terça-feira, 23 de setembro de 2014

Entrevistas econômicas, de Serra e de Dilma no Bom dia Brasil

Interessante o debate ontem, no Estadão, entre Nelson Barbosa, economista ligado à Dilma e que alguns boatos asseguram ter muitas chances de ocupar o cargo de Ministro da Fazenda em um segundo mandato da presidenta, e Samuel Pessôa, colunista da Folha e ligado ao PSDB.
E, como não poderia deixar de ser, a questão da retomada da inflação e de um relaxamento do sistema de metas foi o assunto dominante, com Nelson Barbosa tentando mostrar que, dados os pesados custos sociais envolvidos na adoção de medidas destinadas a obter a convergência imediata do índice de inflação para a meta de 4,5%, a questão central deixa de ser se o governo abandonou ou não o sistema de metas, mas a do prazo para que a convergência seja obtida.
Ou seja, a discussão quanto ao sistema de metas não pode prescindir de outra, relativa ao período de tempo que a sociedade considere necessário para que a meta seja atingida, sem custos elevados.
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Na opinião de Pessôa, a busca da convergência deveria ser no mais curto prazo possível, especialmente tendo em vista que, face a políticas adotadas pelo governo, consistentes no represamento de preços importantes, como o da energia e o dos combustíveis, a sociedade trabalha com expectativas de uma inflação maior - e fora dos limites do sistema - para 2015.
Segundo Barbosa, não é possível ignorar que o país sofreu um choque de preços de alimentos, por força de fatores naturais, a chamada inflação do tomate, por exemplo, e que para não sacrificar algumas conquistas no campo dos ganhos sociais, optou por estender o tempo para que a inflação retornasse à meta proposta.
Para isso, adotou a política de transferir para a sociedade de forma mais lenta os preços de alguns serviços, como o da energia que, entretanto, já vem subindo na casa dos dois dígitos nesse final de ano de 2014. Isso significa que o impacto de uma correção de preços de energia elétrica sobre os índices de inflação serão menores em 2015, o que permite que se estime uma inflação para o próximo ano de perto do limite superior da meta.
Entretanto, ele faz questão de frisar, não há e nem pode haver qualquer economista que seja contrário ao sistema de metas e de controle da inflação,  insistindo na tese de que tal controle não deva ser divorciado da discussão de um prazo para que a meta seja alcançada.
Para ele, o país já viveu experiências de inflação que ultrapassaram os limites do sistema de metas, e já deu demonstrações de que é capaz de adotar as medidas necessárias a retornar a meta, bastando que a sociedade aceite um prazo mais longo.
Nesse momento, esquecendo-se de que o PSDB entregou uma inflação completamente fora dos limites estabelecidos quando da mudança do governo FHC para o governo Lula, Pessôa fez referências a um período em que vivíamos uma hiperinflação que distorcia completamente o ambiente e o cálculo econômico.
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Ou seja, ligado aos grupos empresariais e banqueiros que exigem maior previsibilidade para reduzirem os riscos de aplicação de seus dinheiros, Samuel Pessôa é favorável a um ajuste imediato, da economia brasileira, mesmo que isso provoque de imediato algum desemprego, perda de renda pelos mais desamparados e uma elevação de preços momentânea, a chamada inflação corretiva.
Barbosa é favorável a uma política que promova os ajustes de forma mais gradual, tentando preservar os ganhos conquistados pelos governos petistas, em relação às questões sociais.
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Perguntados a respeito da independência ou autonomia do Banco Central, que tem se tornado uma questão importante na campanha eleitoral, Barbosa argumentou que nossa Autoridade Monetária já tem assegurada essa autonomia, o que pode ser ilustrado pelo fato de as taxas de juros terem sido objeto de elevação em pleno ano eleitoral, com todas as consequências que isso acarreta para o crescimento do PIB e outras variáveis econômicas.
Ou seja: o debate só ratifica a tese de que, se os objetivos a serem perseguidos são os mesmos, a forma de se procurar alcançá-los é que provoca a maior celeuma, especialmente, tendo em vista o ponto de partida ou de referência que cada um dos contendores adota.

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Entrevista de Serra

Nesse meio tempo, em outro site, entrevista com José Serra dava conta de que para o ex-ministro e agora candidato ao Senado pelo PSDB paulista, o loteamento de cargos na gestão pública, inclusive de agências, em troca de uma pretensa governabilidade é uma das piores características de nossos governos.
Ilustrando seu raciocínio, cita que agências reguladoras ligadas à questão da Saúde não têm sequer um médico, e acaba relembrando que, por força de tais acordos partidários, Lula perdeu a manutenção da CPMF no Congresso, já que não quis atender ao pedido ou imposição da bancada do PMDB, que exigia um cargo de destaque em empresa pública para votar favorável ao governo.
De sua entrevista, ressalta ainda o fato de que deixa muito claro que não acredita na possibilidade de que um governo de coalização nacional possa ter êxito, o que é uma ducha de água fria naqueles que ainda acreditam em que Marina poderia contar até mesmo com a presença dele em um eventual ministério de notáveis.

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Dilma no Bom dia Brasil

Mais uma vez, a presidenta Dilma esteve sendo entrevistada por jornalistas da rede Globo e, mais uma vez, adotou a mesma tática de ficar muito tempo tratando de uma questão apenas, por mais importante que seja, sujeitando-se a ser, inúmeras vezes, interrompida por seus entrevistadores.
Infelizmente, para ela, esse comportamento soa antipático aos que assistem a sua entrevista, mesmo que ela esteja preocupada em mostrar que foi em seu governo que os órgãos de investigação têm podido investigar sem qualquer restrição.
É verdade que não apenas a Polícia Federal, mas outros órgãos tiveram garantida mais liberdade para exercerem sua função, mas a presidenta poderia ser mais objetiva em mostrar que em seu governo mais operações e mais resultados foram obtidos, e que agora resta que as falcatruas sejam adequadamente punidas pela instância adequada.
Com relação à indicação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobrás, mostrou que a escolha recaiu sobre um funcionário de carreira, que já vinha, por seu merecimento, galgando cargos na empresa, tendo chegado a ser indicado em governo anterior, para diretor da filiada responsável pelo gás.
Ora, daí a saber que o diretor tenha se corrompido e passado a obter ganhos escusos em negócios relacionados a sua diretoria, vai uma distância grande. Mas a presidenta deveria ter jogo de cintura para virar o jogo, o que ela definitivamente não consegue fazer.
Afinal, se como os jornalistas todos apontavam, o diretor era corrupto e ela deveria ter conhecimento e não teve, além da falha de informação e controle, que ela deveria admitir, há outra lacuna no episódio. Quem eram os corruptores? Quem se beneficiava das decisões pagas a peso de ouro? Porque os repórteres não procuraram esquadrinhar e apontar quem estava do outro lado da mesa, pagando caro ao diretor?
Com relação à propaganda dita enganosa que vinha fazendo em relação às propostas de Marina, especialmente ligada ao Banco Central e sua prometida independência, mais uma vez perdeu a oportunidade de dizer que estava apenas levantando uma possibilidade já identificada em outros países, a da captura dos órgãos reguladores pelas entidades reguladas.
Ao contrário, ficou perdida em detalhes relativos ao seu direito de mostrar que o procurador geral da República pode ter uma opinião pessoal, que não significa que ela já tenha sido condenada. Afinal, ainda resta o pleno do Tribunal julgar o mérito do que afirma o procurador.
Com isso, e se alongando demais em cada questão, a presidenta cansa e, embora não tenha dito nada que seja absurdo ou que esteja errado, inclusive no tocante aos números de desemprego, ela mostra que perde oportunidades importantes, como a de destacar por exemplo, na questão da educação, o Ciências sem Fronteiras. Que é um excelente programa de seu governo.
Assim ao final da entrevista, em que nitidamente os repórteres ficam e mostram seu descontentamento, aqueles que assistiram ao programa acabam adotando posição ainda mais crítica à presidenta, que já não é muito simpática, ao falar em público.





Um comentário:

Oswald Stuart Nascimento Rabelo disse...

Paulo, tudo bem? Gostaria de confirmar se a lista de exercício do capítulo 2 de Economia MOnetária é para quinta dia 25/9/14. Obrigado. Oswald. Aluno Una