Curioso, e talvez nem um pouco estranho, que os debates entre os candidatos nas redes de televisão acabam se transformando e parecendo cada vez mais como uma partida de futebol e deixando de lado sua principal justificativa: a discussão de propostas.
E quanto digo discussão de propostas, estou me referindo a um candidato escolher um tema, mostrar o que sua equipe identificou como principal problema relativo ao tema (um diagnóstico), mostrar as soluções alternativas debatidas para solucionar o problema, a sua escolha e os passos necessários para implementar tal proposta. Ao final, deveria apresentar alguma informação de quanto custaria a adoção de sua sugestão e de onde viriam os recursos para ´viabilizar sua proposta, tirando-a do papel e colocando-a em prática.
Fantasia? Também concordo com quem classifica de uma quimera um debate desse tipo. Mas esse debate sim, ajudaria ao eleitor se decidir por um projeto de políticas, de país e até de vida.
E seria muito mais esclarecedor, principalmente, por obrigar o candidato a definir suas prioridades e mostrar o grau de seriedade envolvido na resolução do problema.
Ao final e ao cabo, permitiria que se delineasse, com clareza quem seriam os beneficiários, a quem as medidas trariam vantagens e quem deveria bancar a tal solução.
Enfim, para quem o candidato estaria disposto a governar, e que forças sociais ele procuraria aglutinar.
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Do outro lado, em cima do tema escolhido, o outro candidato iria mostrar o que considera ter sido deixado de lado, ou as falhas percebidas na proposta, discutindo à luz de seus eleitores e forças de apoio, quais as propostas seriam de fato as melhores, ou até se haveria outras alternativas, e fazendo considerações desde a questão das opções preferenciais de público alvo da proposta do adversário, até das dificuldades de implantação, questões relacionadas à falta de viabilidade técnica ou mesmo financeira.
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Exemplificando, com o debate realizado ontem pela rede Bandeirantes, Aécio mostrou ter entre seus objetivos, o de criar um programa que facilitasse o acesso à educação integral para crianças de 4 anos ou menos, e falou também em resgatar alguns milhões de brasileiros que abandonaram os estudos, antes de sua conclusão.
Ou em outro exemplo, falou em criar o programa um programa de poupança jovem, algo semelhante.
Muito bem, até então, o que se viu foi uma promessa, uma intenção.
Não vamos aqui questionar se uma boa intenção ou não. Mas, sem dizer, até por não ter tempo para tal, dado o formato do debate, quantas crianças seriam assistidas, de que forma faria essa inclusão na integralidade da educação, fornecendo que tipo de conteúdo para as crianças, em que prédios, com que professores, habilitados de que forma, ou a que custo, em que regiões. Sem dizer como aproveitaria de cada localidade ou região as suas vantagens e habilidades locais; sem dizer de onde cortaria gastos para poder financiar tais ideias, ou se ampliaria a tributação, etc, o que ele disse fica na base da torcida gritando na arquibancada: Eu acredito!
Só que não. Talvez fosse mais fácil gritar o seu oposto: eu não acredito.
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Citei Aécio, mas o mesmo vale para a presidenta Dilma, fosse outro o formato do debate.
Mas, o que se vê ou se viu é que a torcida - nós povo ou nós eleitores, ficamos sem informação alguma concreta, prática, participando do espetáculo deprimente do ponto de vista de sua contribuição para a formação política do país "a la Datena", como se estivéssemos em um jogo de futebol. De categoria duvidosa.
Em seu Brasil Urgente, o apresentador Datena, que não tem a função ou finalidade de educar e permitir a melhoria da formação ou educação de seus espectadores, e por esse mesmo motivo, abusa da liberdade de promover a deseducação, falava que queria ver algo que de forma exagerada poderia ser "sangue".
Quero ver bate-boca, discussão, ou algo parecido, afirmava ele.
E em que isso contribui para que escolhemos em quem votar de forma consciente?
Nada.
Por isso, os debates estão no nível em que estão. E na opinião da torcida afoita, ganha o debate, sai melhor o candidato que bater mais em seu adversário. Por isso, as propostas são todas vazias.
Aliás, justiça seja feita, Aécio se especializou na formulação de milhares de promessas, todas baseadas em declarações de intenções sem qualquer maior profundidade.
Vou manter a política do salário mínimo, vamos dar transparência aos bancos públicos, vamos manter o programa bolsa família e ampliá-lo. Vamos gerar investimentos....gerar empregos.
Quantos empregos? Qual o nível de investimentos pretendidos? Ou ele quer, mas sabendo que essa decisão depende menos da intenção dos governantes e mais do lado dos empresários, será que ele já combinou com o outro lado?
Vazio, oco, tolo e pueril, ou no plural, algumas de suas propostas.
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Mas isso pouco importa. No debate, importa que ele acusou mais uma vez Dilma de não ter sido quem demitiu Paulo Costa da Petrobras. Importa que ele saiu com um elogio na Ata, o que é praxe em todas essas formalidades. Apesar dos mal-feitos, ele ainda deu alguma contribuição, sempre positiva. Curioso, que no Conselho da Petrobras que aprovou tal Ata têm assento alguns dos mais comemorados e respeitados empresários nacionais...
Ou importa que Dilma conseguiu rebater, pela primeira vez com serenidade, citando alguns dos casos em que o partido do candidato esteve envolvido. "Eu fiz, me indignei e todos estão presos." E no caso do seu partido: todos estão soltos...
Aécio nada pode responder, exceto levantando o nível de agressividade para chamar de leviana a presidenta.
Tão somente por ela ter falado do aeroperto (dos amigos e familiares) de Cláudio. Aécio nem tratou da outra acusação de outro aeroporto que recebeu melhorias para que o ex-governador mineiro delas se aproveitasse.
Ora, no caso de Cláudio, embora o Ministério Público não viu motivos para instaurar procedimento criminal contra Aécio, sabe-se que não o fez por não ser de sua alçada o que julgou irregular. E, apenas por isso, devolveu à instância estadual a análise do que considerou ter havido: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
Poucos sabem disso, porque a midia não teve interesse em divulgar, ao menos em seu inteiro teor a decisão: para ela bastava a primeira parte, que inocentava o escorregadio político mineiro.
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Para não deixar Aécio sem resposta, por duas vezes, em outras oportunidades, Dilma chamou Aécio de leviano ou de estar sendo leviano, empatando o jogo em 2 acusações de leviandade para cada lado.
E, nas poltronas de casa, a torcida fez um UHHHHHH, como na arquibancada.
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Muito ruim o debate. Ou melhor, o duelo.
E Dilma mais tranquila, inclusive levando Aécio a, em determinado momento, falar que a presidenta se muniu de estatísticas, dando á discussão um caráter menos passional, talvez.
Em certos momentos Dilma fazia cara de paisagem ou de quem está incomodada pelo filho do chefe: louca de vontade para dar uma espinafrada ou para dar uma palmada, que ela até acabou dando, por duas vezes, no microfone à sua frente.
Muito engraçada a sua fisionomia de enfado.
Já Aécio, que começou como o galã, o rapazinho bem comportado, foi perdendo sua calma. Em dado momento, pareceu que ia fazer birra.
Bem diferente de um Paulo Maluf, em quem parece estar se mirando: só que Maluf, ao ser questionado sobre qualquer assunto, é ensaboado o suficiente para não se apertar, e responder o que ele deseja. Tipo assim: quem você acha que se classifica hoje, o Atlético ou o Corínthians? E ele: você pode perguntar a qualquer pessoa em São Paulo, se quando fui governador, sua vida não estava melhor, se as obras que fiz na cidade não melhoraram sua volta para casa, economizando tempo precioso que ele ficava preso nos engarrafamentos, etc....
Ora, para ser vaselina, tem que ser muito mais que um mero aspirante à se tornar mais um dos que se arriscam a, no futuro, se tornar um integrante da turma do 171. E nesse quesito, embora já bastante desenvolvido, Aécio ainda engatinha. Aliás, nem dá muita demonstração de que tem tanta capacidade assim.
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Ao final do debate, focalizado em close pela câmara, pude perceber pelo gestual um Aécio mais apreensivo, torcendo e mordendo os lábios, bem diferente daquele que chegou ao estúdio da Band.
Também percebi que ele contorceu as mãos, o que permite uma leitura de que ele estava se cobrando um desempenho melhor.
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Mas uma dúvida me assaltou, e não apenas a mim, ao longo dos hora e vinte de debate: porque Aécio tanto olhava para um ponto do auditório, não focalizado? Porque em alguns instantes parecia que alguém lhe soprava daquele lado, em que estava sentada a claque do PSDB, alguma resposta, a ponto de em um momento ele ter esboçado um sorriso, e embora a pergunta não tratasse do tema, ter sido lembrado de falar de Armínio, e que a candidata Dilma parecia estar enxergando nele o ex-presidente FHC.
Aí fiquei me perguntando: se não dá para a platéia gritar ou passar cola, já que o som seria captado pelos microfones, seriam sinais que estariam sendo feitos?
Ou os candidatos já se modernizaram a ponto de também usarem ponto eletrônico, como o fazem os jornalistas, apresentadores e artistas?
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Bem, ontem, ambos mostraram que são sim, uns artistas. Alguns de formação prática, outros de frequência a algum curso de formação de atores para teatro.
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Quem ganhou o debate?
Em minha opinião, para o eleitor de Aécio, o político mineiro.
Na opinião do eleitor de Dilma a presidenta.
Na opinião dos indecisos, como diria o Zé Simão da Folha de São Paulo, quem foi dormir.
Não sei se o Datena gostou do que viu. Não rolou sangue e ele não poderá explorar a imagem em seu noticioso da tevê.
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Debates assim dão audiência para a rede que os promovem. E acho que é só quem ganha de fato.
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Dia do Professor
Com tanto desserviço à causa da educação prestado, inclusive por nossas televisões, que não precisariam de fugir do entretenimento, desde que levassem a sério sua função de UTILIDADE PÚBLICA de bem informar, de elevar o nível cultural da população, e de dar informação completa de qualidade fica cada vez mais difícil e árduo o papel do Professor.
Fica cada vez mais difícil criar em sala de aula, um ambiente em que o primeiro objetivo seja o de criar uma visão crítica, uma consciência para o aluno, de si próprio, de sua presença no mundo e de sua realidade. E de como ele pode explorar tal realidade. Aprender e vivenciar experiências com sua vida, no que ela tem de mais trivial. E de aproveitar para estimular a imaginação e a importância e o sentido da descoberta.
Em relação aos colegas que trabalham em cursos com jovens adolescentes e/ou adultos, em faculdades, fica cada vez mais difícil quebrar a desinformação, a alienação, para revelar a cada um não a verdade absoluta (que existe sim, mas é individual, de cada um, e forjada ao longo de toda sua vida!) mas facetas distintas de uma realidade que sempre insiste em ser parcial, moldada por visões de mundo e de vida distintos.
Parabéns aos professores, nesse dia. E que tenham Fé em que seu trabalho de semeadura, mesmo em época de falta de chuvas e de seca, possa encontrar terra fértil para germinar. E contribuir para a construção de um Brasil melhor. De um mundo melhor.
Galão hoje
Difícil, muito difícil, vencer um time como o Corínthians, que joga mais retrancado que time de interior, em especial pelo placar de três gols de diferença. Mercê da bobagem que possibilitou ao Atlético levar dois gols do time paulista, para quem um a zero já é grande goleada.
Mas, não é impossível, convenhamos.
E quem viu Victor pegando um pênalte no último minuto já dos descontos. E quem virou placares contra times como o Olímpia, pode acreditar. Pelo menos em levar a decisão para as penalidades.
O que viria apenas confirmar a mística de o Galo ser o time que mais faz sofrer a sua apaixonada torcida.
É isso, Galo:
Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá (Gilberto Gil)
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