Na coluna que publica às terça-feiras na Folha, e que só pude ler acessando o site do UOL, tendo em vista que a Folha resolveu me entregar o jornal com um dia de atraso,- isso quando o jornal chega em minha residência - Rosely Sayão tratou de um assunto particularmente importante e que induz à reflexão e a um amplo debate, não fossem as eleições e a campanha eleitoral o único assunto a chamar a atenção das pessoas.
Nada contra a preocupação com os destinos de nosso país, que será decidido em segundo turno, no próximo dia 26 de outubro.
Mas, como o calendário preso na lateral da geladeira não nos deixa esquecer, antes do dia 26, o mês de outubro traz o dia 12. E nesse dia 12, além da comemoração do dia da santa padroeira de nosso país, Nossa Senhora Aparecida, festeja-se também o dia dedicado às crianças.
E, embora possa mesmo ser necessária a ajuda de nossa padroeira para que o povo brasileiro possa se dirigir às urnas em paz e possa votar com consciência e responsabilidade naquele que deverá ser o condutor de nosso país, nossas esperanças e expectativas nos próximos quatro anos, a verdade é que até por uma questão de impacto temporal, a discussão de Rosely sobre o tratamento dispensado às crianças é talvez, muito mais complexo.
Afinal, as crianças de hoje serão os adultos e os responsáveis por nossos destinos no futuro. E nosso futuro tem uma dimensão muito maior que apenas o prazo de 4 anos.
E o que diz Rosely?
Além da necessária crítica da transformação de uma data como a do dia da criança em mero evento ou oportunidade de ampliação das vendas do comércio, a especialista nos convida a refletir no perfil dessa criança, consumista e pouco solidária que estamos gerando. E que se transformarão em adultos consumistas, individualistas e sem qualquer vínculo intergeracional.
Porque, como ela observa, estamos cada vez mais, a título da concessão de maior liberdade e espaço de criação, ou seja por que motivo for, segregando crianças de jovens; adolescentes de adultos; adultos de idosos.
De fato, além dos bailes do cabeça de prata, ou terceira idade, ou ainda, aumentando a ironia, bailes da melhor idade, o que temos são festas infantis cada vez mais caracterizadas, no lado oposto, pela ausência dos próprios pais das crianças.
Já de há muito, os adultos levam seus filhos, suas crianças e as depositam em um salão qualquer de buffet, deixando para ir buscá-las ao final de um horário previamente acertado.
As festas de adolescentes, são completamente exclusivas para os companheiros daquela faixa etária, não sendo permitido ou tolerada a presença nem de pais, nem de irmãos menores ou dos avós, etc.
Bem diferente de como era antes, embora, até por ser fora de casa, na maior parte das vezes, muito mais cômodo.
E quais as consequências dessa situação?
Famílias onde as gerações não se encontram, exceto em batizados e enterros, e onde não se relacionam. Não trocam experiências e nem podem aproveitar para que os mais jovens saibam que não são eles os primeiros e únicos a trilharem os caminhos a que estão se dedicando. E que, por isso, podem contar, nos momentos de dificuldades, com o apoio e a compreensão e com a proposta de solução apresentada pelos mais velhos.
Ao contrário, não incentivamos os nossos velhos a se renascerem e reviverem em seus descendentes, tal como é, parece-me, o espírito que guia o povo judeu.
Para agravar mais a situação, a nossa sociedade e nossa cultura, ao contrário de outros povos como os orientais, insiste em tratar os velhos como sucata, promovendo uma sobrevalorização do jovem e de seus atributos.
Assim, velhos ficam ilhados e sem motivação para viver de forma mais participativa e dinâmica. Deixados de lado, não podem passar a sua vivência, nem aprender/ensinar com as novidades de que a juventude é portadora.
Jovens são deixados à própria sorte, tendo de estarem reinventando a roda a cada instante, por força de não poderem partilhar do processo de aprendizado e transmissão de conhecimentos.
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Tudo isso é responsável pela criação de jovens cada vez mais senhores de si e de suas verdades. Cada vez mais egoístas. E jovens que cada vez mais não têm qualquer preocupação com os velhos de quem as referências que guardam são sempre as menos abonadoras.
Falta o convívio mais íntimo, familiar. A troca de colo, de carinho, de promover e distribuir amor.
Enquanto isso cada vez mais, destratamos aqueles que um dia foram os responsáveis por nossa chegada a esse mundo, de que também eles foram os principais artífices.
E pouco espaço tem sido dedicado a esse tipo de tema e de discussão, já que a sociedade, estamos mais preocupados em escolher e contentar os pequenos tiranos que estamos criando, com os presentes que, no fundo, quem ganha é apenas o comércio.
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Entre surpreso e atônito
Estou assustado com a quantidade de postagens que tenho visto ser publicada nas redes sociais, em especial no Facebook, relativas à campanha eleitoral.
Menos espantado com a quantidade de comentários, curtidas, vídeos, e muito mais com a virulência que, não raro, acompanham as tais publicações.
Como se as pessoas que postam suas mensagens acreditassem que, maior a ênfase, maior a capacidade de convencimento suas ideias conquistariam.
Exatamente o contrário. Afinal, quando o argumento é bom, qualquer ruído apenas serve para tirar o foco e a concentração de nosso interlocutor.
Também acho interessante que alguns possam estar achando que as postagens na rede irão ter alguma consequência prática, induzindo alguém a alterar suas convicções e opiniões, apenas porque houve aquela postagem.
Curioso é que quem faz a postagem de qualquer tema, está falando apenas para seus amigos, ou parceiros, ou iguais, já que a rede social permite que você selecione com quem que rpartilhar comentários, opiniões, fotos e sabe-se lá mais o que.
Então tais postagens apenas reforçam a ideia que, em geral, os grupos de amigos já compartilham, não havendo qualquer ganho adicional pela mensagem divulgada.
Por outro lado, a maior parte das pessoas já têm opinião formada e tais divulgações acabam se tornando meros desabafos, alguns de ódio. Outros de frustrações.
Mas a violência de alguns é surpreendente. Como também surpreende alguns comentários, a respeito de assuntos e situações que apenas demonstram que a pessoa responsável pela publicação sequer se deu a trabalho de ir pesquisar, aprender mais e poder então, com argumentos que não sejam meras falácias, debater de forma mais crítica. Até de forma mais ácida.
Só que não. As pessoas não pesquisam e se prestam a emitir opiniões e juízos sobre o que ignoram, apenas provando a todos - mesmo os amigos, toda a ignorância de que ela é dotada, e que apenas era imaginada por todos.
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Também é preciso dizer que não há qualquer necessidade de ficar postando filmes e vídeos de qualquer candidato com pessoas de sua equipe, para tratar de temas que DESSA VEZ ESTÃO SENDO TRATADAS A SÉRIO.
Ora, especialistas compondo equipes qualquer dos candidatos podem apresentar. E a maior parte deles, claro, com vasta experiência em governos anteriores, onde poderiam ter feito as propostas de agora, e não o fizeram.
E o que isso prova? Nada.
Melhor é discutir os números e as realizações. As conquistas, se alguma houve e as falhas e lacunas.
Mas isso não significa que eu esteja querendo ou propondo nem a censura nem o que é pior a autocensura nas redes.
Por isso elas são abertas, democráticas, livres. Mesmo que algumas vezes alguns candidatos tenham tentado por motivos os mais variados, bloquear e tirar do ar alguma mensagem.
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Observador distante dessa disputa de candidatos que não me representam, e que podem, quando muito ter alguma proximidade com algumas - poucas- posições que considero corretas e necessárias, apenas gostaria de aconselhar aqui aos que querem continuar defendendo seu preferido, ou criticando o outro, que antes de publicar qualquer coisa, procurem olhar a fonte, ver se o número é correto. Ver se o que está sendo publicado é razoável e se não estão apenas fazendo o papel de papagaio, que repete as coisas sem atinar para o significado delas.
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