sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Como eu percebi o debate da Globo e suas consequências

Como havíamos previsto, foi um debate bastante interessante o que a Globo patrocinou na noite de ontem, último dia para a realização da primeira etapa da campanha política gratuita.
Podendo se dar ao luxo de escolher o adversário com que se confrontar na realização de um eventual segundo turno, Dilma se propôs a fazer um debate com menos agressividade.
Por óbvio para todos os que viram o debate até seu final, foi a melhor participação de nossa presidenta na série de debates realizados, desde o primeiro sob os auspícios da Band.
Em sua primeira fala, a presidenta deixou claro que iria fazer um discurso mais preocupada em apresentar propostas. E embora não apresentasse propostas novas, utilizou o seu tempo para, na maior parte das vezes, abordar as ações de seu governo, enfatizando a sua preocupação com a adoção de políticas de cunho social e a expansão da base de atendidos por tais programas.
Contou com a evidente colaboração de Eduardo Jorge que evitou  questioná-la diretamente sob o tema que havia sido objeto de sorteio, a corrupção, para tratar de questões relativas ao estado do Rio de Janeiro, com conteúdo menos desgastante para a presidenta.
Contou também com o reconhecimento da qualidade de algumas boas ideias e alguns programas de seu governo, tanto do candidato do PV quanto do próprio Aécio.
De Eduardo Jorge, por exemplo, chegou a receber elogios por ter implantado o programa Aqui tem farmácia popular, fruto de projeto apresentado ao Congresso, de sua autoria.
De Aécio, recebeu elogios pela junção de vários programas sociais em um único, de abrangência maior e mais universal, menos focada, como o Bolsa Família.
Curiosamente, os maiores ataques de que foi alvo foram dirigidos por Luciana Genro, insistindo sempre na questão de que os aliados de Dilma, por serem de perfil mais à direita, conservadores e, inclusive grandes financiadores de sua campanha acabavam sendo os principais responsáveis por certos silêncios da petista, certas reticências, certos temas tratados como tabus ou não tratados, e até mesmo certos desmandos ou malfeitos.
Luciana chegou a questionar se a presidenta não atribuía aos seus aliados à direita, a fonte da corrupção em seu governo.
Mais uma vez Dilma saiu-se muito bem, lembrando não apenas das propostas que fez para aumentar o rigor na combate à corrupção, como lembrando que, seja a sigla que for, a corrupção não é atributo ou característica de um partido, mas de pessoas que podem estar em qualquer agremiação, e que compete ao país democrático e sério, criar as condições que fortaleçam as instituições para que elas tenham meios de identificar, coibir e punir de forma exemplar aos corruptos.
Por ser tabu, mais não disse sobre a questão do outro lado do balcão: os corruptores.
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De Aécio recebeu principalmente críticas por ter transformado a Petrobras, e outras empresas estatais em meros aparelhos a serviço do PT.
O político do PSDB, portando um documento que dizia ser a ata relativa à última assembléia do Conselho da Petrobras com a presença de Paulo Roberto Costa como membro de seus quadros, mostrou que, ao contrário do que dizia a presidenta, o ex-diretor não foi exonerado do cargo, mas solicitou sua renúncia, tendo sido cumprimentado em ata, por relevantes serviços à companhia nos doze anos que esteve em sua direção.
Na oportunidade Dilma rebateu, apresentando transcrição de trecho do depoimento do ex-diretor ao Congresso, relatando sua conversa com o ministro a que era subordinado e que culminou com a apresentação de sua carta de renúncia.
Como se sabe, é praxe nos serviços públicos que qualquer dirigente peça para sair, antes de ser defenestrado do cargo que ocupa e foi exatamente essa "elegância" de procedimento que Dilma usou a seu favor.
Não convenceu. Mas Aécio não soube aproveitar. Talvez por ter de admitir que o diretor era funcionário de carreira da empresa, onde chegou a ocupar cargos gerenciais na própria gestão do PSDB. Mas, a pergunta que deveria ter sido feita e não foi é relativa a que tipo de procedimentos estão em curso na Petrobras, para exonerar do cargo, ou então, cortar salários e/ou até mesmo aposentadorias de um funcionário que foi pego cometendo ilícitos.
Curiosamente, não entendo porque ninguém levanta esse tipo de questão, em minha percepção mais importante punição para um funcionário que, em dado momento do tempo passou a cometer irregularidades como as cometidas.
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Dessa situação, trazida à baila por Aécio, valeu-se também Marina para atacar a presidenta. E, em momento dos mais acalorados do debate, a presidenta reagiu respondendo que teve que dispensar, também por má conduta, pessoa indicada por Marina quando ministra do Meio Ambiente, para ocupar cargo de sua estrita confiança.
Mais tarde Marina voltaria a atacar a presidenta, dizendo que são as pessoas que conduzem os destinos das instituições que, por seu comportamento e caráter, moldam os comportamentos que aquelas instituições irão adotar como padrão.
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Mas, os embates mais inflamados foram travados entre Aécio, querendo bancar o esperto e tentando se apresentar como solidário à Marina, em relação aos ataques de que ela foi vítima do PT e tentando ainda cutucar a ex-senadora, lembrando que aquele comportamento já era o adotado pela sigla no governo desde quando a candidata fazia parte de seus quadros, desde a época em que atos de corrupção e roubalheira já eram cometidos.
Marina reagiu com firmeza e Aécio, tendo falado o que quis, foi forçado a ouvir o que não queria ou imaginava.
Era a primeira pergunta do debate, em sua primeira rodada, mas a partir daquele momento, Marina mostrou estar mais preparada que o candidato do PSDB para estar em um segundo turno, ao menos na minha avaliação.
Marina lembrou ao senador mineiro que também ele fez parte de partido que praticou atitudes como a compra de votos para assegurar a reeleição, e que também ele fez parte de partido que foi a matriz do mensalão petista. Apenas que, ao contrário dela, que sempre foi voz destoante no partido, e que deixou a sigla quando se tornou insuportável o convívio com aquele tipo de práticas, Aécio nunca falou, nunca criticou, nem nunca pareceu se importar com as práticas escusas de seu PSDB, como se as críticas só valessem para os outros. Como se o senador ou seu partido,  quando beneficiário dos desmandos, não achasse nada de anormal a adoção de comportamento tão reprovável.
Em outras oportunidades posteriores, novamente Aécio teve sua esperteza corroída por uma Marina mais disposta e mais bem preparada para avançar na disputa eleitoral.
Aécio só se saiu muito bem quando teve como oponente o Pastor Everaldo, nitidamente agindo no debate como linha auxiliar do candidato tucano.
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E a diversão e os momentos de maior desequilíbrio do debate, como não poderia deixar de ser ficaram a cargo do nanico - sob todos os aspectos que se queira interpretar o adjetivo, Levy Fidélix.
Mas desse, fora o show de impropérios e histrionismo de que foi protagonista, não cabe falar muito. Afinal, desde que foi descoberto na Matemática, todos sabem que o zero à esquerda é apenas isso: a representação do que significa um conjunto vazio.
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Eduardo Jorge e Luciana Genro participaram do debate de forma quase que simbólica, dadas as regras adotadas, e que destacaram sempre os candidatos melhor colocados nas pesquisas de intenção de voto.
Louve-se a fala final de Luciana, que chegou a arrancar aplausos da plateia, assim como a fala de despedida de Aécio.
Sem arrancar qualquer tipo de reação da plateia, também merece comentário a fala final de Dilma, mais uma vez falando como presidenta de todos os brasileiros e muito diferente da imagem da lutadora de MMA que tantas vezes a imprensa tentou colar em Dilma.
A presidenta, é forçoso reconhecer, estava mais para Dilminha Paz e Amor.
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Em relação ao efeito do debate nas pesquisas, que indicavam ontem a possibilidade de um empate técnico entre Marina e Aécio, ao menos na metodologia do Datafolha, creio que muito pouco será alterado até o próximo domingo.
Afinal, Marina saiu-se muito melhor que o esperado e pode ter conquistado de forma definitiva a confiança dos que nutriam alguma simpatia por sua candidatura.
Isso não significa que Aécio irá sofrer perdas em sua intenção de votos. Apenas que irá estancar o avanço sobre os votos daqueles que não estavam levando tanta fé na capacidade de Marina encarnar o movimento anti-petista.
Ou seja: em minha avaliação, se não ultrapassou ou não alcançou os índices de Marina antes do debate, não será depois que tal movimento poderá ou deverá ser esperado.
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