quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Pitacos de professor e declarações (muito) polêmicas. Mas o debate é que nos alimenta e faz evoluir

Cacoetes ou vícios de professor, exigem que os pitacos hoje sejam um pouco diferentes, mais na forma, menos no conteúdo.
Vamos a eles:

O capitalismo não é nem nunca foi a-histórico, embora o livro Curso de Introdução à Economia Política, do professor Paul Singer, em seu primeiro capítulo nos traga a observação de que devemos ter cuidado por que é assim que a escola neoclássica, que inunda os livros-texto e manuais de economia costuma apresentar o sistema.
O fato de dizer que os homens têm necessidades que devem satisfazer e que a atividade econômica é o estudo de como os homens usam recursos escassos para produzir os bens e serviços que mais os satisfaçam e que sempre foi assim, que os homens sempre tiveram necessidades e sempre as terão, é uma falácia. Um engodo.
A economia antes de ser o estudo de uma relação homens e meio ambiente, homens e recursos escassos ou não, deve ser ciência social, e entender as relações que os homens estabelecem entre si, enquanto envolvidos na necessária atividade para produzir o que lhes satisfaz.
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Não sendo acima ou superior à história, como todos os eventos na vida, o modo de produção capitalista é datado: tem princípio, meio e fim. Já vi material afirmando que a implantação do capitalismo pode ser datada a partir da unificação do Estado Nação, com Portugal, lá pelos idos de 1300 e alguma coisa, com a eliminação dos feudos existentes.
Como até o momento em que o capitalismo se impõe como ordem social hegemônica com a Revolução Industrial, passam-se no mínimo 400 anos, devemos observar que o capitalismo deve ter tido, como qualquer fenômeno social em marcha, idas e vindas, momentos de crescimento e de retrocessos, etc.
E vai chegar ao final, em algum momento dessa magnífica viagem do ser humano pela terra.
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Dessa forma, falar que o capitalismo vai continuar e ponto, é asneira ou completa falta de visão e compreensão da história da humanidade. E só vai chegar a termo por nossas ações, mais cedo ou mais tarde no tempo. Afinal, para a humanidade o tempo tem uma dimensão muito diferente do tempo histórico.
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Assim querer comparar, a essa altura, a experiência do capitalismo com mais de 700 anos de experiência com a experiência de implantação do sistema socialista, do socialismo real experimentado pela União Soviética e suas repúblicas satélites é, novamente, desconhecimento, ou má-fé.
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Isso não significa que o socialismo seja necessariamente nem melhor ou pior, apenas que é diferente. E que tudo que é diferente pode ser uma coisa ou outra.
A experiência da União Soviética, por vários motivos, assim como foi a experiência albanesa, chinesa ou da Coréia do Norte, ou ainda e pior a de Cuba, pode não ter sido boa. Mas era apenas o início de um processo que está em construção.
E como tal, que pode melhorar ou não.
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De mais a mais, nem há qualquer obrigatoriedade, apenas porque descrito por alguns teóricos que o que aconteça e seja desenvolvido pela raça humana seja mesmo algo como o sistema socialista. Pode ser outra coisa, com o mesmo nome ou não. Mas diferente. Melhor ou pior.
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Combater as ideias socialistas, da forma como se faz hoje, embora compreensível por indicar o medo que as mudanças infundem sempre, em qualquer um de nós é, no entanto, apenas medo. E deveríamos estar abertos, sempre, ao menos à discussão. O que se sabe é que o capitalismo tem também e cada vez mais problemas e equívocos.
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Não vou me aventurar a assegurar, porque me lembro de ter lido, há muitos anos e não consigo mais lembrar nem em que obra, nem exatamente a referência, mas creio que o próprio Lênin afirmava que se trouxe algo de bom, o capitalismo trouxe um padrão de consumo que merecia elogios. O problema é que tal padrão era para poucos privilegiados.
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Mas o próprio Marx afirmou várias vezes que o capitalismo era o sistema social que mais avanços promoveu e promoveria na evolução dos meios de produção (máquinas e equipamentos, instrumentos de trabalho, etc.) que permitem a acumulação de capital e o crescimento da produção.
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Mudando de assunto: não sou petista. Poderia até dizer, parafraseando Zélia Gattai, graças a Deus.
Mas, entre as propostas de Aécio e de Dilma, ambas com todos os defeitos dos interesses que carregam em seus meandros, creio que a melhor ou menos pior para o povo brasileiro, no geral, é representada por Dilma.
Como já disse, Aécio pode ser, pessoalmente mais afável, mais educado, mais simpático e carismático que Dilma. Mais fácil de lidar e até mais leve. Mas está atrelado aos interesses do capital financeiro internacional, cada vez mais impregnado das características do capital rentista, o capital financeiro.
Pode fazer o melhor governo do planeta e ser o melhor para o Brasil, mas pode também, como atuou nos Estados Unidos, nos anos 2007-2009 e de lá para cá, criar uma crise que duvido nós tenhamos condições de superá-la.
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Há muito tempo atrás, um primo a quem eu assessorava na empresa em que trabalhava me disse que não acreditava que os partidos ou políticos quisessem o mal para o povo ou a sociedade. Os objetivos, regra geral, eram os mesmos. Os caminhos para se chegar lá, sim, eram diferentes.
É uma meia verdade, caro e saudoso, Roberto Pereira da Silva. Os objetivos muito gerais e abstratos, a felicidade geral, a paz mundial, todos com acesso a padrões de vida dignos, etc, podem ser comuns. Mas há sim, objetivos de aumento dos ganhos particulares, ou de grupos sociais, em detrimento, ou sem levar em conta, o custo disso para outros grupos.
Quanto aos caminhos concordamos plenamente. O que faz o inferno estar coalhado de boas intenções, como diz o ditado popular.
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Quando vejo Fernando Henrique e outros próceres de seu partido declarar que o PT é o partido que só vence nos grotões, onde a maioria mais ignorante está instalada, além de achar a frase preconceituosa, arrogante, e de péssimo gosto político, fico preocupado em saber se o ex-presidente, não está é com mal de Alzheimer.
Só isso justificaria o fato de ele ter se esquecido de que, até 2002, o partido vitorioso nos grotões ser o dele, o PSDB.
E o governo dele, reconheçamos fez muito menos pelas camadas mais populares que o elegiam que os de Lula ou do PT.
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Acredito que a verdadeira explicação para o ódio que muitos nutrem hoje pelo PT, traz a marca da decepção.
A grande maioria dos que estão mais próximos de mim, e que conheço ou mantenho algumas relações, são de pessoas que carregavam a bandeira do PT e da esperança do Lulinha paz e amor, em 2002.
Porque se decepcionaram? Talvez porque Lula tenha feito o que lhes prometeu e eles diziam acreditar. Talvez por Lula ter feito tudo que o PSDB disse que faria, com Meirelles no Banco Central e juros elevados às alturas; controle de inflação - que se situavam algumas vezes abaixo da meta; e de superávits primários colossais.
Talvez tão somente por não tolerarem a corrupção atrelada ao PT, esquecidos de que eram lulistas, entre outros motivos por força da corrupção que se comentava existia também nos subterrâneos dos processos de privatização.
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Ninguém discorda que o PT falhou feio no trato com a questão da corrupção, em rechaçá-la mais pronta e eficazmente, embora alguns ex-simpatizantes do PT que passaram à oposição à Lula, tivessem tido a capacidade de comentarem comigo que estavam muito satisfeitos com a Dilma e a faxina que ela começou a fazer nos primeiros dias de seu mandato.
Porque Dilma parou a limpeza? Porque parou? Parou porque?
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Curioso que não falam, não aceitam, não condenam os casos de mensalão do PSDB mineiro, do metrô de São Paulo e outros vários, em que o dedo do partido de Aécio, o agora paladino da moralidade, é claro e comprovado.
Mas aceitam sem pestanejar as críticas que deveriam merecer no mínimo tratamento semelhante, em relação aos escândalos da Petrobrás, etc.
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No fundo, no fundo, PSDB e PT são de mesma matriz. Não é por acaso que várias vezes já foi falada uma possível fusão de ambas as siglas, se nada mais foi feito em direção a essa união.
E FHC e Lula, farinha do mesmo saco, para expressar que as diferenças entre eles podem ter surgido e crescido, mas são menos de fundo que de forma.
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E só para fazer uma elucubração até meio macabra: quem sabe, depois de oito anos de mandato, caso se eleja agora Aécio não resolva que Marina estava certa e que a polarização PSDB-PT se esgotou, dando lugar ao surgimento de um novo partido.
Será que ele poderia até mesmo indicar para sucedê-lo algum político da nova agremiação, com o perfil por exemplo de Pimentel, o mais peessedebista dos petistas?
Brincadeirinha.
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Só que não.

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Não vejo nada de extraordinário em que Aécio saia na frente nas pesquisas para o segundo turno. Vejo curioso é que, agora, ele estar na frente reabilita os institutos de pesquisa que há pouco foram tão criticados, em razão de suas falhas.
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Por outro lado, intriga-me cada vez mais, a razão de um terço do eleitorado, não querer se manifestar. Numa espécie de protesto do tipo: roubem, mas porque eu não estava nem aí. Agora não venham me passar para trás, me prejudicar e me roubar, iludindo-me com promessas e com o passaporte assegurado por meu voto.
Curioso e triste.
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Sou mais o povo brasileiro. Melhorias para o povo, para que possamos construir uma sociedade que nos honre como nação e como seres humanos: mais digna, mais fraterna, mais justa.
Não creio que o PT tenha justamente essa ambição. Tenho a certeza de que o PSDB não a possui.
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Mais uma mudança de tema

O Cruzeiro, por justiça e merecimento, deve ser o campeão nacional desse Brasileirão 2014, mas que perder para o Corínthians e se vier a perder mais uma partida, para o Flamengo, por exemplo, seria um molho extra para tornar o campeonato mais emocionante, e realmente, um grande campeonato, isso não tenho dúvidas.
Não significa que eu esteja secando o Cruzeiro. A quem, por estar óbvio demais, só um desastre é capaz de tirar o título.
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Da mesma forma, vendo o time encardido e de futebol estreito do Corínthians jogar ontem, reforcei meu sentimento de que o Galo não consegue fazer os 3 gols no time paulista, que o levariam à classificação para a Copa do Brasil.
Fazer um gol, convenhamos já é muito difícil, nesse time que joga fechadinho, ao estilo Mano, como time pequeno.



Um comentário:

Daniel Amorim disse...

Paulo, te admiro muito e tenho saudade de suas aulas! Certamente continua sendo um dos melhores professores que já tive e só não posso afirmar que é claramente o melhor porque há professores a sua altura na pós-graduação da UFMG. Mas, sinceramente, eu esperava uma análise mais profunda nos seus textos. Uma análise menos carregada de ideologia e superficialidade e mais pautada em analisar a macroeconomia que tanto viramos noites estudando. Fiz uma análise da política econômica de Guido Mântega baseado, principalmente, nos dados dos últimos 12 anos disponíveis no site do Banco Mundial - por sinal os professores da UNA falham em não ensinar a prática da análise econômica através na busca dos dados em fontes como essas. As conclusões foram que a política heterodoxa do Ministério da Fazenda foi bem sucedida já que está alinhada com as estratégias de desenvolvimento social e humano características do Ministério do Planejamento atual que, em parte, eu concordo. Quanto ao aspecto política econômica temos um governo que ao meu ver está praticamente imune de críticas. Eu mesmo cheguei até algumas das informações que Guido dá como justificativas em sua entrevista para a Folha no dia 14 de Agosto (You Tube), mesmo só tendo acesso a essa entrevista hoje, depois de ter concluído a análise. Se pensarmos sobre possibilidades entre governos de "esquerda" e "direita" (entre aspas porque ambos se dizem de centro-esquerda), com a direita poderíamos ter crescido mais (PIB). No entanto, o compromisso da "esquerda" não é com o crescimento acelerado, mas sim com um verdadeiro desenvolvimento social e humano (IDH). Fechamos 2013 com 0,5 de crescimento o resultado de 2014 segue a mesma tendência de estabilização. Mas também devemos levar em conta que passamos muito bem pela crise em 2008 enquanto a maioria dos outros países desempregava e que copa e eleição tem suas influências no mal resultado que está por vir ao fim do ano. As políticas anti-cíclicas postegaram alguns efeitos da crise de 2008 ao ter influência sobre o fim do crescimento pautado no consumo que vivemos agora. No momento é preciso gerar expectativas positivas nos empresários para que o investimento aumente. Simplificação tributária e investimentos em infra-estrutura (principalmente redução de custos de logística) estão nos planos de Aécio e Dilma, mas aplicar essas medidas sem mexer no que já foi feito e em meio a um cenário de estabilização das contas do governo (arrecadação) não será tarefa fácil. Certamente o grande fracasso do governo atual está relacionado com a má reputação devido a corrupção. Analisando separadamente a política econômica, eu voto na continuidade do projeto atual!