quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Os projetos dos candidatos revelam que a divisão do Brasil não vem dessa eleição. Mas só agora está sendo percebida

No jornal Metro de hoje, duas colunas chamam minha atenção e merecem algum comentário.
A primeira delas, do comentarista político do grupo Band Minas, Carlos Lindenberg que, ao dar sequência à análise dos resultados da última pesquisa Datafolha, que continua repercutindo em toda midia, parece ter de se esforçar muito para não manifestar sua insatisfação com a dianteira assumida por Dilma.
Tanto que, Lindenberg faz questão de realçar o fato de que há um empate técnico entre os dois candidatos, sem em qualquer momento fazer menção a que tal empate se dá no limite do intervalo de tolerância. Ou seja: precisaria de o resultado apontado para Dilma estar 2 pontos errados, para baixo e o de Aécio dois pontos errados para cima.
Considerando tal situação, a pesquisa estaria sendo lida com Aécio "obtendo" 4 pontos a mais, o que é forçar muito a barra, mesmo das estatísticas. Principalmente porque, como esses comentaristas torcedores dizem, a pesquisa não deixa de revelar uma vantagem numérica para Dilma.
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Mas, parecendo inconformado com a situação, Lindenberg vai trazer números que mostram que Aécio saiu na frente, com vantagem sobre Dilma nas pesquisas de intenção de voto nesse segundo turno, situação que ele explica como sendo consequência da súbita elevação que ele demonstrou no final da primeira parte da campanha, que o levou a derrotar Marina e chegar ao segundo turno.
Para não ser injusto com o comentarista ele comenta que mesmo naquele momento, havia já empate técnico.
E passa a comentar o resultado da segunda avaliação em que, mesmo mantido o empate técnico e perdendo um ponto, Aécio estava na liderança.
Até chegar na terceira pesquisa, em que Dilma ultrapassava Aécio, situação que, ao que aparenta ser para desespero de Lindenberg, parecia que o tucano tinha atingido seu teto.
Por fim, analisa que os pontos que Dilma vem ganhando e que lhe dão o primeiro lugar nas pesquisas, são fruto não de perda de Aécio, mas de redução do nível de indecisos.
Logo, Aécio pode ainda ter êxito em promover alguma ação que consiga capturar o número daqueles que ainda não têm sua decisão firmemente tomada.
Lindenberg parece dizer: Ainda há chances Aécio! Eia, vamos!
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Calma Lindenberg e outros torcedores, travestidos de comentaristas ou não: a pesquisa verdadeira só será feita no dia 26. Não há motivos, até lá, para medo ou ansiedade.
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Mas, ansioso pelo resultado das novas pesquisas que estão anunciadas para o dia de hoje, o colunista passa a considerar que, seja qual for o eleito, vários problemas esperam e deverão merecer a atenção especial do vitorioso.
O mais grave deles, a questão de apaziguar ou serenar os ânimos de um país completamente cindido ao meio, o que para Lindenberg só poderá obter bom resultado caso seja promovida uma reforma política, capaz de impedir que o estado atual de coisas possa ser mantido.
Pelo que dá a entender, o país não suportaria, sem consequências nefastas, a continuidade de tais divisões.
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Ao fim, tece comentários sobre o que seriam algumas consequências desastrosas, como a de o nível do debate ter descido tanto, a ponto de os dois candidatos entrarem em uma verdadeira guerra de acusações pessoais, de nível baixíssimo e sem levar em conta as tais propostas de governo - "essas sim, que precisariam de estar sendo apresentadas ao eleitor, para que ele pudesse fazer uma boa escolha", como eles costumam dizer.
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Em minha opinião, a frase que pus entre aspas revela apenas o fato de que, para esses comentaristas, o povo não sabe acompanhar as ações colocadas em marcha, desenvolvidas pelo atual governo, o que implica na obrigação de fazer propostas, discursos, promessas mesmo que demagógicas, o que beneficiaria muito mais ao menino do Rio e toda sua desfaçatez e jogo de cintura.
Dilma, como todos estão cansados de saber, é ruim de discurso (e até questiono se apenas de palavras ou também de alguma ação).
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Mas, como nem tudo apresenta apenas um lado, na página seguinte, com muito menos espaço e, indubitavelmente muito mais brilho, o que até torna aceitável o menor espaço, há uma pequena matéria assinada pelo cientista político e professor Fábio Wanderley, da UFMG.
Ali, em poucas linhas, o professor ataca o ponto central de toda a discussão a que temos assistido: há sim dois projetos antagônicos de Brasil em discussão.
Um que favorece os excluídos e menos aquinhoados pela sorte: o projeto de Dilma e seu PT, já suficientemente mostrado ao país nos doze anos de poder do petismo.
Outro, destinado a favorecer as minorias privilegiadas, representado pelo tucano.
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Com a sua experiência, e ao contrário do jornalista antes citado, Wanderley mostra que não há necessidade de que os candidatos fiquem brandindo papéis, com palavras ociosas, já que toda a sociedade sabe o que move cada  um dos projetos apresentados.
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Ao final, o que fica para minha reflexão e indagação é como deixamos a situação econômica e social, principalmente essa última, ter chegado a tal ponto de provocar uma tal fratura na nossa sociedade, incapaz de fechar apenas pelo nosso desejo de continuar simulando que vivemos numa sociedade justa, igualitária, democrática e de oportunidade iguais para todos.
Todos nós, que temos um mínimo de bom senso e compreensão, e que não estamos apenas preocupados em correr atrás de nossas vitórias e conquistas pessoais, ou na manutenção das nossas conquistas egoísticas, por mais que tenhamos nos esforçado e dado o melhor de nós para as conseguirmos, sabemos que esse nosso esforço só pode ser coroado de êxito por causa de tantos a que, mesmo sem perceber, fomos explorando e mantendo em situação de degradação.
As oportunidades que nós tivemos e  lhes foram negadas: essa a explicação para que tivéssemos sucesso e vitórias e glórias,
Que se tornam vitórias de Pirro, caso não sejam passíveis de serem compartilhadas, divididas com aqueles que nos cercam. Como tem mostrado as queixas de tantos que se acham possuidores de mais méritos, e que tanto reclamam da violência que não lhes deixa serem o que nunca se preocuparam em ser quando apenas procuravam suas conquistar suas vantagens: seres sociais.
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Nada como um dia depois do outro.
E uma eleição, para que possamos despertar de nossos sonhos embalados em berço esplêndido, e alicerçados na manjedoura mais simples, em chão de terra, onde nossos irmãos disputam a sobrevivência de maneira mais dolorosa.

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