terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pitacos sobre as propostas da equipe de Marina, o América Mineiro e a pesquisa Vox Populi

Por mais que eu seja radicalmente contrário à proposta da equipe econômica de Marina Silva, de conceder a autonomia ou pior ainda, a independência ao Banco Central, é inegável que a ideia de retirar daquela Autarquia a missão exclusiva de manter a estabilidade do valor da moeda é muito boa.
Isso significa que o Banco Central deixa de se comportar como o que a imprensa e os mercados chamam de banco central clássico, eufemismo usado para esconder a questão ideológica, por trás da existência e funcionamento do Banco Central.
O problema é que poucos sabem que o surgimento do Banco Central, no final dos anos 1600, atribuía a essa instituição outras funções, sendo que o controle da inflação não era sua função exclusiva. muito ao contrário. E, por interesses outros, pouco se divulga que o papel do FED, o Federal Reserve, o Banco Central americano, inclui como sua missão zelar tanto pelo controle da estabilidade dos preços quanto da taxa de desemprego.
Ou seja, essa ideia de que há um Banco Central clássico, tem muito a ver com a exclusividade do combate à inflação, via política de juros elevados.
Entretanto, os modelos macroeconômicos ligados à escola novo clássica ou das expectativas racionais exige que o maior número de informações seja transmitido pela Autoridade Econômica ao mercado, de forma a permitir que, com maior transparência, os agentes tenham condições adotar comportamentos mais racionais no mercado, em especial, melhorando as condições do cálculo econômico que orienta as decisões de investimento.
Nesse sentido, estabelecer também uma meta, de conhecimento público, para o nível desejado de emprego permitiria aos agentes acompanhar mais uma importante variável de política econômica, levando o Banco Central a, sem abandonar o instrumento da taxa de juros, balizar o uso dessa ferramenta e passar a adotar outras medidas para combate à inflação.
Foi isso, aliás, que os principais assessores de Marina apresentaram como argumentos ao serem consultados em matéria publicada no domingo último pela Folha de São Paulo.
E, mesmo tendo uma longa série de críticas à escola das expectativas racionais, aos seus pressupostos e hipóteses, confesso que me agrada muito a ideia de ver os juros deixarem de ser tratados como o único remédio para o combate à elevação de preços.
Mais ainda, me agrada ver que o próprio controle da inflação, embora de importância indiscutível, venha a  ser feito de foma a não jogar toda as fichas em uma política de juros elevado de cunho reconhecidamente recessivo, situação que levou o Ministro Mantega, em recente evento, a comparar um seu eventual êxito à paz dos cemitérios.
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Ainda na mesma reportagem, também vale comentar a ideia exposta por um dos principais assessores de Marina, de alterar a meta de inflação elevando-a, para resgatar sua credibilidade.
Conforme a proposta, grande parte da atual crítica à política econômica adotada pela equipe da presidenta Dilma advém de os mercados já terem perdido a confiança na capacidade de a meta ser alcançada.
Ora, sem confiarem na capacidade do governo de cumprir e entregar o patamar de reajuste de preços prometido, isso desperta e aguça o comportamento empresarial que recomenda, na eventualidade de uma aceleração inflacionária, não estar situado entre os últimos a reajustarem seus preços. Em outras palavras, amplia a dispersão de preços e acarreta as correções preventivas, na verdade, fruto tão somente do velho conflito distributivo.
Rands, autor da ideia, como que reconhecendo que a resiliência da inflação nos dias de hoje é causada por fatores que situam-se além da capacidade de controle das autoridades, e argumentando com o fato de o governo Dilma apenas conseguir apresentar um resultado situado no limite superior da meta inflacionária, propõe que se reconheça e se corrija a média, para um valor acima dos 4,5% em vigor.
Claro que sua proposta não é de elevar a meta para 6,5%, mas algo como 5,5% parece. E também é óbvio que uma medida como essa não poderia ser apresentada nem mesmo adotada por um eventual segundo mandato do governo Dilma.
Propor essa mudança, para Dilma, seria ruim pois implicaria em um reconhecimento de sua incapacidade e de sua equipe para manter os compromissos assumidos com a sociedade.
Mas, é bom que se lembre que, se Dilma não poderia adotar esse recurso, seus marqueteiros poderiam dar um jeito de usar a resistência da inflação à queda, reconhecida até pelos adversários, como sendo fruto de causas além daquelas sobre as quais o governo pode atuar.


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Tribunais de Justiça Desportiva ou o tratamento da justiça apenas por esporte


Tive um professor de Direito Penal, na faculdade de Direito da antiga Universidade Católica de Minas Gerais, que toda vez que era questionado sobre o comportamento e decisões, e funcionamento, e critérios dos tribunais de justiça desportiva, respondia ironicamente que aquilo não era nem tribunal, nem de justiça. O nome apenas estava correto no desportivo, ou seja juízo por esporte. Apenas esporte.
Curiosamente, esporte em que, diferente do futebol, de cartas marcadas. Assim foi o julgamento da Portuguesa de Desportos no caso do jogo final do Campeonato Brasileiro no ano passado, em que, a punição dada ao time paulista permitiu manter o Fluminense e de quebra o Flamengo na primeira divisão, a mais importante do cenário nacional.
Afinal, se o futebol permite que o menor ou pior dos clubes vença em campo, o STJD intervém para repor a SUA  verdade e resgata, via tapetão, o peso da tradição.Ainda mais se o beneficiado for time do Rio, onde o Tribunal de mentirinha encena suas peças. E principalmente se o Fluminense está envolvido.
Mas, não são apenas os times do Rio que se beneficiam. São os maiores, os de maior peso e prestígio.
Assim foi com o caso do Corínthians e o jogador Petros, suspenso por 180 dias no primeiro momento, pena depois, em grau de recurso, transformada em 3 jogos apenas. Ou no julgamento que inocentou ao jogador e artilheiro do time paulista, Guerrero, em situação bastante parecida com a trombada dada por Petros, no árbitro.
Então, não é nenhuma surpresa que o América seja agora o prejudicado pelo esportivo colégio de julgadores???
Tudo bem que o América errou e merecia a punição por trabalhar mal em seu departamento de registro de atletas, já que o jogador em tela já havia participado de competições por outros dois clubes.
Mas, a CBF, ao que foi noticiado incluiu o nome do jogador no Boletim chamado BID, que relaciona os atletas em condições de jogo.
Ora, não seria o caso de se considerar que o América foi induzido ao erro pela inoperância também da CBF e, nesse caso, considerar que o time mineiro deveria perder os pontos apenas da partida em que o jogador, esteve de fato em campo?
Seria uma punição que o clube merece, e muito mais justa, por força do comportamento da própria entidade que comanda o futebol em nosso país.
Mas, o STJD é lá do Rio. O América é de Minas. E parece que há uma má vontade especial do tal tribunal com as nossas Gerais e as equipes mineiras.
O que é uma pouca vergonha. Mas, enquanto os clubes mineiros não se  unirem e resolverem romper com CBF, Globo, Tribunais, etc. a situação vai apenas e de forma cansativa, se repetir e repetir.

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Pesquisa Vox Populi e o empate técnico

Dilma à frente de Marina no primeiro turno e um ponto atrás no segundo turno. Aécio, estacionado nos 15%, perdendo até mesmo em Minas, onde dizia ser imbatível.
As campanhas partindo cada vez mais para o que Lavareda chamava na Band de campanha negativa, em razão das agressões ao adversário.
O número de indecisos caindo, mas ainda se mantendo em quantidade suficiente para que alguma surpresa possa ser verificada na eleição que se aproxima.
Para Lavareda, a campanha desce o nível para tentar trazer para o mesmo patamar o grau de rejeição capaz de levar os eleitores a não votarem em um candidato específico. Nesse quesito, Dilma está pior que Marina, com percentual bem mais elevado de rejeição.
Contribui para isso, o fato que constitui, paradoxalmente, em sua maior conquista. Ou nem tanto. Afinal, a maior conquista de Dilma foi melhorar as condições de vida de parcela da população, antes abandonada pelos governos. Tal distribuição de renda, mesmo que capenga e entre aspas, penaliza alguém  para dar renda aos mais pobres. Em nosso caso, o grupo que perdeu foi o que compõe a chamada classe média:  aquele agregado de pessoas que habitam as cidades de maior porte ou de porte médio, onde a insatisfação com a presidenta encontra mais eco. A turma que considera que suou e sofreu para chegar e obter os direitos e vantagens que obteve, por ter lutado, estudado, dado o duro, trabalhado muito. Tudo bem, ninguém nega que de fato lutaram e suas conquistas foram fruto de sacrifícios. Mas ignoram que, enquanto não tinham as benesses e facilidades que eram exclusividade das famílias mais ricas e de mais tradição, ao menos tinham emprego, acesso à educação, e acesso a emprego, especialmente por terem vivido nas franjas de poder da classe social mais abastada.
Eram profissionais liberais, do comércio, de serviços para atendimento aos interesses das classes mais abastadas e, assim, puderam sustentar sua família. Sem luxos, mas em condições de dar-lhes o mínimo necessário para, em se esforçando, galgar posições na escala social.
Essa  turma, reclama com razão, por um lado, é necessário reconhecer. Porque agora acham que seus esforços estão sendo objeto de castigo.
Apenas esquecem, ou ignoram, ou não querem admitir que havia em nossa sociedade pessoas muito mais penalizadas. E não por deixarem de correr atrás ou de se esforçarem. Pessoas que, ao contrário, quanto mais se esforçavam para superar suas dificuldades mais se tornavam objeto de exploração e manutenção  nas condições capazes de perpetuarem sua pobreza e sua exploração.
No fundo, a reação dos grupos integrantes da chamada classe média trata-se da questão da distribuição de renda e da perda de privilégios que são incapazes de tolerar e que, na atual campanha as fazem ir para a oposição.
O que as fazem, mais uma vez, perderem o trem da história, que exigiria nesse momento um comportamento mais fraternal e solidário.
O que não deixa de ser e dar pena!

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