São sérias e extremamente graves as denúncias que a revista Veja publica em seu último número, a respeito dos depoimentos, até então classificados como sigilosos, dados pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, à Polícia Federal.
Primeiro, por se tratar do conteúdo de um depoimento sigiloso ainda não concluso, cujo potencial destrutivo exige que amplas e profundas investigações fossem conduzidas para verificar, antes de mais nada, sua veracidade.
Isso, considerando-se que a matéria da denúncia jornalística seja mesmo o conteúdo ou parte dele, do processo que investiga a empresa petrolífera. Porque claro está que, em se tratando de documento de tamanha importância e gravidade, e considerando-se o momento que o país atravessa, quando falta pouco mais de um mês de eleições, inclusive para o cargo mais importante do país, até mesmo o que vazou merece ser alvo de averiguações.
Devemos admitir que, dada sua reputação, a revista semanal não seria leviana a ponto de publicar um conteúdo que não viesse de fonte muito segura e confiável. Porque sem garantias firmes da autenticidade do material e das insinuações apresentadas, a revista não iria correr riscos de estampar em suas páginas acusações tão pesadas, contra pessoas, partidos, instituições, etc.
Então, tudo bem. A fonte é segura e o material que chegou às mãos da reportagem não é do tipo daqueles famosos "dossiês" fabricado por meia dúzia de malucos, apenas para jogar lama na honra de algumas pessoas, e que acabam manchando apenas a reputação de seus autores, tamanha a incompetência.
Nesse instante, tem início outra questão relevante. O fato mesmo de ter sido dada a declaração a transforma, naturalmente em uma verdade? Ou pior, os fatos denunciados têm condições de serem apurados para se transformarem em provas contra os acusados?
Ora, mesmo sem ser ingênuo, sabemos que algumas rusgas, interesses pessoais não atendidos, uma série longa de motivos podem levar alguém a ampliar ou a dar uma interpretação mais fantasiosa a certos detalhes para poder criar situações que, mesmo não tendo como serem comprovadas, acabam por atingir seu alvo e levantar a suspeita sobre pessoas, empresas, empresários, políticos, etc.
Admitamos até que o diretor está fazendo as denúncias e promovendo as acusações movido exclusivamente pelo interesse de colaborar com o trabalho policial e a aplicação da justiça, e que sabe das penalidades em que incorrerá caso suas declarações sejam uma fraude.
Não seria possível que um dinheiro transferido, um recibo, um comprovante qualquer de pagamento existente e preenchido de forma incompleta ou não preenchido, poderia ter outra causa ou origem, sendo aproveitado agora como um possível documento exatamente por suas deficiências?
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Acreditemos que as denúncias sejam todas verdadeiras, e que o senhor Paulo Roberto não esteja mais que fazendo aquilo que sua consciência determina. A partir daí, surge outra questão: qual o conteúdo do documento, na íntegra? A revista teve acesso a todo o depoimento ou a pessoa interessada em vazar a informação reservou-se o direito de passar apenas uma parte do mesmo? Que parte? Por que esse recorte? Que parte do conteúdo ficou de fora, não foi apresentado? Por que motivo?
Se teve acesso ao conteúdo integral, a revista publicou todo ele ou apenas parte? Se o fez parcialmente, qual o critério utilizou para fazer a seleção?
Reconhecemos que a revista pode ter procurado atender a suas legítimas motivações, como vender mais, causar mais alarde, maior repercussão, ter maior capacidade de interferir ou influenciar nas eleições?
Confesso que tenho acompanhado com grande preocupação as notícias do caso, usando outros órgãos de imprensa como fonte de informações.
Não leio a Veja, por uma série de motivos, o principal deles por não gostar ou concordar de sua linha editorial. Quanto a seus colunistas, então, melhor nem falar nada.....
Creio que a revista, em sua ânsia de realizar um jornalismo investigativo possa ter descoberto e levantado questões, sem dúvida, de maior relevância para o país e nossos interesses. Afinal, a Petrobras é a maior empresa de nosso país. Símbolo nacional de expressão.
E o patrimônio de nosso povo, não pode e nem deve ser apropriado por alguns gatos pingados, que se julgam donos da Pátria e do poder, quando foram escolhidos apenas para serem nossos representantes.
Embora eu acredite que esses donos do poder, e não me refiro apenas a políticos, tenham sempre se locupletado às custas de nosso patrimônio e da corrupção que grassa, não apenas em nossa sociedade, mas em toda sociedade em que o dinheiro e a ostentação que ele permite e patrocina padece desse mal. A diferença é que aqui, a punição do corrupto ou ladrão descoberto varia com o fruto do ato criminoso. Quem rouba pouco é ladrão. Quem rouba muito vira ícone. Antes barão. Depois ministro, deputado ou senador. Ou então o super-herói de nosso empresariado tupiniquim. Aquele que visando os lucros não admite correr qualquer risco.
Mas, isso são outras questões.
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Admitindo tudo como certo, até mesmo o vazamento inconcebível de documentos de dentro da Polícia Federal ou do Ministério Público ou da Justiça, já que por seu intermédio passamos a ter conhecimento maior do mar de lama que nos cerca, e polui mais que o óleo cru, não constitui surpresa que, os possíveis envolvidos estejam todos ligados ao partido do governo.
Afinal, sendo a Petrobras uma empresa administrada pelo governo, seria no mínimo ridículo supor que pode ter havido favorecimentos e pagamentos a pessoas ligadas a partidos de oposição, embora até isso também não esteja fora de questão.
Que tenham sido favorecidas as pessoas ligadas ao partido da base de sustentação do governo, não é de se admirar, especialmente lembrando-se de que a base contém o PMDB, partido de maior tradição nesse tipo de envolvimentos que se tem notícia no passado recente.
Pessoas vinculadas ao PMDB, ao PP, ao próprio PT, PSB, não deveriam causar estranheza, infelizmente.
E vou mais longe, pessoas vinculadas antes, a estados em que a Petrobras tenha interesses e atuação mais destacada, já que facilitaria os contatos e os desvios de dinheiro e de conduta.
Não é surpresa verificar constar na lista delatada por Costa, os governadores de estados produtores de petróleo. Nem os políticos que, de alguma forma, pelos cargos que ocupam no Congresso, relataram ou tiveram alguma participação em decisões que envolviam a estatal.
Surpreende é a lista ser tão exclusiva, com tão poucos sócios no clubinho. Ou os nomes publicados são apenas os que a revista achou que atrairia maior atenção e falatório, assunto já tratado antes.
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Citar o governador já falecido Eduardo Campos como tendo se beneficiado do esquema, sabendo dos vínculos entre o estado de Pernambuco e a companhia, inclusive com a construção de um porto, uma refinaria, é algo mais que esperado. Especialmente porque o governador não pode mais se defender e, como nesse tipo de situação os envolvidos não deixam rastros ou resquícios de sua ação, a questão ficará em suspenso.
Mas, do mesmo jeito que serve para toldar a imagem de Eduardo, atinge também ao seu partido, ainda envolto nas explicações relacionadas à acusação de estar usando um jato de laranjas nas viagens de sua campanha presidencial. O que, de certa forma pode ter relação com lavagem de dinheiro,
E, por tabela, atinge também Marina Silva, a ex-ministra do partido do PT, que se beneficiou da mamata da Petrobras, embora nunca antes da campanha agora, levantasse a voz para fazer qualquer declaração a respeito da empresa. Nem contra, nem a favor. Atinge Marina também como a atual candidata do partido que teve benefícios.
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Como não é de surpreender, não atinge apenas o PSDB, o DEM, partidos que por serem oposição, não iriam mesmo estar se aproveitando dos desmandos, embora em nível individual pode ser até que alguns de seus filiados pudessem estar na lista.
Daí a razão para o desesperado Aécio partir, como não poderia ser diferente, para o ataque.
E ele tem razão, porque independente das influências de tal escândalo no resultado eleitoral, a preocupação primeira que deve nos mover, aos homens de bem do país, é saber exatamente o que aconteceu?, como?, quando?, em que valores?, para que destinações?, com os dinheiros da Petrobras.
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Apenas lamento que Aécio que tanto exige a apuração cabal de todo o escândalo agora escancarado, não tenha a mesma postura de cobrança, doa a quem doer, em relação a outras situações denunciadas e, curiosamente, nunca investigadas com tamanho zelo ou alarde, como o caso do metrô de São Paulo, a formação de cartéis nas obras realizadas por seu partido ainda em São Paulo, na questão do mensalão mineiro, etc.
Porque agindo como age hoje, Aécio demonstra que não tolera corrupção nem que se aproveitem do que é de todo o povo brasileiro. Apenas se o bigode do gato que for flagrado não for do mesmo tipo de corte e pelos do bigode de seus amigos e partido.
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