sexta-feira, 10 de outubro de 2014

As idas e vindas de Marina e suas razões e temores

Marina negaceia, faz que vai e não vai, e como a frase famosa do jogador de futebol, acaba fondo...
Mas, analisando friamente, até que ponto o apoio de um candidato, qualquer candidato é realmente importante?
Vejamos: Marina uniu-se a Eduardo Campo e a seu PSB, por não ter conseguido viabilizar seu partido, a Rede de Sustentabilidade.
Ao sair candidata a vice na chapa do político pernambucano, nitidamente passou a incorporar o desejo de mudança, o que já a colocaria  no campo anti-petista. Mesmo campo em que se encontram e se encontravam, como já foi mais que comentado pelos analistas políticos, os eleitores de Aécio.
Mas nem tanto.
Afinal, tanto Marina quanto Eduardo Campos haviam sido ministros do governo petista de Lula. Tanto um como o outro ainda tinham pessoas de seu círculo de convívio fazendo parte dos quadros petistas, alguns até ocupando cargos da administração petista.
Também são notórias as boas relações mantidas por Eduardo, até por ocupar um governo estadual, com a presidenta Dilma, o que lhe proporcionou, em nome de Pernambuco, apoio, recursos e obras.
Assim, embora tendo passado para a oposição ao final de seu mandato, mas só a partir do momento em que tomou a decisão de se candidatar, é plausível que parte de seu eleitorado e até dos filiados ao PSB fossem oposição, pero no mucho.
Ou seja, não tinham como outras correntes políticas aquele ímpeto ou espírito radicalmente oposicionista.
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Com a morte de Eduardo e a chegada de Marina ao centro da cena de disputa, a ex-senadora angariou novos apoios e agregou novos votos a seu projeto e às propostas do PSB. Mas, a trajetória pessoal de Marina, embora não pró-Dilma e, aceitemos, cada vez menos simpática ao PT, principalmente em função da forma inábil utilizada pelo partido no tratamento da corrupção que instalou-se e avançou muito em seu governo, não pode ser confundida com os interesses que movem os candidatos do PSDB.
Vá lá que o PSDB tem o socialismo em seu nome, em sua sigla, mas é necessário lembrar também que o PFL tinha entre as propostas de seu programa partidário, até mesmo a questão da reforma agrária.
Ora, como o papel aceita tudo e nada questiona, Aécio pode pousar de um político de centro-direita, mas não querendo compará-lo a Collor e a tudo que esse político alagoano representa e representou para o país, fica mais ou menos claro que entre Marina, vinda de classes mais humildes, sofridas, que passou fome e conhece de perto a miséria e a exploração, e Collor, filho de família rica e tradicional, inclusive do ponto de vista político, Aécio tem muito mais em comum - NA ORIGEM -  com Collor.
Estou fazendo essa analogia, porque enquanto Collor ao assumir preocupou-se não com o problema da fome e da pobreza, ou da desigual distribuição de renda no país, mas com o fato de que os carros que nossa população utilizava mais pareciam carroças, mostrando nitidamente a que classe sua atenção estava preferencialmente voltada, acredito que Aécio, até por não ter vivenciado as mesmas situações que Marina, teria muito mais preocupações com os problemas que eram também os que atraiam a atenção do alagoano.
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Nada de anormal, contudo, que tal como Collor na oportunidade teve apoio e muito voto e simpatia das classes menos favorecidas, Aécio também possa vir a ter apoio e votos. Afinal, para uma determinada classe de pessoas, pouco politizadas e pouco informadas, ambos representam um ideal a ser alcançado. Ou o sonho impossível.
Mas, como sonho ou ideal, encarnam a ideia da perfeição e do exemplo, de onde então a escolha por esse ideal, que não pode ser, por ideal, conspurcado.
Claro, estamos tratando de uma classe de pessoas que não têm nada que as torne objeto de qualquer reprovação. Apenas que, podendo até se sentirem integrantes de uma classe social, sentindo-se membros de uma classe em si, não conseguem acreditar, por tudo que passaram e toda sua experiência de vida em que foram sempre tratados de forma condenável, que podem transformar-se em uma classe para si, apenas para  utilizar a linguagem da análise sociológica de Marx.
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Marina, pessoalmente, pode não concordar como o PT, mas não compactua com os mesmos interesses que financiam, apoiam, saúdam e torcem para Aécio.
Daí a dificuldade de aceitar, sem hesitações, acenar com seu apoio a Aécio. De certa forma, tal manifestação de apoio àquele candidato e aos interesses de seu partido seria uma traição a toda sua trajetória de vida.
Até que ponto essa sua dificuldade não é sentida por todos que acompanharam a trajetória da ex-senadora e que sempre estiveram ao seu lado, desde quando em 2010 ela se lançou como candidata transformando-se na grande surpresa político-eleitoral de então?
E a pergunta que não quer calar: esses eleitores seguiriam uma recomendação de voto em Aécio, apenas porque Marina o indicou? Afinal, até que ponto que esses eleitores não viam em Marina a representação e voz de suas crenças e convicções, o que pode até mesmo chegar, no limite a perceberem as pressões que atuando sobre a sua porta-voz, a obrigam a tomar partido, apenas para não ficar na posição de em cima do muro.
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Postura de ficar em cima do muro, aliás, que sempre foi identificada com o partido dos tucanos, e especialmente com o famoso jogo de cintura do político matreiro que Aécio encarna com tamanha perfeição!!!
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Por isso Marina exige de Aécio, para apoiá-lo, a inclusão de certos princípios que lhe são caros, como a redução da maioridade penal, talvez maior respeito às questões vinculadas à economia sustentável, quem sabe à políticas de redução da desigualdade, demandas que, convenhamos, Aécio não pode aceitar, não por não concordar com elas, intimamente, mas por ir contra os interesses que o sustentam e a sua candidatura e ao seu partido.
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Por isso, ontem mesmo, em discurso, Aécio já declarou que não admite discutir ou retirar seu apoio à ideia, por exemplo, da redução da maioridade penal que é afinal, um projeto que ocupa o papel de menina dos olhos de seu vice.
Dai que acho que transferir apoio e votos, por si só tarefa já bastante difícil, será ainda muito mais difícil no caso de Marina, e de seus eleitores.
E, a julgar pelo desenrolar dos acontecimentos e dos sucessivos adiamentos que Marina vem solicitando para anunciar sua decisão, creio que o que veremos no caso da candidata derrotada é uma declaração de neutralidade, embora com declarações bastante contundentes até à gestão da presidenta Dilma e às denúncias de corrupção que cada vez mais se acumulam contra seu governo.
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Quanto a outros apoios que tem recebido, como o do pastor Everaldo, ou de Levy Fidelix, não há muito o que analisar. Em minha opinião, o próprio partido de Aécio, não estivesse tão empenhado em retornar ao Planalto, envergonhar-se-ia de tais aliados.
Mas, isso é o jogo político. E como se afirma, o jogo é jogado.
Curioso é o apoio de Eduardo Jorge e seu PV, embora o médico tenha sido secretário de administrações peessedebistas, como se sabe.
Logo, não causa estranheza que nesse momento, sob que alegações e desculpas sejam usadas, o PV e seu candidato se unam, mais uma vez, aos tucanos.


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