terça-feira, 9 de setembro de 2014

O tratamento irresponsável de certos órgãos da imprensa e de alguns jornalistas em relação às denúncias de Veja

Eu ia começar o comentário de hoje dizendo que chega a ser cômico assistir aos telejornais noturnos,  principalmente aqueles com notícias exclusivas de nosso estado. Mas não é verdade. Não é essa a expressão capaz de exprimir minha reação. Então devo começar essa postagem, dizendo que é, no mínimo constrangedor ouvir como os comentaristas daqui de nossa terrinha se comportam.
Isso, porque, ao invés de realizarem comentários isentos, de alguma forma informativos e, portanto buscando, senão a imparcialidade, alguma objetividade, o que vemos é o analista/comentarista torcedor. Tão apaixonado em seus comentários quanto o torcedor de futebol frequentador de arquibancada dos jogos de seu time do coração.
Chega a fazer corar de vergonha.
Ao menos a mim. Ou ao menos o comentário ontem do analista de política do Jornal Band Minas, o nosso  Carlos Lindenberg. Contra quem não tenho nada. Nem contra nem a favor. Mas que serve como referência para esse comentário apenas pela forma que vem analisando os fatos ligados à campanha eleitoral para a presidência da República.
Porque a torcida que faz para o candidato Aécio é tão clara, tão visível, que qualquer comentário que ele possa fazer perde inteiramente a característica que acredito ele deveria ter a preocupação de manter: a da credibilidade.
Ontem por exemplo, ao tratar da repercussão ainda das denúncias do ex-diretor da Petrobras, Paulo Costa, em seu depoimento visando a obtenção do benefício da delação premiada, foi incapaz de chamar a atenção para algumas das questões mais triviais que deveriam ser ao menos mencionadas.
Assim não falou que as denúncias resultaram de um vazamento de informação de um processo sigiloso, o que, no mínimo caracteriza um crime. Não mencionou que o depoimento dura já muitas horas e até dias, o que deve indicar ter muito mais informações relevantes e denúncias para virem a público. Ora, sendo assim, a parte que já veio à luz, se verdadeira e correta, deve ser tomada como bastante suspeita. Não a suspeição relativa a sua autoria apenas, embora essa também seja relevante.
Afinal, se o inquérito e depoimento é sigiloso, deve ficar sob suspeição até mesmo o fato de que o que vazou e foi publicado ser parte autêntica do depoimento.
Supondo que é sim, parte das denúncias do ex-diretor, então a pergunta seguinte é, será que todo o conteúdo foi alvo da publicação da revista Veja ou apenas parte. Justamente aquela parte que prejudica aos candidatos contra os quais a Veja vem se empenhando em criticar?
Quanto aos outros nomes, se existem, porque não foram divulgados? Se tais nomes existem, quem ou porque, estão sendo protegidos? Qual a responsabilidade da revista nesse processo de blindagem, se existir algum processo do tipo?
Também não foi feito comentário algum à questão mais relevante. Nomes foram mencionados e publicados com grande estardalhaço. E se não houver qualquer prova concreta contra eles, ao final de toda a investigação. Fica apenas a palavra do ex-diretor e pronto?
E a reputação das pessoas, fica para sempre comprometida e tudo bem?
Que as pessoas citadas sejam os maiores bandidos, o fato de terem já uma folha corrida é suficiente para que sejam acusados de algo para o que, no caso de não haver provas, sempre ficará como uma mancha?
Diga-se de passagem que uma mancha de gordura, daquelas que se eternizam na roupa e embora lavadas e limpas sempre deixam sua nódoa.
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Em sua afoiteza, Lindenberg não se preocupou em tratar de nada dessas questões, talvez pouco relevantes para seu candidato, Aécio, que tudo indica ser o maior beneficiário de toda a acusação feita pelo ex-diretor da Petrobras.
Afinal, não apenas o PT e algumas de suas lideranças, ou o PMDB e até o presidente do Senado e da Câmara têm seus nomes destacados, além de governadores, como Sérgio Cabral, Roseana Sarney, além de deputados do PP. Também o nome de Eduardo Campos, e do PSB, o que resvala para a campanha de Marina, foram denunciados e vieram a público.
Nesse caso, pior, sem chance de defesa para o denunciado.
Mas nada disso importa para o comentarista-torcedor, para quem Aécio está com a bola na marca de penalte e pode dar um chute potente, para fazer um belo gol.
Até a referência e analogia ao futebol, reforça o meu comentário de que o analista nada analisa. Apenas torce. Como aliás grande parte da imprensa mineira, toda ela engrossando o cordão dos puxa-sacos ou no bolso do colete do candidato Aécio.
Que vantagens todos esses órgãos terão caso o candidato do PSDB se sagrasse vitorioso é o que me deixa curioso. Além claro de que alguns analistas poderiam vir a ganhar cargos de projeção em um eventual governo peessedebista, o que não deve ser o caso do senhor Lindenberg.
Ou não?
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Seguramente não é o caso do Peninha, o Luiz Carlos Bernardes que, pouco depois, no programa Palavra Ética, que é apresentado no canal 6 da Net, da tevê fechada, levantava grande parte dos argumentos em que me baseio para fazer as indagações acima.
Ou seja, Peninha lembrou que foi Aécio que, no enterro de Eduardo Campos afirmou em discurso conhecer o homenageado há mais de 30 anos, e sua trajetória sem máculas.
Também falou de como, em Minas, a imprensa não pode se dizer vítima de censura, embora os olhos e interesses do Palácio da Liberdade sempre pesem sobre o que é divulgado ao público. E costuma pesar em prejuízo de todos que possam ter qualquer comentário crítico em relação ao que acontece nessas Gerais, como é exemplo notório o nosso repórter Kajuru.
O programa tratou também da forma cautelosa como deveria ser recepcionada a matéria da revista, já que outros nomes deveriam e devem ter sido citados, embora não divulgados pela Veja. Nomes que podem envolver inclusive o partido do candidato Aécio.
Afinal, a Petrobras tem interesses significativos também em São Paulo, estado que prima por mostrar que, em relação à obtenção de vantagens pessoais, todos os partidos se equiparam. Vide o caso da Allstom, da Siemens, do Metrô, do ex-secretário de governo de Mário Covas, hoje membro do Tribunal de Contas paulista.
Permanece sempre a dúvida e a questão: a Veja não teve acesso a todo o conteúdo do depoimento, ou tendo-o, fez  uma seleção para atender a seus propósitos? Que são quais mesmos?
Peninha lembrou que, se se perdeu a importância histórica que teve, inclusive lutando contra o regime militar nos anos 70 e 80, e se se tornou um órgão que se pretende porta-voz da ultra-direita ou da direita do país, o que é legítimo, que ao menos reconheça e declare essa sua posição. Posição que cada um pode ter e manifestar. E que no caso de um órgão da imprensa, não vai permitir que incautos sejam ludibriados. Ou objeto de manipulação.
Grande inspiração teve Bernardes e seu parceiro de programa no dia de ontem. Bem diferente do analista-torcedor, cujo comportamento deve ajudar a entender porque os jornais da Band, tanto como o da Globo perdem audiência em escala crescente, como já foi noticiado.
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Para acabar esse comentário, gostaria de afirmar que curioso é o fato de que uma série de acusações levantadas em Minas, contra práticas do governo, não são objeto de nenhum furor investigativo nem de Veja, nem de outros órgãos da imprensa.
Aqueles casos que Dilma não quis comentar ontem, apenas afirmando que ela tem o telhado cobertinho, enquanto outros candidatos - leia-se Aécio, claro, têm telhado de vidro.
Assim todos os mineiros já ouviram falar da utilização da Cemig para avalizar operação financeira para órgão da imprensa em dificuldade. Outros já ouviram falar do esquema de sacolas para utilização em supermercados, com a participação do Servas.
Ainda outros já devem ter até ouvido contar histórias do surgimento do famoso museu de Inhotim e da sua transformação em museu natural e ponto turístico de grande relevância para o Estado.
Mas nada disso é investigado, talvez por serem só rumores mal-intencionados. E sem interesse para a campanha política ou sem fundamento algum.
O que nos deixa a ver aviões, helicópteros e aeroportos, antes com chão de pó e agora, asfaltados.
É isso.
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Que tudo isso sirva, se não para eleger o Aécio, conforme torce o Lindenberg, para que passemos todo o país a limpo: órgãos de governo, esquemas de corrupção, empresas públicas, Petrobras, operações de bancos públicos, financiamentos de campanha e doações generosas para campanhas, empresas corruptoras e agentes corruptores e corruptos de toda espécie e até a imprensa e seus interesses velados.

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