Mais uma vez, os fatos comprovam que Romário estava coberto de razão, ao afirmar que calado, com a bola nos pés, Pelé era um poeta.
Mais uma vez, o rei do futebol deixa o campo de jogo dando espaço para que surja em cena o Edson, nessa esquizofrenia que faz com que o Pelé ou o Edson falem sempre na terceira pessoa, referindo-se ao seu outro eu.
Mais uma vez, o Edson comprova que se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro e para não ficar muito cansativo, desanda a falar asneiras, provando que, na maioria da vezes o melhor é ficar calado.
Pois bem, agora Pelé ou Edson resolveu criticar ao seu colega de profissão e raça, o goleiro do time cuja camisa defendeu por anos seguidos, o Santos Futebol Clube, alegando que o jogador teria exagerado em sua reação, ao ser tratado pela torcida do Grêmio com o preconceito racial de que foi alvo.
Uma pena, porque ao dar as declarações contrárias ao comportamento de Aranha, que parece ter solicitado ao juiz, inclusive que a partida fosse interrompida, Pelé dá força aos torcedores gremistas e a seus ataques à dignidade de um profissional e um ser humano, acima de tudo.
Ao usar os argumentos que usou, que se fosse para agir dessa forma, ele teria tido inúmeras oportunidades de reagir também, pedindo a paralisação do jogo, por conta de ter sido chamado de macaco, crioulo ou coisas do mesmo gênero.
Grande demonstração deu o atleta do século, de que não entende o mundo à sua volta. De que não consegue evoluir. Que não percebe que o mundo mudou, sintomas de que não consegue deixar de viver o passado, revivendo seus tempos de glória.
Fato aliás, já passível de ser visto, percebido e sentido em outras oportunidades, em especial quando questionado sobre jogadores e atletas que estejam se destacando e prontos para ocuparem a posição que um dia foi ocupada por ele.
Curiosamente, Pelé ou Edson, sempre reage a essas situações com declarações que tentam não necessariamente menosprezar o outro, mas sempre se elevar, se elogiar, mostrando que o outro, alvo de elogios, está distante anos luz do Pelé. Que ele Pelé tinha mais qualidades, habilidades etc.
Interessante como Pelé não se dá conta de que foi soberano, mas que não é mais, exceto como lembrança.
E como não se dá conta de que, de sua época de jogador para cá, muita coisa se alterou. Inclusive no sentimento que aflorou e cada vez mais se destaca, de que o preto sempre foi tratado, em nosso país, como uma pessoa de segunda categoria. A ponto de, se bem comportado, poder, quem sabe, deixar ocasionalmente a cozinha e a dependência de empregados, para vir se juntar aos patrões brancos, de olhos claros e ricos. Bem mais ricos que eles, e mais, bem mais cheios de oportunidades.
Exceto, claro, se o preto/preta, fosse a babá dos meninos rechonchudos da casa.
Preto de alma branca.
Isso é o que a época de Pelé inspirava e que talvez tenha levado aquele jogador ou o Edson, a buscar sempre basear seu comportamento em seu modelo, pertencente a uma raça diferente da sua.
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Agora, quando tem a oportunidade de estufar o peito e, de cheio de orgulho, se mostrar preto, mas sem nenhum tipo de preconceito, dando origem a que cada vez mais os atos de injúria racial sejam banidos de nossa sociedade e do esporte vem, ao contrário, mostrar mais uma vez como foi transformado em um marionete.
Pelé dá pena, ao dar declarações. Sempre a favor dos patrões, dos poderosos, dos que subjugam o povo e o oprimem, independente de raça, credo, grupo social, etc.
Mostra que foi muito bem treinado e que aprendeu a reagir ao adestramento a que se deixou submeter, de forma a dispensar a presença mesma de seu instrutor.
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Menos mal é que, vivendo em uma sociedade democrática, Pelé ainda tenha espaço para falar as asneiras que fala, embora para quem o admire, cada vez mais somente sobre decepção.
Afinal, como dizia Voltaire, posso não concordar com nada do que você diz, mas vou brigar sempre pelo seu direito de falar o que você quiser.
A máxima vale para Pelé. Mas que alguém poderia falar para ele que não vale a pena abrir a boca às vezes, para falar as bobagens, mesmo aquelas que até ele tem direito, isso não há como negar.
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BC, Selic e inflação
Sai a público a Ata do Copom, em que a Autoridade Monetária manifesta que não há mais razões para promover alterações da taxa básica de juros da economia, deixando a entender que seu movimento de elevação já cumpriu seu papel.
Assim o BC reconhece de forma otimista que a inflação perdeu sua resistência à baixa, embora também reconheça que apenas em 2016 pode-se esperar a aproximação da meta alvo de inflação, de 4,5% ao ano.
A razão para isso talvez decorra também dos esperados choques de correção de preços administrados ou contidos, praticados pelo governo, e que afetam o preço dos combustíveis e da energia elétrica, especialmente.
Preços que, ao serem majorados para se adequarem ao patamar em que deveriam estar situados, sem dúvida trarão impactos sobre a inflação de 2015.
Mas o BC sinaliza que, exceto no caso de haver algum choque extraordinário provocado por fatores externos ou não passíveis de previsão, como o agravamento da seca ou algum outro grave fator ambiental ou proveniente de forças da natureza, não vale a pena continuar praticando uma política de juros elevados, cujo impacto sobre os preços traria menos resultado, já que chegou a seus limites, embora seu efeito pudesse ser devastador sobre o nível de atividade, geração de emprego e renda.
Claro que, a autoridade dá também alguma folga no prazo de atingimento da meta, já prevendo a possibilidade de o reajuste dos preços defasados não poder ser feito todo no ano que vem, em razão dessas possibilidades de choques.
Mais importante, é saber que a inflação, mesmo não estando na meta, continua dentro dos limites, mesmo que tais limites sejam muito elásticos, e que a oposição critique tanto que o BC tenha estabelecido como meta informal, o limite superior. O que não é necessariamente, verdade.
De qualquer forma, sem BC autônomo, nada assegura que o COPOM continuará com a mesma composição e filosofia no ano de 2015.
E só nos resta esperar o resultado das eleições de outubro.
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