sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quando não se pune o crime por força da discussão de detalhes técnicos quanto à (má) condução de sua investigação

Não pude ver o debate ontem, no SBT, por força de estar me deslocando para os compromissos de aula. Pelo que pude ficar sabendo, mais uma vez perdeu o debate quem ficou parado à frente da televisão, esperando ver mais que agressões entre os candidatos, que chegaram, agora, ao nível pessoal.
Assim sendo, e procurando não dar pitaco sobre o que desconheço, situação que sempre tenho criticado nesse blog, vou tratar hoje da excelente coluna de Contardo Calligaris publicada na Folha de ontem, tratando de celulares e da questão da Petrobras.
Segundo  o articulista da Folha, a reação de Dilma e de seus assessores à divulgação de parte do conteúdo dos depoimentos dados pelo ex-diretor da empresa, a que acusaram de um golpe para favorecer o seu opositor, lembra muito a situação várias vezes exposta em cenas de cinema, em que a polícia invade a residência de alguma pessoa, a tempo de vê-la acabando de cometer um assassinato.
Entretanto, independente da evidência do crime, o fato de a polícia não ter cumprido as tecnicalidades que configuram exigências legais, como a de ter um mandado para entrar na residência, acaba permitindo que o processo contra o réu seja considerado nulo, permitindo ao homicida livrar-se da pena a que de outra forma seria condenado.
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Brilhante a analogia. A questão deixa de ser relativa a se houve mesmo o crime ou quanto à sua autoria. Nem dos motivos ou de quem teria se beneficiado do ilícito, para deslocar-se para a questão da invasão dos direitos individuais do criminoso. O que serve para, senão inocentá-lo, livrá-lo de pagar pelo seu erro.
No caso da Petrobrás, parece que o governo tem se preocupado menos em apurar a fundo a verdade dos fatos delatados, procurando saber os valores envolvidos no desvio, quem  desviou esses recursos, de onde, de que obra, e quem deles se beneficiou  para poder punir exemplarmente os envolvidos: corruptos e corruptores.
Como na situação do cinema, ao desviar o foco do debate para a forma de como a informação foi obtida ou divulgada, um erro menor em relação ao escândalo, muito mais importante, o governo perde uma oportunidade excelente, para mostrar à sociedade não tolerar de forma alguma esse tipo de crime, que lesa a toda a sociedade, e não compactuar com a impunidade que alimenta e estimula esse tipo de comportamento. Além disso, perde uma excelente oportunidade de, ao evitar discutir os caminhos da corrupção, criar condições para que o debate seja ampliado e que novas soluções possam vir a ser apresentadas para que controles mais rígidos venham a ser criados e que atos como os examinados nunca mais sejam passíveis de serem examinados.
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Sem entrar no mérito da questão de fundo do problema das tecnicalidades mencionadas: até que ponto os fins justificam os meios, até que ponto a polícia e alguns interesses podem superar as liberdades e desrespeitar os direitos do cidadão, para poder chegar enfim à comprovação da existência do ato ilegal, a verdade é que a sociedade brasileira clama, em uníssono, para que se dê um basta na impunidade e nessa corrupção que grassa a tal ponto, que chega agora a envolver até mesmo o partido da oposição e, até então, o maior beneficiário eleitoral da divulgação que o governo tanto critica.
Como amplamente divulgado ontem, o nome envolvido  no escândalo desta feita é o de ninguém menos que o de Sérgio Guerra, que já falecido não terá como se defender, e que ocupava o cargo de presidente do PSDB. Aliás, um dos principais responsáveis pela candidatura de Aécio pelo partido dos tucanos.
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Mas, refiro-me à coluna de Calligaris porque na mesma Folha de ontem, ao analisar frases marcantes do debate havido na Band, como é comum, o jornal procurou verificar se o que afirmavam os candidatos era verídico, ou parcialmente verdadeiro, ou se uma mentira.
E, aí o que se verifica na reportagem mais que um excelente instante de reflexão é como que seus autores teriam tanto a se beneficiar, caso lessem o texto de Calligaris, publicado em outro caderno.
De minha parte, gostaria de ver como o colunista reagiu à matéria do debate.
Porque entre outros exemplos, a Folha mostra que Dilma declarou que Aécio praticou nepotismo citando que ele empregou, enquanto governador de Minas Gerais, uma irmã, três primos, três primas, tios etc.
Ora, o que diz a Folha? Que a verdade era parcial já que, de fato a irmã foi empregada, o pai foi indicado para participar do Conselho, remunerado, da Cemig, um ou dois primos prestaram serviços de assessoria ao DER, departamento que cuida das estradas de rodagem e transporte intermunicipal no estado.
Então, o que houve foi um certo exagero no número mencionado de Dilma, que o jornal criticou, deixando de lado que houve sim o problema principal, o nepotismo denunciado.
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Também em relação à saúde, a Folha mostra que houve uma verdade parcial, já que o governo mineiro incluiu como gastos naquela área, para poder atender ao preceito constitucional a gastos que, na verdade, eram de saneamento.
Mais uma vez, o principal, o desvio, o não cumprimento da exigência em relação à saúde parece ter passado para segundo plano.
Por fim, criticou os números de desemprego apresentados por Dilma para o ano de 2002. É que, embora corretos, os números eram de um ano ou dois antes.
Mais uma vez, a mim, pareceu que por questões menores, a Folha optou por "absolver" o candidato tucano, livrando sua barra.
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Pena que a equipe de repórteres da Folha não leem o jornal, pelo que parece. Ou teriam que fazer algum ERRAMOS no dia de hoje, pedindo a Calligaris perdão por terem, tanto quanto Dilma, deixado de lado o que é a essência para tratar de detalhes.
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Na mesma Folha, o excelente Juca Kfouri mostra, pelo lado do futebol, quem são os amigos e companhias de Aécio. E como o ensaboado político mineiro não é nem um pouco sério ou confiável. Ou como apresenta duas caras com a mesma tranquilidade de Maluf.
No caso, acompanhado de José Maria Marin, de Eurico Mirando, de Zezé Perrela. Isso para não mencionar outras companhias suas: Gustavo Perrela, seu ex-vice Clésio Andrade, etc.
E até Sarney. Ou se esquecem de que foi Sarney que foi vice escolhido para compor com seu avô Tancredo a chapa vitoriosa em 1985? E que foi Sarney quem o indicou e a seu parente Francisco Dornelles, respectivamente, Diretor de Loterias da Caixa e ministro?
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Diga-me com quem tu andas... porque nos primeiros anos de seu mandato como senador o candidato que deveria ter assumido o papel de líder maior da oposição não ocupou esse posto, papel que coube ao senador agora reeleito pelo Paraná?
Incompetência? Inaptidão para a oposição? Oportunismo ou o que?
Álvaro Dias, esse sim, merece muito mais o destaque que o candidato Aécio.
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Aécio que pretende dirigir os destinos do país e que, como parece ter admitido ontem no debate, já foi flagrado dirigindo sob o efeito de drogas. Bêbado.
Embora, ao que parece, ato ilícito que só cometeu por estar com sua carteira vencida. Outra irregularidade! Mais uma a somar ao conjunto de pequenos detalhes que desviam a atenção das pessoas para distante do verdadeiro problema, conforme Calligaris.


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