

Faltando menos de 15 dias para as eleições, é de se esperar que comecem a convergir os dados das pesquisas de intenção de voto realizadas e divulgadas pelos vários institutos de opinião pública.
Em todas elas, um ponto em comum: o crescimento de Dilma apesar de... e a praticamente inquestionável realização de um segundo turno, contra a candidata Marina Silva.
Em todas as pesquisas, Dilma já assegura uma vantagem sobre Marina no primeiro turno, com os institutos divergindo em relação ao resultado de um segundo turno.
Entretanto, as pesquisas divulgadas no dia de ontem, mostram uma reversão do quadro. Se antes Marina aparecia na dianteira, agora ambas aparecem empatadas de fato, em 41% das preferências, para um instituto.
Bastante diferente dessa projeção, o instituto Vox Populi já mostra Dilma com alguma vantagem à frente de sua oponente, virando o jogo.
Hoje sai a pesquisa Datafolha e como já estamos chegando à reta final, pode ser que a frase com que abri esse comentário se confirme e a convergência de dados mostre já a presidenta com uma margem de diferença capaz de afastar de cena o empate técnico.
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Quanto à pesquisa Vox Populi, que mereceu comentário de certa forma entre o tom incrédulo e sarcástico de Boris Casoy, é preciso lembrar que o instituto mineiro tem longa tradição de acertos, mesmo apontando resultados na direção contrária de outros institutos concorrentes, o que serve para atestar a qualidade de seu trabalho.
Não tenho necessidade nem procuração para representar o Vox e/ou defendê-lo. Sua trajetória faz isso por si mesma.
Outra questão frequentemente levantada pelas pesquisas é relativa ao número de pessoas entrevistadas, que alguns consideram insuficiente. Culpa, nesse caso, da ignorância e do desconhecimento de como se realizam essas pesquisas e das técnicas de amostragem e depois da aplicação da Estatística.
Afinal, independente do número considerado pequeno, os testes de hipótese, com base nas leis de probabilidade e na utilização das funções de probabilidade indicam com margem de erro passível de cálculo e divulgação, que resultado pode ser esperado.
Qualquer número de entrevistados maior que o recomendado pela Estatística iria apenas aumentar o custo da pesquisa, com ganho em alguns casos completamente irrelevantes, para o grau de confiança com algum significado.
Assim, comentários como o que já vi em redes sociais, de que uma pesquisa com cento e tantos mil eleitores indica resultado completamente diverso é risível, no mínimo, por demonstrar completa falta de conhecimento de assunto que, por dever de ofício e formação profissional alguns dos que postam tais matérias deveriam possuir.
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Por outro lado, alguns insistem na tese de que não conhecem qualquer pessoa que já tenha sido consultada por essas pesquisas.
Talvez por não conhecerem tanta gente quanto sua pretensão de importância e popularidade os leva a acreditar conhecer.
Um desses, também em rede social até resolveu realizar uma pesquisa por conta própria, dispondo-se a divulgar o resultado a que chegasse.
Ora, independente do candidato que apóia ou para que torce, a estupidez em que incorre é descomunal, já que a tal pesquisa nasce completamente viesada. Ou alguém em sã consciência poderia imaginar que entre os amigos que compartilham com ele da mesma rede de contatos, poderia haver grande discrepância?
Afinal, são todos amigos. E, como tal, é natural que pensem, façam as mesmas atividades, pensem o mundo da mesma forma e sob uma ótica que é comum a todos.
Pois bem, alguém duvida que a pesquisa indicou outra candidatura que não aquela apoiada pelo nosso pesquisador?
Tal comportamento mais parece choro de derrotado, que qualquer outra coisa.
Mas, voltando à ideia por trás da tal pesquisa, não me lembro de ninguém, muito menos essa pessoa, duvidar ou questionar da realização de pesquisas outras, de produtos ou lançamentos no mercado consumidor.
E tais pesquisas, bem sabemos, existem. Funcionam. E até há muitos anos atrás, quando do lançamento no mercado de uma bebida nova, um bitter, o Campari, testemunhei a pesquisa sendo realizada. Mandaram uma garrafa da bebida para minha casa e depois pediram que algumas características da mesma fosse analisada.
Não sei se é sorte, mas há algum tempo atrás, nas vizinhanças de minha casa, aproximou-se de mim uma moça com uma prancheta e as perguntas sobre candidaturas. Lembro-me que não estávamos em época eleitoral, como agora.
Mas no início do ano, ligaram para minha casa perguntando como eu estava vendo os programas de saúde em nosso estado, etc.
Ou seja: as pesquisas existem. Mesmo que não sejamos tão populares ou bem informados quanto supomos.
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Mas, dito isso, é preciso sempre ressaltar o fato de que a pesquisa não é a eleição. Pesquisa indica intenção, e não apenas de intenções o inferno está cheio, como as intenções mudam. E podem mudar por detalhes ou por motivos muito pequenos.
Não me lembro com precisão por não estar no Rio, mas em 1982, foi nos últimos dias de campanha que Brizola passou a surgir como favorito na disputa. apesar de todo o esquema - rede Globo e Proconsult à frente, para que a vitória fosse decretada para outro candidato.
Também de última hora foi o impacto do sequestro, descoberta do cativeiro e libertação de Abílio Diniz, com os sequestradores sendo fotografados com camiseta de propaganda de campanha do PT.
Tal fato teve peso considerável em levar alguns eleitores indecisos à decidirem seu voto, na última hora.
Não há como negar que um fato qualquer, até ligado a algum dos escândalos que rondam nosso noticiário não pode vir a interferir e mudar o jogo.
Mas ressalte-se: pesquisa não é a eleição. Pesquisa é como treino. E, como dizia Didi, treino é treino e jogo é jogo.
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Apenas um comentário: nas pesquisas que têm sido divulgadas, Marina cai para o patamar em que já se encontrava no início da corrida sucessória, ainda com Eduardo Campos vivo.
Talvez em análise gráfica de mercados alguém poderia dizer que, na verdade, volta para sua linha de resistência.
Dilma conta com a vantagem de possuir muito mais tempo de campanha na mídia, graças aos acordos incontáveis e impublicáveis - alguns, que fez com essa finalidade.
Já Aécio, que acertadamente tem sido chamado por José Simão da Folha de o candidato pancake, tem um discurso completamente vazio. A ponto de já terem comentado que não basta apenas ser contra o PT, o candidato tem de mostrar a favor do que ele é ou pretende ser.
A entrevista dada ontem no Bom dia Brasil, embora com um comportamento menos agressivo dos entrevistadores em relação ao candidato, na minha avaliação, deixou sem resposta a maioria das questões. Apenas ficar a dizer que é o mais preparado, que fez o melhor governo, que tem a melhor equipe e que tem a melhor estrutura para fazer o país voltar a se desenvolver, não assegura coisa alguma, como bem o disse Miriam Leitão.
O candidato não convence e por isso, despenca até mesmo em seu estado, onde se julgava imbatível.
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Luciana Genro, ao contrário, tem propostas mais difíceis de serem aceitas pela sociedade, como fez questão de lembrar-lhe o Rafinha Bastos do Agora é Tarde da Band. Mas como a candidata também frisou, melhor trazer a luz temas espinhosos e tentar um mínimo de espaço para discuti-los que fingir que os problemas não estejam aí, para serem resolvidos.
E como ela afirmou, se importa ser eleito, há um preço que é alto demais para ser pago, mesmo por um presidente da República.
Como disse Fidélis, no debate do SBT, conduzido por um Carlini extremamente antipático, quem paga a festa determina o que toca a banda.
É isso.

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